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sábado, setembro 24, 2022

Nos EUA e no Brasil, os extremistas de direita ameaçam o futuro político da direita moderada


Charge do Senna (O Imparcial)

Oliver Stuenkel
Estadão

O que um senador republicano de Kentucky, nos EUA, e um candidato a governador de São Paulo, no Brasil, podem ter em comum? Ambos enfrentam um dilema. Mitch McConnell lá e Tarcísio de Freitas aqui abraçam, neste ano, a retórica de uma direita moderada em meio às campanhas eleitorais de seus respectivos partidos, mas, ao mesmo tempo, tiram proveito da ascensão ao poder, nos EUA em 2016 e no Brasil em 2018, de candidatos populistas de extrema-direita.

Nos EUA, a associação com o radicalismo de Donald Trump, que rendeu polpudos frutos poucos anos atrás, tornou-se agora uma preocupação real: há alguns meses, analistas davam como certo que os Republicanos triunfariam nos midterms americanos em novembro próximo, conduzindo Mitch McConnell de volta à cadeira de líder da maioria republicana.

TIRO PELA CULATRA – Mas a radicalização do Partido Republicano e a decisão da Suprema Corte dos EUA de derrubar a lei Roe vs. Wade (que garantia o direito ao aborto nos EUA) revelaram-se como um tiro pela culatra e acabaram dando gás à campanha dos Democratas.

As numerosas vitórias de candidatos radicais nas primárias republicanas contribuíram para que os democratas agora tenham chance real de manter a maioria no Senado e na Câmara dos Representantes.

Aqui no Brasil, Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem um problema semelhante: o ex-ministro do governo Bolsonaro, que gosta de falar das “obras do Tarcísio” e se apresenta como técnico sensato, optou por aliar-se a quadros como seu correligionário Douglas Garcia, cuja recente agressão contra a jornalista Vera Magalhães fez as redes bolsonaristas vibrarem, mas afastou do eleitorado moderado o candidato.

MAIS PROBLEMAS – Da mesma forma, a aliança entre Tarcísio e radicais como o candidato a deputado federal Frederico d’Ávila, conhecido por xingar o Papa Francisco de “vagabundo”, prejudica os esforços de atrair os centristas.

As tentativas de controlar os radicais expõem o risco do embate entre a extrema-direita e a direita moderada: quando Tarcísio repudiou, nas redes sociais, a agressão de Garcia contra a jornalista, foi chamado de traidor por grupos bolsonaristas que bebem, há anos, da fonte do radicalismo antidemocrático.

Do mesmo modo, Mitch McConnell tornou-se alvo de trumpistas radicais quando ousou reconhecer, em janeiro de 2021, a vitória de Biden nas eleições e parabenizou-o pela conquista, postura hoje inaceitável em seu partido. Trump xingou McConnell de “saco desprezível de deslealdade.”

DILEMA DE TARCÍSIO – As dificuldades de Mitch McConnell dão uma ideia do dilema que Tarcísio de Freitas pode chegar a encarar em outubro, quando pelo menos uma ala do bolsonarismo – e parte dos seus eleitores – se recusar a reconhecer o resultado das eleições presidenciais, caso Bolsonaro as perca.

Na hipótese de Tarcísio se eleger governador, e Bolsonaro perder nas urnas e questionar o resultado, uma ruptura entre eles é quase inevitável: de olho nas eleições presidenciais de 2026, Tarcísio não terá por que apoiar a narrativa bolsonarista de fraude eleitoral.

A aposta de McConnell e de Freitas ainda pode vingar, mas ambos estão brincando com fogo. Se Trump voltar à Casa Branca em 2024, McConnell deve ser uma de suas primeiras “vítimas”. Algo semelhante pode ocorrer no Brasil caso um bolsonarista ou o próprio Bolsonaro retorne ao poder em janeiro de 2027.


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