Publicado em 5 de abril de 2024 por Tribuna da Internet
Marcela Mattos
Veja
Walter Braga Netto tinha 7 anos de idade quando o Exército depôs o então presidente João Goulart e deu início a um dos mais sombrios períodos da história do Brasil. A ditadura sufocou oposicionistas, censurou a imprensa, torturou e matou adversários. Quase seis décadas depois, o ex-presidente Jair Bolsonaro e um grupo de militares de alta patente, segundo a Polícia Federal, se articularam para tentar mais uma vez subverter a democracia.
O plano não deu certo, mas se tivesse avançado as eleições de 2022 teriam sido anuladas, Lula seria impedido de tomar posse, Bolsonaro continuaria no poder e medidas de exceção decretariam, entre outras coisas, a prisão imediata de ministros do Supremo Tribunal Federal e do presidente do Congresso.
UM DOS LÍDERES – O general Braga Netto é apontado como um dos líderes dessa conspiração. Além de incentivar, teria sido encarregado de mobilizar os quartéis para angariar apoio ao que foi descrito pelos investigadores como a fase de preparação para um golpe de Estado.
Ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, o general foi alvo de uma operação de busca em fevereiro. As investigações ainda estão em andamento, mas, para a polícia, há indícios que demonstram a efetiva participação dele na trama.
No dia 27 de dezembro de 2022, por exemplo, Braga Netto trocou mensagens com Sérgio Cordeiro, então assessor do presidente da República. Cordeiro queria saber para quem poderia encaminhar o currículo de uma mulher que pretendia trabalhar no governo. “Se continuarmos, poderia enviar para a Secretaria-Geral”, respondeu o general.
UMA REVIRAVOLTA – Faltavam quatro dias para a posse de Lula. A PF deduziu que, ao considerar a possibilidade de “continuarmos”, Braga Netto deixou claro que ainda havia a expectativa de uma reviravolta, de Bolsonaro continuar no Palácio do Planalto.
“Os investigados ainda estavam empreendendo esforços para tentar um golpe de Estado e acreditavam na consumação do ato, impedindo a posse do governo legitimamente eleito”, diz o relatório policial.
No papel de mentor do golpe, Braga Netto também teria promovido uma reunião em sua casa, onde teria sido discutida uma maneira de financiar o deslocamento a Brasília dos chamados kids pretos, militares das Forças Especiais do Exército especialistas em guerras não convencionais. Os convivas presentes teriam analisado a logística necessária para custear a tropa que supostamente daria apoio à rebelião.
ORÇAMENTO – Foi depois desse encontro que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teria estimado em 100 000 reais os gastos de hospedagem e alimentação dos combatentes.
Conhecido pela discrição e pelo bom trato, o general não poupava os colegas de farda que supostamente estariam se opondo à empreitada golpista. Em uma das mensagens, xingou o então comandante do Exército, Freire Gomes, de “cagão”.
Em outra, o alvo foi o então chefe da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Jr., contra quem recomendou “sentar o pau” por ser um “traidor da pátria”. Ele ainda orientou um interlocutor a “viralizar” uma mensagem que registrava que o atual comandante do Exército, Tomás Paiva, “nunca valeu nada” e que parecia que “ele é PT desde pequenininho”
BUSCA E APREENSÃO – A PF desconfia que Braga Netto não só atuava em um núcleo organizado para incitar outros militares a aderir ao golpe como tramou intensamente contra a democracia antes, durante e depois das eleições.
Por essa razão, o ministro Alexandre de Moraes expediu uma ordem de busca nos endereços de Braga Netto, apreendeu seu passaporte e o proibiu de manter qualquer contato com outros investigados.
Há quem diga que a decretação de medidas judiciais ainda mais restritivas é questão de tempo. O fato é que o cerco ao general está se fechando — e ele sabe disso.
FICOU EM SILÊNCIO – Intimado a depor, invocou o direito de permanecer calado enquanto não tiver acesso à íntegra do inquérito. Nos últimos dias, Braga Netto tem mantido reuniões intensas com seus advogados e traçado as linhas gerais de sua estratégia de defesa.
Ele vai confirmar que comparecia diariamente ao Palácio da Alvorada depois das eleições, mas apenas para consolar o então presidente, abatido com a derrota, e que, nesse período, participou de nenhuma reunião com militares. Também vai afirmar que nunca houve nenhum encontro em sua casa para tratar sobre kids pretos.
Para a Polícia Federal, não há dúvidas de que ele e o ex-presidente agiram em sintonia. “Nunca ouvi nada sobre golpe, nunca existiu isso. A sensação é que começaram a montar a casa pelo telhado e agora querem achar as paredes”, disse o general a um interlocutor. Difícil acreditar em suas palavras. Para a polícia, a casa foi, sim, toda montada — e agora caiu.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Braga Netto parece ser o verdadeiro líder da conspiração. É difícil acreditar que o capitão Bolsonaro ficasse à frente da conspiração militar. Certamente um general de quatro estrelas assumiria o poder, e o nome dele é Braga Netto. (C.N.)