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quinta-feira, abril 21, 2011

Se for se candidatar, não beba

“Com menos de cem deputados e tendo o candidato à Presidência com a habilitação tomada, a oposição vai mal na corrida. Dilma, certamente, dá risada”


Matéria da minha amiga Maria Lima publicada na edição do Globo de ontem (19) crava o número do drama: apenas 96 deputados. Com o estrago feito pela chegada do PSD, o estranho partido criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, cuja ideologia pode ser resumida pelo lema: “Estamos aí pra qualquer coisa”, a oposição brasileira ao governo Dilma Rousseff vai se resumir a 96 deputados, num universo de 513. Nem interessa a essa altura discutir se Dilma vai bem, vai mal, se governa de forma acertada ou se está perdendo o domínio da inflação. Dilma pode ir do jeito que quiser. Porque, pelo menos agora, não há alternativa.

É incrível e difícil de entender como políticos tarimbados, experientes, que durante anos tiveram o poder nas mãos e foram eleitoralmente imbatíveis, como Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Marco Maciel, José Agripino Maia, César Maia, etc, deixaram a situação chegar a esse ponto. Impressionante como a vitória de Dilma, anunciada como probabilidade mais do que concreta meses antes pelas pesquisas, tenha sido capaz de provocar tal desagregação, tal desalento. Talvez a única explicação seja mesmo a que os opositores que restam jamais vão admitir publicamente: no atacado, Lula fez um bom governo, e fica impossível atacar ou apresentar alternativas a um bom governo.

A única possibilidade concreta de ataque ao governo Lula dizia respeito à leniência com a corrupção. A lenga-lenga de que não houve mensalão, a defesa do indefensável, os afagos por conveniência em Fernando Collor, Renan Calheiros, etc. Mas a população elegeu Lula em 2002 porque não aguentava mas a leniência com a corrupção, a defesa do indefensável, os afagos por conveniência em quem não merecia afagos na época de Fernando Henrique, de quem Renan, para ficar só num exemplo, foi ministro da Justiça. Do ponto de vista da ética pública, a era Lula nivelou a política por baixo. Por conta disso, é por isso que por aí a oposição não consegue se oferecer como alternativa.

No vislumbre oposicionista sobre a era Lula, ia ser o contrário: o PT faria um governo sério quanto ao respeito à coisa pública, mas ia se embananar todo no controle da economia e da máquina administrativa. O país ia entrar em crise, e as forças conservadoras voltariam para arrumar a casa. Não foi o que aconteceu. Lula manteve os mesmos parâmetros anteriores de controle da economia. As crises externas nem chegaram aqui. O país cresceu. Chamou a atenção dos investidores. Principalmente porque Lula conseguiu criar uma política social sólida e ampla que fez com que milhares de famílias que eram marginais à economia formal entrassem para a classe média, passassem a ser consumidores, abrissem contas bancárias. Embasbacada, a oposição não conseguiu esboçar reação. Não dava para ser contra. Não havia nada melhor para oferecer como alternativa.

Isso se depreende claramente da entrevista do deputado Irajá Abreu (DEM-TO), filho da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), ao Congresso em Foco. Ao insistir em combater o Bolsa-Família e o arcabouço social do governo Lula, como diz Irajá, “o DEM se distanciou do povo”.

Resta para a oposição agora esperar pelo desgaste natural que todo período longo de governo nas mãos de um único partido ou corrente costuma ter. Para fazer de Dilma sua sucessora, Lula deixou um pouco de lado a prudência econômica e gastou acima do limite recomendável. Com a economia agora um pouco mais desarrumada, ameaçada pela volta da inflação, um desequilíbrio das contas públicas pode deixar Dilma em maus lençóis mais adiante. Aí, é importante a oposição manter sempre a postos seu cavaleiro. Mas, para sorte de Dilma, nem isso a oposição consegue fazer.

No fim de semana, o cavaleiro oposicionista resolveu pegar sua Land Rover e sair por aí com a carteira vencida. Parado numa blitz, recusou-se a fazer o teste do bafômetro. Parafraseando a campanha do Ministério da Saúde, fica o conselho para o senador Aécio Neves: “Se for se candidatar, não beba”.

Como nós até dissemos aqui há duas, Aécio era o que restava politicamente incólume dos cacos oposicionistas. A audiência a seu discurso no Senado era uma demonstração de que todos na oposição começavam a se dar conta de que Aécio era única boia que restava à disposição. Ou era ele ou nada.

Mas não é de hoje que se escutam nos corredores do Congresso frases assim: “Aécio é craque, aprendeu tudo com o avô. Mas essa vida de playboy que ele leva, de solteirão cheio de namoradas nos fins de semana no Rio de Janeiro, pode um dia acabar com ele”. Com menos de cem deputados e tendo o candidato à Presidência com a habilitação tomada, a oposição vai mal na corrida. Dilma, certamente, dá risada.

*É o editor-executivo do Congresso em Foco. Formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília em 1986, Rudolfo Lago atua como jornalista especializado em política desde 1987. Com passagens pelos principais jornais e revistas do país, foi editor de Política do jornal Correio Braziliense, editor-assistente da revista Veja e editor especial da revista IstoÉ, entre outras funções. Vencedor de quatro prêmios de jornalismo, incluindo o Prêmio Esso, em 2000, com equipe do Correio Braziliense, pela série de reportagens que resultaram na cassação do senador Luiz Estevão

Outros textos do colunista Rudolfo Lago*

Fonte: Congressoemfoco

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