Publicado em 19 de março de 2024 por Tribuna da Internet
Dora Kramer
Folha
É sempre bom que governos se preocupem com os preços dos alimentos. Ainda que essa preocupação seja despertada pela queda nos índices de popularidade do presidente da República nas pesquisas, como agora quando Luiz Inácio da Silva corre atrás de conter a carestia geral para reduzir o dano pessoal.
Baixou uma ordem para que se preparem medidas simpáticas ao bolso da população. Isso a fim de tentar inverter o cenário de queda na avaliação positiva do governo, registrado por quatro consultas de opinião na semana passada.
FALTA ALGUMA COISA – Tal empenho pode melhorar as coisas, mas não resolve o problema, porque os índices ruins não se devem apenas à questão econômica. Há mais a considerar.
Na perspectiva do Planalto, a culpa toda é da inflação de alimentos aliada à ineficiência de comunicação das boas ações governamentais. É o tema do momento e tem lá sua razão de ser. Afinal, nos primeiros governos de Lula, as pesquisas qualitativas captavam na seguinte resposta, senão o principal um dos maiores, motivos do sucesso de público: “As comidas estão baratas”. A economia só revela parte da história.
Há duas décadas o tempo era risonho e franco. Ambiente internacional favorável, e internamente uma oposição de punhos de renda. Lidar com a meiguice do PSDB — o vilão que lhe deixou uma herança bendita — era muito mais fácil que encarar a ferocidade da direita e seus extremos.
MUITA ONIPOTÊNCIA – O Lula sem filtro sempre houve, mas mudou o grau de tolerância com o personagem que, para piorar, acrescentou ressentimento e adicionou doses cavalares de onipotência ao seu desempenho.
Não se espera de governante algum a expiação pública. Mas nas conversas palacianas privadas, e principalmente nas tratativas do presidente com seu travesseiro, conviria levar em conta a culpa que o Lula 3 cheio de si tem nesse cartório.
Do contrário, ficará prisioneiro das garras do autoengano e não conseguirá mudar o cenário adverso.