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quarta-feira, outubro 26, 2022

Jefferson faz a coisa errada na hora errada e lesa Bolsonaro - Editorial




Pesquisas feitas para Bolsonaro já mostraram que o figurino de comportado ganha mais votos do que o de incendiário

Quem estimula a delinquência política e a violência, como o presidente Jair Bolsonaro, corre o risco de ser vítima dela. A recusa do ex-deputado e líder do PTB Roberto Jefferson, de voltar ao regime fechado e perder a prisão domiciliar, feita à bala e granadas, abriu a semana decisiva da mais acirrada disputa eleitoral desde a redemocratização. A reação inesperada colocou Bolsonaro na defensiva em um momento crucial da campanha.

Trata-se menos de destino do que de acaso e é difícil medir a influência sobre o eleitorado dos atos de um político decadente, que já foi aliado de Lula e denunciou o mensalão, e que havia se juntado à tropa de choque do bolsonarismo desde 2018. Suas condutas e gestos extravagantes, antidemocráticos, podem colocá-lo, para alguns, na vala do bizarro e do excêntrico, como uma exceção, circunscrevendo o alcance do desgaste do presidente. Para outros, os gestos de Jefferson são a decorrência lógica e causal da propaganda bolsonarista contra as instituições da República, de sua defesa da liberdade sem qualquer responsabilidade e da pregação pelo armamento irrestrito da população.

Entre radicais e moderados, o presidente balança. Aos poucos, com um tom menos raivoso, Bolsonaro chegou perto do empate técnico nas pesquisas eleitorais, das quais desconfia. Sua rejeição caiu um pouco, embora em ritmo mais lento que a necessidade eleitoral exige, e a porcentagem dos que avaliam seu governo como ruim e péssimo empatou com os 39% que o têm como ótimo e bom - sua melhor marca desde sempre no governo. A moderação presidencial foi acompanhada de uma enxurrada de estímulos fiscais e parafiscais, para que o ritmo mais aquecido da economia contribuísse para isso.

Bolsonaro, no entanto, não pode e não quer abandonar seus radicais, que exercem nas redes sociais um papel vital, já demonstrado na primeira eleição, na qual o candidato não tinha dinheiro nem tempo de televisão, e é talvez mais influente agora, com fartura de recursos e de minutos no horário eleitoral. O presidente defendeu o valentão boquirroto Daniel Silveira, também do PTB, quando fez ataques vis ao Supremo Tribunal Federal e às instituições democráticas. Condenado pelo Supremo, Silveira foi indultado por Bolsonaro. Ontem, Silveira comentou: “Eu não tenho como defender lançar granada em cima de policiais, mas a questão foi o que levou ele a fazer isso foi um fato muito mais grave”. Ou seja, foi quase legítima defesa contra Alexandre de Moraes, que preside inquérito ilegal, segundo ele, e que “está torturando psicologicamente prisioneiros políticos há muito tempo”.

Algo parecido com essa foi a primeira reação manifesta de Bolsonaro ao incidente. O presidente repudiou as ofensas pavorosas do ex-deputado contra a ministra Cármen Lúcia e a ação armada, mas também os inquéritos “sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do Ministério Público”. Diante da enorme repercussão do caso Jefferson, o presidente disse depois “que quem atira em policial deve ser tratado como bandido”. Mas orientou o ministro da Justiça, Anderson Torres, a acompanhar pessoalmente o caso, o que Torres fez à distância, sem afastar as suspeitas de que o episódio merecera uma indevida e suspeita deferência especial do governo.

É impossível saber o efeito final do desvario armado de Jefferson sobre o eleitorado. Pesquisas feitas para Bolsonaro já mostraram que o figurino de comportado ganha mais votos do que o de incendiário. A única coisa certa é que a atitude tresloucada de Jefferson não beneficia o presidente, como mostrou ontem o comportamento sempre oportunista dos investidores, derrubando as ações e fazendo o dólar disparar.

A estratégia de Bolsonaro, até agora, não contempla franco-atiradores malucos, que podem prejudicá-lo. Ele convocou seus apoiadores a se concentrarem frente às urnas até a apuração terminar e seu partido, o PL, faz campanha para que os bolsonaristas se tornem fiscais nomeados das eleições no domingo. Os militares fizeram silêncio sobre o que descobriram (ou não) em sua averiguação da confiabilidade das urnas. Pode haver muito mais confusão a caminho.

Com a imensa maioria dos eleitores de ambos os lados com decisão de voto já tomada, a disputa será decidida pelos indecisos e abstenções. A conduta aberrante de Jefferson pode ter influência, mas possivelmente aparecerá a conta-gotas nas pesquisas e só será conhecida quando as urnas forem abertas.

Valor Econômico

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