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quinta-feira, junho 10, 2010

Eleições e Copa, nada a ver

Carlos Chagas

O erro inicial ficou por conta dos constituintes, que em 1988 estabeleceram para o primeiro dia de janeiro a posse dos presidentes da República e dos governadores eleitos no outubro anterior. Não lembraram que a véspera, 31 de dezembro, há séculos é dia de festa, de comemorações e, como ninguém parece de ferro, até de excessos gastronômicos e etílicos. Levantar cedo no dia seguinte para comparecer a cerimônias cívicas pode não significar sacrifício algum para quem vai assumir, mas para os convidados, fica difícil. Ainda mais se visitantes especiais, como chefes de estado e de governo estrangeiros, envolvidos com os próprios protocolos. Talvez por isso, desde a promulgação da nova Constituição que poucos presidentes e primeiros-ministros de nações amigas tenham comparecido às nossas posses.

Mas teve pior, cinco anos depois, quando se promoveu a reforma constitucional. Com medo do Lula, que momentaneamente liderou as pesquisas, reduziram de cinco para quatro anos os mandatos presidenciais, e sem reeleição, golpe que só viria mais tarde. Deixaram, deputados e senadores, de perceber que a redução faria coincidir, como hoje ainda faz, as eleições presidenciais com as copas do mundo de futebol. Quer dizer, quando as campanhas começam a esquentar, sobrevém o valor maior para a população, a disputa pelo caneco que já conquistamos cinco vezes. Por mais que os candidatos se esforcem, entre junho e julho ficam relegados a expressões diminuídas que devem recuperar até outubro.

É precisamente o que já vem acontecendo e mais acontecerá de amanhã em diante, quando se inaugura a copa na África do Sul. A imensa maioria da voz rouca da ruas quer saber muito mais se o Brasil de Kaká vencerá o Portugal de Cristiano Ronaldo, do que se Dilma baterá Serra no conflito dos dossiês.

Numa palavra, a sucessão presidencial entra em recesso precisamente quando deveria estar prendendo as atenções gerais, mas uma tem muito a ver com a outra. Como mesmo para os mais fanáticos da política fica difícil torcer para a desclassificação rápida de nosso selecionado, o remédio até para os candidatos é ceder lugar à copa. Conseguir a moratória imprescindível para a normalização das emoções nacionais.

Por isso Dilma Rousseff programa visitas à França, Alemanha e Portugal, ao tempo em que José Serra aproveitará para colocar em dia a leitura das mais recentes obras de economia.

Quem sabe ano que vem, qualquer que venha a ser o resultado eleitoral, o novo presidente se disponha a rever datas e duração de mandatos futuros, no bojo da ansiada e jamais concretizada reforma política. Por mais que o presidente Lula declare que eleições e copa nada tem em comum, a verdade é que o país demonstra o contrário.

Juscelino foi campeão em 1958 e perdeu a eleição, em 1960. Jango imaginou-se vitorioso em 1962 e acabou deposto em 1964. Médici acertou o escore em 1970 mas passou à História como o pior dos ditadores. Itamar ganhou em 1994, arrependendo-se logo depois por haver indicado Fernando Henrique, que em 1998 perdeu no gramado e reelegeu-se nas urnas, para quatro anos depois, em 2002, levantar o caneco do penta mas obrigar-se a passar o poder para o Lula.

Com o atual presidente, nova inversão: ganhou a segunda eleição em 2006, mas foi derrotado na copa. Quebraria a escrita, agora, elegendo a sucessora e comemorando o hexa? Pode ser, mas eleições e copa, se tem alguma coisa a ver, não costumam privilegiar duas vezes os presidentes da República…

Uma sombra que ressurge

Às vésperas da convenção nacional do PMDB que consagrará a chapa Dilma Roussef-Michel Temer, voltam os companheiros a sentir um frio na espinha. Suponhamos, só para argumentar, que a dupla saia vitoriosa nas eleições de outubro e que o maior partido nacional mantenha essa condição nas eleições parlamentares. Ficará claro que o novo governo dependerá umbelicalmente, para governar, da maioria capitaneada pelo PMDB. E quem controlará o Congresso senão o novo vice-presidente da República?

O eixo do poder será deslocado para o palácio do Jaburu, ainda que de forma tão sutil quanto a personalidade de Michel Temer. Dilma não poderá manter com ele uma relação de subordinação, como costuma acontecer entre os presidentes e seus substitutos. Precisará de muita paciência e tolerância para cumprir seus objetivos. E o PT, pior ainda: passará a penduricalho do PMDB, salvo inusitadas conseqüências das eleições de outubro.

Não fica ninguém

Montes de ministros e ex-ministros recentes estão de olho no futuro, caso Dilma Rousseff se eleja. Gostariam de continuar ou de retornar a Esplanada dos Ministérios, numa espécie de continuidade do governo Lula.

Podem estar redondamente enganados. Não que a hoje candidata tenha contas a ajustar com a maioria. Muito pelo contrário. Mas se ela quiser marcar seu suposto futuro governo com características próprias, precisará escalar a sua equipe, não o time que o Lula colocou em campo por oito anos. Frustrações parecem em gestação, ainda que figuras como Antônio Palocci possam constituir exceção.

Sociólogos á margem

Raciocínio igual se faz do outro lado. Na hipótese da vitória de José Serra, ninguém imagine a volta dos neoliberais do sociólogo. Exceção poderá ser José Gregori, que, aliás, de neoliberal não tem nada. Mas imaginar o retorno dos ministros de Fernando Henrique, nem pensar. Muito menos o próprio, que já levou um “chega para lá” quando perguntaram a Serra qual seria o papel dele num suposto governo do PSDB. Com sutileza, o candidato declarou que ex-presidentes da República são pessoas tão especiais a ponto de precisarem permanecer em pedestais, jamais pisando o terreno perigoso do futuro incerto. É aquela velha história que se atribui a Getúlio Vargas: “jamais se deve nomear quem não se pode demitir”…

Fonte: Tribuna da Imprensa

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