Dora Kramer
Se o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Félix, acha que a destruição parcial da plantação de laranjas da Cutrale em fazenda invadida é um “excesso” igual a tantos outros do MST, as declarações em tom de indignação conselheira por parte do ministro da Reforma Agrária e do presidente do Incra foram até contundentes.
Pela ótica do governo federal – traduzida na manifestação do general e materializada na mobilização da “base” no Parlamento para impedir a investigação de repasses de dinheiro ao MST –, a percepção do ministro da Justiça para o problema está perfeitamente dentro dos conformes.
No último mês de março, quando quatro empregados de uma fazenda em Pernambuco foram assassinados em confrontos com sem-terra, Tarso Genro atribuiu o episódio às “táticas arrojadas” do MST.
Entre um “arrojo” e um “excesso”, temos a expressão “ação grotesca” empregada pelo ministro Guilherme Cassel para definir as imagens do trator derrubando o laranjal, e a avaliação de Rolf Hackbart, do Incra: “Isso não contribui para resolver os conflitos nem colabora com o processo de reforma agrária.”
É de se perguntar às quatro autoridades e a tantas outras que mantêm o financiamento público ao MST, além daquela autoridade maior que tudo vê e tudo corrobora, o que seria feito de um cidadão comum – ou mesmo de uma pessoa incomum, como o senador José Sarney, por exemplo – que entrasse com um trator em terras produtivas derrubando toda a produção.
Isso para não falarmos da rotina de vandalismo, que já inclui até a invasão das dependências do Congresso Nacional. Sim, o que seria feito do invasor? Preso e, na melhor das hipóteses, declarado maluco.
Pois ao MST é dado o benefício das palavras amenas, das críticas construtivas – como as do presidente do Incra, ao molde de aconselhamento sobre o que é “melhor” para o movimento – e da licença para barbarizar a tudo e a todos impunemente.
Aos cumpridores da lei resta o malefício de ouvir impotentes à cínica declaração da meliante travestida de militante a dizer na televisão que a derrubada do laranjal se destinava a abrir espaço para o plantio de feijão. “Não se vive só de laranja”, zombou a bandida, de costas para a legalidade e de mãos dadas com as autoridades federais que se recusam a cumprir a Constituição no preceito da garantia à propriedade.
E ainda sustentam os bandoleiros com o dinheiro suado dos impostos pagos pela sociedade, enquanto se comemoram os maravilhosos feitos brasileiros em sua trajetória rumo ao Primeiro Mundo. Onde podem até ser aceitas, mas costumam ser condenadas as transgressões financiadas e abrigadas pelo aparelho de Estado.
Adaptação
Em setembro, quando teve a ideia de dar um ultimato no PT para que antecipe da decisão sobre a oferta da vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff, o PMDB dava como prazo final o mês de outubro para a resposta.
Em outubro, a data fatal foi remarcada para novembro sem que o PT acenasse com nenhuma garantia de que até lá vá tomar a decisão exigida pelo parceiro. Ao contrário. Depois da filiação do deputado Ciro Gomes (principal motivo da pressa dos pemedebistas) à seção paulista da Justiça Eleitoral, as questões presidenciais continuam mais em aberto do que nunca.
E assim permanecerão de fato até os primeiros acordes da sinfonia de 2010.
Passo a passo
Tudo faz parte do mesmo jogo de cena: tanto a história de que o presidente Lula poderia ter alguma ingerência na desistência ou na manutenção da candidatura do governador José Serra à Presidência da República, quanto a versão de que o PSDB faz pesada pressão sobre o governador Aécio Neves para que aceite formar com o colega de São Paulo uma chapa presidencial puro-sangue.
Sobre a primeira, Lula é forte, mas não é absoluto. Nem no próprio partido. Quando à segunda cena, o PSDB – escaldado – desta vez é estratégia pura. Não se emociona nem pressiona. Apenas administra a liberação do roteiro ao público em capítulos
Corrente pra frente
A tese do presidente Lula de que o Brasil não deve se preocupar com o que será gasto, mas com o que será ganho na Olimpíada de 2016, porque qualquer que precise ser o “investimento” o resultado vale a pena, parte, como sempre, do velho princípio, digamos, troglodita: os fins justificam os meios.
Por ele, ninguém foi importunado pelo fato de o gasto com o Pan em 2008 ter ficado na casa dos R$ 4 bilhões, quando o planejamento previa despesa de R$ 400 milhões. Nem por força de dispositivos previstos no Código Penal – corrupção, para sermos explícitos –, nem pela falta de qualidade técnica dos planejadores.
Fonte: Gazeta do Povo
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