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quarta-feira, junho 21, 2023

No desespero para evitar o avanço da China, Biden quer aumentar a política protecionista

Publicado em 21 de junho de 2023 por Tribuna da Internet

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden

Se aumentar o protecionismo, Biden prejudicará o Brasil

Deu em O Globo

Em discurso recente, o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, deixou clara uma inflexão estratégica na política americana que deverá ter impacto no mundo todo, em especial no Brasil. De modo previsível, destacou a disputa com a China como o maior desafio do futuro próximo. A surpresa foi a forma transparente como apresentou a resposta americana: uma guinada na política externa conduzida pelo país há décadas.

Em vez de insistir na premissa de que a integração econômica tornaria os países mais “responsáveis e abertos”, Sullivan usou o exemplo chinês para justificar uma reviravolta no conjunto de princípios outrora conhecido como Consenso de Washington. No lugar de livre mercado, abertura comercial e competição, fez uma defesa despudorada do retorno do protecionismo e da política industrial, dois fetiches do pensamento heterodoxo.

IGUAL A TRUMP – Por mais que a rivalidade política impeça ambos de admitir, há nítida continuidade entre a política de Joe Biden e a praticada no governo Donald Trump. A guerra comercial contra a China, e suas barreiras à importação, apenas cedeu espaço a uma onda de subsídios estimada em até US$ 100 bilhões ao ano na próxima década, mais que o dobro dos concedidos antes da pandemia.

Disfarçados sob o previsível pretexto da “necessidade estratégica”, eles somam US$ 465 bilhões para erguer fábricas de semicondutores e investir na transição para energia limpa e chegam a quase US$ 1 trilhão incluindo obras de infraestrutura.

Na visão de Biden, a crise nas cadeias globais de suprimento na pandemia e as consequências da guerra na Ucrânia no mercado de energia são prévias de algo pior por vir — e o país precisa se proteger dos riscos.

COSTUMA DAR ERRADO – Nos riscos associados ao protecionismo, poucos falam. Basta lembrar o caso brasileiro para entender o que costuma dar errado. Os governos petistas enterraram quase US$ 26,4 bilhões no projeto de uma indústria naval que, literalmente, naufragou. Os resultados de políticas de proteção à indústria e subsídios por décadas e décadas resultaram em quase nada relevante — e não faltou política industrial.

Cada segmento protegido encarece outros, forçados a comprar do favorecido. Quem paga a conta? O consumidor e a economia, que perde produtividade e cresce menos. O ensimesmamento brasileiro até hoje alija o país das cadeias globais na comparação com México, China, Índia ou África do Sul.

Agora, o governo Lula da Silva tem usado o exemplo americano como evidência de que é necessário ressuscitar as políticas do passado. Mas não precisamos copiar os erros dos americanos, e sim entender as oportunidades que surgiram.

ATRAIR INVESTIMENTOS – É uma lástima que, ao reunir em janeiro 11 países da América Latina nos quais os Estados Unidos querem investir para reduziras importações industriais da China, o Brasil tenha ficado de fora. Lula já era presidente, não dá para culpar o antecessor.

É pouco provável que o mundo volte a ser tão protecionista como nos anos 1930 ou depois da Segunda Guerra. Em vez de insistir em erros do passado, o governo Lula deveria abrir o país.

A meta deve ser elevar a produtividade das empresas locais com mais competição. É o momento não de defender o que já deu errado tantas vezes, mas de aposentar o discurso protecionista e preparar o Brasil para absorver investimentos que sairão da China para países mais próximos dos Estados Unidos.


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