Carlos Chagas
Parar, não parou. Pelo contrário movimentou-se como nunca. Fala-se do Senado, quarta-feira, a partir do discurso de Aécio Neves. Na atual Legislatura, uma inovação. Estavam presentes quase todos os senadores, os apartes tomaram mais de quatro horas. Louve-se a tolerância do presidente José Sarney, que descumpriu o regimento e deixou de limitar a presença do colega mineiro aos vinte minutos regulamentares.
Aécio Neves parece ter lido Proust, já que só agora saiu em busca do tempo perdido. Sem dúvida, assumiu a liderança das oposições, num discurso ético, propositivo, firme e educado. Criticou adversários, não inimigos. Não poupou o PT nem a presidente Dilma, mas abriu perspectivas para um dialogo permanente, em termos altos.
A conclusão é de que o ex-governador de Minas acaba de empatar o jogo sucessório, com tanta antecedência praticado no ninho dos tucanos. Até seu pronunciamento, o placar indicava Geraldo Alckmin na frente, depois de haver implantado forte esquema de poder em São Paulo, preparando-se para estendê-lo aos demais estados. Além de maliciosamente ter lançado a candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo. Aécio Neves, a partir de agora, ocupa o mesmo patamar. Resta aguardar a réplica de Serra. Sua presença no plenário, direito concedido a todo ex-senador, faz prever que não demora muito, nesse estranho jogo de três times em campo.
PEGANDO CARONA
Apesar do brilho da sessão de quarta-feira, no Senado, não dá para omitir que no meio dos variados apartes solicitados a Aécio Neves, muitos pareciam inteiramente dispensáveis. Senadores tentaram pegar carona na mensagem do ex-governador, aproveitando para autopromover-se e abordar temas em nada relacionados com o confronto entre oposição e governo. Com todo o respeito, ouviram-se montes de bobagens. Até o programa de renda mínima viu-se incluído nos debates. A situação dos índios na Amazônia, os excessos do agro-negócio, a necessidade de todas as crianças irem para a escola, as cotas para negros e a tentativa de transformação da Petrobrás em Petrobrax ganharam destaque.
Aécio Neves elogiou todos os que o interromperam, mas lá no fundo terá lembrado características parlamentares de Carlos Lacerda, que quando recebia apartes bobos dirigia-se ao aparteante com um contundente “retire-se do meu discurso!”
MERCADO PELA METADE
Parece acorde com as leis do mercado que quando o preço do barril do petróleo aumenta internacionalmente, também aumente entre nós o preço da gasolina. É o que a Petrobrás defende, para os próximos dias. Só que tem um problema: quando o petróleo cai nas bolsas lá fora, a gasolina não cai, aqui dentro. Pelo contrário, preços uma vez elevados não diminuem nunca. Trata-se de vigarice. De usurpação da economia popular. Do reconhecimento de que o mercado prevalece quando funciona a favor. Contra, de jeito nenhum…
GOZAÇÃO
Em Washington, o ex-presidente Lula ridicularizou o novo relatório da Polícia Federal a respeito do mensalão. Disse que se a documentação for incluída no processo, só em 2050 a questão será julgada. A aceitação do novo relatório depende do relator da matéria contra os 40 réus mensaleiros, ministro Joaquim Barbosa, que não terá gostado nem um pouco da observação do Lula. Em especial quando dos corredores do Supremo Tribunal Federal chegam suposições a respeito de que sentenças, mesmo, não são esperadas para este ano. Com certeza 2050 ficará mais próximo…
Fonte: Tribuna da Imprensa