Publicado em 21 de outubro de 2023 por Tribuna da Internet
Paula Soprana, Cristiano Martins e Nicholas Pretto
Folha
Quase metade das mortes de crianças e adolescentes palestinas registradas neste século em conflitos na Faixa de Gaza ocorreu nas duas últimas semanas, durante a guerra entre Israel e Hamas. Foram mortos ao menos 1.524 menores na região no atual confronto, ou 46,7% do total de 3.265 jovens vítimas desde o ano 2000.
O número óbitos de pessoas com menos de 18 anos em 15 dias de guerra é quase três vezes o total de menores mortos no ano com mais vítimas até então. Em 2014, 548 crianças e adolescentes foram vítimas de uma ofensiva de Israel para destruir foguetes e túneis em Gaza. A operação foi uma resposta à prisão de membros do Hamas por Israel na Cisjordânia depois do assassinato de três adolescentes israelenses.
Dados da ONU – A Folha cruzou dados de mortes de menores de 18 anos na Faixa de Gaza, registrados pela B’Tselem, organização israelense de direitos humanos, com as informações de mortes recentes divulgadas pela Ocha, agência das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, que considera estimativas do Ministério da Saúde de Gaza e faz esse mesmo recorte etário.
As duas organizações têm bases historicamente semelhantes e contabilizam vítimas consequentes do confronto bélico na região, mortas por explosões ou armas de fogo.
O boletim da ONU que inclui informações sobre menores, de quinta-feira (19), só traz atualização sobre crianças e jovens palestinos. Das mortes em Gaza, cerca de 40% das vítimas desde o dia 7 de outubro são menores de idade.
E OS ISRAELENSES? – Do lado de Israel, autoridades locais estimam que 20 dos 705 mortos que tiveram os nomes identificados sejam crianças. A maioria morreu na ofensiva do Hamas a Israel há 15 dias.
Ao todo, o confronto tirou a vida de aproximadamente 5.800 pessoas, sendo 1.400 israelenses, e 4.449 palestinos, de acordo com autoridades locais.
A proporção de mortes palestinas é historicamente maior do que a de israelenses no confronto entre as duas partes. De 2000 até o início da atual guerra, foram 145 crianças e adolescentes israelenses mortos, sendo 90 em Israel, 51 na Cisjordânia e 4 em Gaza, de acordo com a B’Tselem. No mesmo período, são 2.290 menores palestinos mortos, sendo 1.741 em Gaza, 537 na Cisjordânia e 12 em Israel.
PREOCUPAÇÃO DO BRASIL – A morte de crianças foi uma das preocupações expressas na resolução proposta pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Com 12 votos favoráveis de 15 possíveis, o texto só não passou porque recebeu veto dos Estados Unidos, que destacaram o direito de Israel se defender.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a mencionar as mortes de menores na sexta, em pronunciamento por vídeo, quando também classificou o ataque de Hamas de terrorista pela primeira vez.
“Hoje quando o programa [Bolsa Família] completa 20 anos, fico lembrando que 1.500 crianças já morreram na Faixa de Gaza. Que não pediram para o Hamas fazer ato de loucura que fez, de terrorismo, atacando Israel, mas também não pediram que Israel reagisse de forma insana e as matasse. Exatamente aqueles que não têm nada a ver com a guerra, que só querem viver, brincar, que não tiveram direito de ser crianças”, disse no vídeo.
###
A EXPLICAÇÃO É SIMPLES – Metade da população da Faixa de Gaza tem menos de 17 anos. Por isso há esse número enorme de crianças e adolescentes vitimados pelos bombardeios de Israel. É um banho de sangue, conforme afirmamos aqui na Tribuna. Não são os terroristas que estão sendo mortos, mas os palestinos, especialmente crianças e adolescentes, que não têm nada a ver com guerras de gente grande. (C.N.)