Jorge Béja
Na edição desta terça-feira (24/12) véspera do Natal/2019, a Tribuna da Internet publicou artigo de Antonio Rocha intitulado “Cristo chamava a “Lei do Retorno” de “Lei da Ação e da Reação”. Você sabia?”. Nele, em apertada mas eloquente síntese, uma reflexão sobre a Lei do Carma, segundo a qual, o que se fez de bom ou de mau, segundos atrás ou em vidas passadas, a resposta está sempre registrada e por cada um de nós será sentida. Numa linguagem popular: aqui se faz, aqui se paga.
E na edição desta quarta-feira (25/12), Dia do Natal de Jesus, é nosso editor, jornalista Carlos Newton, que nos brinda com mais um de seus monumentais artigos. O de hoje, 25, tem o título “Num grande avanço, a Igreja Católica já admite a mediunidade e a reencarnação”.
DOIS ILUMINADOS – Após a leitura dos dois artigos, tive meu pensamento voltado para dois iluminados da Humanidade, que foram o português Antonio de Pádua (Santo Antonio, 1195-1231) e o italiano Giovanni Melchior Bosco (Dom Bosco, 1815-1888).
Dois videntes inatos. Dois sensitivos. Dois paranormais. Ambos também dotados do poder da bilocação, que o esoterismo (sim, com “s”) denomina de “Projeção do Corpo Astral”.
Deles sou devoto, neles pensei, e a eles orei. Mas é sobre Dom Bosco que escrevo. Bem conheço sua biografia. Tanto a manuscrita pelo próprio santo, que se encontra à mostra e visitação na casa-mãe da Congregação Salesiana, em Roma, ordem religiosa que o próprio Dom Bosco fundou, quanto as dezenas e outras escritas por seus múltiplos biógrafos.
FENÔMENO NATURAL – Em Dom Bosco a vidência lhe era um fenômeno natural. Tudo, rigorosamente tudo que estava para acontecer, no futuro próximo ou remoto, a ele era revelado em sonhos. Assim aconteceu com Brasília, vista, localizada e descrita num sonho em 1883. É por isso que Dom Bosco é o co-padroeiro de Brasília, ao lado de Nossa Senhora Aparecida.
Dos incontáveis sonhos premonitórios de Dom Bosco, aqui vai relembrado um deles. E que sirva de norte, de conduta, de modo (ou transformação) de vida para todos aqueles que estão em posição de ascendência, de superioridade – ainda que ocasional e passageira – em relação ao próximo, que daqueles depende.
E naquela categoria estão governantes e governados, eleitos e eleitores, magistrados e seus jurisdicionados, médicos, dentistas (todos, enfim, que integram a área da saúde) e seus pacientes, seus enfermos. E ainda: dirigentes e dirigidos, comandantes e comandados, monarcas e súditos, ricos e pobres…
FALTA SOLIDARIEDADE – Sim, porque no Brasil e no mundo de hoje, são raros os gestos e atitudes de solidariedade, de carinho, de respeito à dignidade alheia… Vive-se numa sociedade de confronto, de conflito, de desprezo para com os comezinhos direitos do outro, dos outros, da coletividade. Hoje é cada um por si. Hoje tudo é mercantilizado.
Fraternidade e carinho passaram a ser raros. Tolerância e piedade não são mais praticadas. Mas cuidado! Muito cuidado! A Lei do Carma é implacável, inexorável. Ela cobra e pune. Vamos ao sonho-vidência de Dom Bosco.
UM PROJETO DE LEI – Numa Itália dividida em reinos, em outubro de 1852, Camilo Cavour passou a ocupar o cargo de Primeiro-Ministro do Piemonte. O Rei era Vitor Manuel II, que detinha poderes plenipotenciários e irrecorríveis. Foi quando, em 1854, foi levado ao parlamento o projeto de lei do ministro Urbano Rattazzi e que propunha a dissolução das ordens religiosas contemplativas e o confisco de todos os seus bens.
E numa noite gélida de dezembro de 1854 Dom Bosco viu chegar um mensageiro da Corte, vestido de vermelho, anunciando: “Grande funeral na Corte!. Grande funeral na Corte!”. Ao acordar, Dom Bosco escreve ao Rei. Conta o sonho e pede que ao monarca que vete o projeto, já aprovado pela Câmara (94 votos contra 23) e no Senado (53 contra 42). Cinco dias depois, o sonho se repete. O valete vermelho entra no pátio a cavalo e grita: “Anuncie: não um grande funeral na Corte, mas grandes funerais na Corte!”.
SEGUNDA CARTA – Ao amanhecer, Dom Bosco escreve uma segunda carta do Rei. Conta-lhe este segundo sonho e sugere que “tome providências para esquivar-se dos castigos ameaçados, enquanto volta a lhe pedir que impeça a todo custo aquela lei”. Mas o Rei não atendeu. E aprovou a lei. E 334 casas religiosas que abrigavam 5.456 membros, foram fechadas e seus bens confiscados. Todos ficaram ao desamparo. Viraram mendigos. Passaram a viver nas ruas.
Como é grande e imensa a responsabilidade dos que se encontram acima de nós, e nós na dependência deles. Então, a resposta não tardou. Em 5 de janeiro de 1855, a rainha-mãe Maria Teresa adoece gravemente. E morre em 12 de janeiro. Tem 54 anos de idade. Seus restos mortais são transportados para a cripta dos Sabóias, em Superga, no dia 16.
E veio o 20 de janeiro. Morre, com apenas 33 anos, Maria Adelaide, esposa do Rei, que doze dias antes dera à luz um menino e não mais se recuperara. Veio o 11 de fevereiro. Após vinte dias enfermo, morre o irmão do Rei, príncipe Fernando de Sabóia, duque de Gênova, de 33 anos.
E VEM O REI… – “Apavorado por ver realizar-se, de modo imediato e fulminante, as profecias de Dom Bosco” – escreve o Padre Lemoyne, secretário de Dom Bosco –, nem mesmo em tempo de pestilência se haviam aberto três tumbas reais no espaço de um só mês”. E o Rei então desce à cidade de Valdocco duas vezes para se encontrar com Dom Bosco. O santo não recebeu o monarca. Mas tinha mais: em 17 de maio seguinte também morre o último filho do Rei, Vitor Manuel Leopoldo, com apenas quatro meses.
“Infelizmente, santo ou bruxo (“segundo o prisma por que se olhasse, Dom Bosco previa certo”), conclui o escritor, jornalista e sacerdote salesiano Terésio Bosco na obra que escreveu “Dom Bosco, uma biografia nova” (Editora Salesiana Dom Bosco, São Paulo, 1995, páginas 315/316).
O INSTRUMENTO – Felizmente – digo eu –, Dom Bosco foi o instrumento, o vidente, o médium que o mistério da existência humana contemplou para nos transmitir a mensagem que devemos todos acolher, cuidar e amar nosso semelhante. Se assim não for, paga-se logo, ou noutro momento, caro preço pelo desprezo.
Para finalizar: como é profundo e sábio o lema da organização Médicos Sem Fronteiras: “Podemos ser insensíveis, egoístas…podemos ser cruéis…mas só quem pode salvar a vida de um ser humano é outro ser humano”. A todos aqueles – e a outros mais não indicados – que foram aqui relacionados por ostentar condição e posição de “superioridade” em relação aos de “inferioridade”, de dependência, que eles acordem. Que mudem o modo de agir. Abandonem as vaidades, o desprezo, a arrogância, a ostentação, a prepotência, enquanto ainda há tempo.