Publicado em 3 de agosto de 2023 por Tribuna da Internet
Bruno Boghossian
Folha
A gana bolsonarista por um golpe pode ser medida pelo número de vezes em que a turma acionou o hacker Walter Delgatti na reta final da eleição. Ele teria recebido quatro missões para tumultuar a campanha, atacar a credibilidade do TSE e abrir caminhos para melar a votação.
A convocação do hacker foi uma daquelas ideias ambiciosas de quem tem teorias da conspiração nas veias. Ao conhecer Delgatti em setembro de 2022, a deputada Carla Zambelli perguntou se ele conseguiria invadir as urnas eletrônicas para provar uma suposta vulnerabilidade.
DUAS MISSÕES – No encontro, de acordo com o depoimento do hacker à Polícia Federal, a parlamentar fez um segundo pedido. Se não fosse possível invadir as urnas, ele poderia usar sua experiência na Vaza Jato para acessar o celular de Alexandre de Moraes e roubar mensagens que comprometeriam o presidente do TSE.
A prova de que o plano era levado a sério veio quando Delgatti foi chamado ao Palácio da Alvorada para uma reunião com Jair Bolsonaro. Lá, o presidente teria repetido a encomenda da invasão das urnas.
O hacker não conseguiu executar a tarefa, mas entregou outro produto. Ele contou à PF que, a pedido de Zambelli, invadiu um sistema para criar um mandado de prisão fajuto contra Moraes. Parece maluquice, mas há gente que chorou de alegria nas ruas de Brasília com a notícia falsa de um estado de sítio em 2021.
DIZ O ADVOGADO – Além de ir à casa de Bolsonaro, o hacker também pode ter participado de reuniões no Ministério da Defesa. O advogado de Delgatti disse à GloboNews que seu cliente contribuiu com questionamentos feitos pelos militares ao TSE sobre as urnas.
As maquinações golpistas eram comuns porque os bolsonaristas provavelmente sabiam que perderiam a eleição, pensavam que era possível virar a mesa e acreditavam que não seriam punidos.
Se tivessem dedicado tanta energia a ganhar no voto, talvez também tivessem fracassado, dada a baixa qualidade dos personagens, mas ao menos correriam um risco menor de parar na prisão.