Foto: Ricardo Stuckert/PR/Arquivo
O presidente Lula (PT)16 de fevereiro de 2025 | 09:20Atraso no Orçamento pode ‘limar’ chances de Lula em 2026, alertam aliados
A crise das emendas parlamentares, que travou o Orçamento de 2025 – por ora sem previsão para ser votado, enquanto não houver entendimento com o Supremo Tribunal Federal (STF), pode ter impacto direto nas eleições de 2026, avalia a base aliada no Congresso. Lideranças políticas que conversaram com a Coluna do Estadão dizem que o impasse entre os Poderes tem potencial para “limar” as chances de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O cálculo é simples: a gestão petista precisa fazer entregas neste ano para tentar conquistar o eleitorado, mas a demora em aprovar a peça orçamentária atrasará obras e implantação de serviços que poderiam entrar “na conta” de Lula no momento em que ele vê a popularidade do governo despencar. O alerta ganhou força após pesquisa da AtlasIntel, divulgada nesta semana, mostrar Lula em empate técnico com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) na simulação de segundo turno. Para piorar o cenário, o Datafolha divulgado na sexta-feira, 14, apontou a pior avaliação do governo Lula em suas três gestões, 24%. E reprovação recorde, também, 41%.
Líderes governistas avaliam que o Palácio do Planalto, mais do que nunca, precisará atuar junto ao Supremo para que se chegue a um acordo sobre a liberação das emendas. Boa parte dos recursos está congelada por decisão do ministro Flávio Dino, que exige transparência do Congresso na destinação do dinheiro.
A dor de cabeça pela falta de aprovação do Orçamento é generalizada entre parlamentares. Deputados e senadores ficaram constrangidos nos últimos dias ao receberem em Brasília os prefeitos eleitos em outubro sem poder dar o mínimo de previsibilidade sobre verbas de emendas para os municípios. Os prefeitos atuam como cabos eleitorais nas corridas presidenciais, e a insegurança sobre o andamento dos projetos é outro problema para Lula, em relação ao empenho que os aliados vão demonstrar nos municípios no pleito de 2026.
A peça orçamentária só vai avançar após os novos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), conversarem com o STF sobre as emendas, o que deve ocorrer no dia 27, na véspera do Carnaval. Segundo integrantes do Centrão, aprovar o Orçamento sem um acordo entre o Legislativo e a Corte é fazer um “voo no escuro sem GPS”.
“Os prefeitos têm demonstrado gratidão pelos recursos que já chegaram, mas há um alerta preocupante. As prefeituras estão começando sentir falta dos recursos da saúde e isso pode comprometer o funcionamento de serviços essenciais”, disse o presidente da Comissão Mista do Orçamento, deputado Júlio Arcoverde (PP-PI).
Arcoverde espera a audiência de conciliação entre governo, Congresso e STF. O encontro será decisivo para resolver o impasse. “É contraproducente aprovarmos o relatório da Lei Orçamentária Anual sem a decisão final do STF sobre as emendas. Precisamos de segurança jurídica para garantir um orçamento sólido e responsável. Entendo as dificuldades enfrentadas pelos prefeitos”, afirmou o deputado.
O relatório do Orçamento 2025 está 70% concluído, segundo ele. Mas os ajustes finais dependerão do desfecho das negociações entre os poderes.
Iander Porcella/Roseann Kennedy/EstadãoPoliticaLivre