Opinião: “Pedra cantada”, afastamento de Adolfo Menezes “promove” Ivana Bastos – que deve agradecer à Coronel
Por Fernando Duarte
O afastamento de Adolfo Menezes (PSD) da presidência da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), ainda que em caráter de liminar monocrática, é o resultado de uma “pedra cantada”, para usar uma expressão bem popular. Tanto que, desde o início da articulação pela PEC que permitiu uma nova reeleição, a primeira vice-presidência passou a ser objeto de desejo entre os parlamentares. Todavia, o fator Hilton Coelho (PSOL) acabou resultado no afastamento muito mais rápido que o esperado.
O ministro Gilmar Mendes jogou o processo para o plenário virtual. A experiência prévia com a Câmara de Vereadores de Salvador mostra que é provável que algum ministro peça destaque e a matéria seja apreciada no plenário da Corte. Ou seja, a liminar que afastou Adolfo — se não for revista pelo próprio relator — dificilmente vai cair nos próximos dias. Sem um presidente para chamar de seu, a Assembleia vai viver entre a incerteza do dia seguinte e um mandato tampão de Ivana Bastos (PSD), que recebeu no colo a gestão do Legislativo baiano.
Há um cenário cujos impactos não são facilmente mensuráveis. Reeleito com 61 dos 62 votos possíveis — Matheus Ferreira faltou à sessão, por isso um voto a menos —, Adolfo tinha praticamente a unanimidade da AL-BA a seu favor. Apenas Hilton, que fora candidato isolado, não seguiu a onda. E veio dele o processo que culminou com o afastamento (falei sobre o fator Hilton Coelho em outra coluna). Finalmente, o deputado do PSOL fez mais do que barulho no parlamento.
Sem a mudança no Regimento Interno para obrigar Ivana Bastos a convocar imediatamente uma nova eleição, é preciso esperar como os parlamentares vão conduzir o futuro a partir de agora. Caso o 1º vice-presidente fosse Rosemberg Pinto (PT), haveria uma intensa mobilização para um novo pleito ser convocado quanto antes. Como a Assembleia se mantém sob o comando do PSD, há certo arrefecimento dessa tensão.
Até porque a figura a criar emoção nesse processo foi o senador Angelo Coronel (PSD), que percebeu a movimentação que deixaria o PT com a AL-BA e, ao mesmo tempo, reduziria as chances dele se manter como candidato ao Senado em 2026. Se não fosse ele, Rosemberg ficaria como 1º vice e empurraria com a barriga a eleição para, enfim, realizar o sonho de ser presidente da Assembleia (ele tenta isso desde a época em que Marcelo Nilo era poderoso). Assim, a mobilização de Coronel não só manteve o PSD com a presidência interina como também fortaleceu as chances de um correligionário vencer a eventual convocação de uma nova eleição.
Ivana, agora como presidente interina da Assembleia, tem motivos para agradecer a Coronel, que, indiretamente, a conduziu para esse posto — e olha que, nem no próprio PSD, ela conseguira um céu de brigadeiro para se lançar para o cargo em 2022. Caso Adolfo não reverta o cenário desfavorável no STF, será que teremos uma mulher a presidir a AL-BA? Ivana e os deputados é quem devem responder…