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segunda-feira, julho 06, 2020

Para recuperar imagem do governo, Secom pretende gastar R$ 325 milhões em publicidade


Charge do Nando Motta (brasil247.com)
Renato Onofre
Folha
A Secom (Secretaria de Comunicação) pediu a liberação ainda neste ano de R$ 325 milhões para gastar em publicidade e em relações públicas para tentar melhorar a imagem do governo Jair Bolsonaro no país e no exterior. O valor é mais do que o dobro previsto no atual orçamento de 2020 para ações de Comunicação, cerca de R$ 138,1 milhões. A Secom justifica o pedido por mais recurso sob o argumento da pandemia do novo coronavírus.
“Tais providências são determinantes para que a Secom, no contexto de enfrentamento do Brasil à pandemia do Covid-19, tenha condições de cumprir com sua missão de promover a comunicação do governo federal com a sociedade e ampliar o acesso às informações de interesse público”, diz o documento.
DESGASTE – O pano de fundo, no entanto, é tentar recuperar a imagem do governo abalada por uma sucessão de crises provocadas por decisões tomadas por Bolsonaro e sua equipe.
Segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, feita no final de junho, a rejeição ao presidente atinge 44% dos brasileiros. A aprovação é de 32%, enquanto os que avaliam Bolsonaro como regular são 23%.
O pedido de mais verba pela Secom foi feito no início de junho, antes de Bolsonaro reformular a área do governo e recriar o Ministério das Comunicações. O presidente tem mostrado insatisfação com a maneira com que o governo é retratado no país e no exterior.
PRIORIDADE – A pasta é controlada por Fábio Faria (PSD), congressista ligado ao Centrão, que anunciou mudanças na condução da comunicação do governo. Em sua posse, o ministro disse que a “mídia continua a estar entre as prioridades” do governo e defendeu a liberdade de expressão.
Na quinta-feira, dia 2, ao participar da primeira reunião virtual de cúpula de presidentes do Mercosul, Bolsonaro afirmou que o governo está procurando corrigir o que chamou de “opiniões distorcidas” que arranharam a imagem do país no exterior. “Nosso governo vai desfazer opiniões distorcidas sobre o Brasil, mostrando ações que temos tomado em favor da floresta amazônica e do bem-estar das populações indígenas.”
DANOS – Na avaliação de assessores ligados à cúpula do Planalto e da ala militar do governo, o discurso ideológico contaminou a comunicação oficial, especialmente no exterior, causando danos à imagem do país. No final de junho, um grupo de investidores internacionais enviou uma carta aberta a embaixadas brasileiras em oito países manifestando preocupação com o “desmantelamento de políticas ambientais e de direitos humanos”.
A reportagem teve acesso a três ofícios encaminhados pela Secom à Secretária-Geral da Presidência, à Secretaria de Governo e ao Ministério da Economia. Neles, há a justificativa para a liberação do gasto com publicidade. Procurada, a Secom não se manifestou.
De acordo com o pedido, a repercussão negativa das ações do governo está impactando a imagem do país e é necessário incentivar a “veiculação de pautas positivas” no Brasil e no exterior. A estratégia prevê a liberação da R$ 200 milhões em publicidades que terão como foco principal mídias regionais em detrimento a veículos nacionais – mais críticos às ações do governo – e quintuplicar o valor gasto em relações públicas com a mídia.
FOCO – “Há necessidade de coordenação e capilaridade regional, associada a situações muitos díspares em cada local. Já o trabalho internacional vai focar nos veículos influenciadores de opinião nos países-chave para o Brasil”, afirmou o secretário-adjunto Samy Liberman em um dos ofícios encaminhados no início de junho. Há ainda o pedido de liberação de R$ 60 milhões para gastar em veículos no exterior.
“O Brasil tem sido citado de forma recorrente pelos principais jornais e agências de notícias internacionais, e críticas à atuação do governo no enfrentamento à Covid-19 têm sido amplamente divulgadas”, diz Liberman. Ele cita seis publicações em veículos de imprensa americanos e europeus que criticam as ações de Bolsonaro.
A primeira publicação é de 14 de abril, do jornal “The Washington Post”. Em editorial, o veículo critica a postura do governo frente à pandemia: “Líderes arriscam vidas ao subestimar o coronavírus. Bolsonaro é o pior”, diz o texto. O secretário também cita reportagem do jornal britânico “The Guardian”: “Bolsonaro está arrastando o Brasil para a calamidade do novo coronavírus. Especialistas temem”.
REPERCUSSÃO – Em outra citação, Liberman relata que as mudanças no comando da Saúde repercutiram negativamente em um dos jornais econômicos mais influentes do mundo. “O episódio da troca de ministro da Saúde ganhou ampla repercussão, como por exemplo matérias publicadas pelos jornais “The Wall Street Journal” e “The Washington Post”. Também jornais europeus repercutiram a saída do ministro.”
“É neste cenário, em que o volume de mensagens negativas expõe o país, que se faz necessária a ação de comunicação, que, por meio de divulgação de informações relacionadas a diversos setores, culminem na reversão da imagem negativa do Brasil no exterior.”
Desde janeiro de 2019, a Secom está sem contrato para os serviços de relações públicas no exterior. Nos últimos anos, a média de gastos anual foi de R$ 10 milhões para ações focadas na participação do Brasil em fóruns internacionais.
CORTE – O pedido de mais verba foi feito dois dias depois de o governo cortar o orçamento do Bolsa Família para expandir a publicidade institucional. A tesourada de R$ 83,9 milhões acabou sendo cancelada após repercussão negativa. Além dos recursos para publicidade e relações públicas, o governo quer destinar outros R$ 10 milhões para comunicação digital. No documento, Liberman diz que os recursos vão ser usados para a adoção de uma identidade visual nos portais do governo.
O acompanhamento das redes sociais, ponto de crítica constante por parte de um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, também pode receber uma parte do bolo – R$ 5 milhões. O pedido diz que “as redes sociais é uma das formas usuais de verificação dos anseios da sociedade” e ambiente para a “formação de parte da opinião pública no processo dialógico”.

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