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quinta-feira, setembro 16, 2010

Lula deve decidir substituto de Erenice na próxima semana; interino assume

FÁBIO AMATO
SIMONE IGLESIAS
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

Depois de se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra Erenice Guerra (Casa Civil) entregou o cargo. A situação dela se tornou insustentável no governo com a publicação de reportagem na edição desta quinta-feira da Folha que aponta lobby feito por seu filho dentro da Casa Civil.

No lugar da Erenice assume Carlos Eduardo Esteves Lima, secretário-executivo. Ele ficará interinamente no cargo de ministro. O presidente deve decidir o substituto até a próxima semana. O nome mais cogitado é da coordenadora-geral do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), Miriam Belchior.

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Segundo o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, "Lula recebeu na manhã de hoje a ministra, que por iniciativa própria apresentou carta de demissão."

O porta-voz leu na íntegra a carta (leia aqui) entregue por Erenice a Lula. No texto, ela diz que não foi apresentada nenhuma prova sobre sua participação em qualquer dos temas questionados pela imprensa.

"Mesmo assim estampam diariamente manchetes cujo único objetivo é criar e alimentar artificialmente o clima de escândalo. As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo." Erenice argumenta na carta que precisa de tempo e de "paz" para defender a si e sua família.

Erenice recebeu em sua casa o ministro Franklin Martins (Secom) às 9h desta quinta-feira. Nesse encontro, foi acertada a sua saída do governo. Erenice foi chamada ao Palácio do Planalto às 11h e se reuniu com o presidente ao meio-dia.

Erenice sucedeu a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, de quem era o braço direito na pasta.

NOVO LOBBY

A demissão ocorre depois da publicação de reportagem da Folha mostrando que uma empresa de Campinas confirmou que um lobby opera dentro da Casa Civil. A empresa acusa Saulo, filho de Erenice, de cobrar dinheiro para obter liberação de empréstimo no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Interessada em instalar uma central de energia solar no Nordeste, a EDRB do Brasil Ltda. diz que o projeto estava parado desde 2002 na burocracia federal até que, no ano passado, seus donos foram orientados por um servidor da Casa Civil a procurar a Capital Consultoria.

Trata-se da firma aberta em nome de um dos filhos de Erenice, Saulo, e que foi usada por outro, Israel, para ajudar uma empresa do setor aéreo a fechar contrato com os Correios --primeiro negócio a lançar suspeitas de tráfico de influência no ministério, revelado pela revista "Veja".

A Casa Civil confirmou ontem que houve uma reunião com representantes da EDRB em novembro na sede da Presidência, mas negou que a hoje ministra Erenice Guerra tenha participado.

"A audiência foi pedida inicialmente com a secretária-executiva, mas, por incompatibilidade de agenda, foi conduzida pelo então assessor especial e atual chefe de gabinete da Casa Civil", informou a assessoria.

CORREIOS

Em outro caso, o diretor de Operações dos Correios, Artur Rodrigues da Silva, e o consultor Fabio Baracat apontaram à Folha Israel Guerra, também filho de Erenice, como intermediador de negociações e contratos entre uma empresa privada e o governo federal.

Reportagem da revista "Veja" desta semana mostra que Israel Guerra e a empresa Capital Assessoria e Consultoria Empresarial, à qual é ligado, fizeram lobby para ajudar a MTA Linhas Aéreas a obter a renovação de uma concessão da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o que permitiu, mais tarde, um contrato em condições privilegiadas com os Correios.

A revista diz que foi Erenice quem viabilizou o sucesso da atuação do filho. Segundo a reportagem, o dinheiro pago na intermediação teria sido citado pela ministra como necessário para cumprir "compromissos políticos".

Em nota oficial no início da semana, Erenice classificou a reportagem de "caluniosa", mas o envolvimento de Israel foi confirmado à Folha por dois participantes das negociações com a Anac e os Correios. Rodrigues Silva disse que a Capital foi contratada pela MTA (Master Top Linhas Aéreas) no final do ano para apressar a liberação de seus voos pela Anac.

Segundo a Junta Comercial de Brasília, a Capital está registrada em nome de Saulo Guerra e de Sônia Castro, mãe de Vinícius Castro, assessor da Casa Civil. A "Veja" afirma que os donos são "laranjas" de Israel e Vinícius.

Representante da MTA na época, Baracat diz que era com Israel que os entendimentos eram travados. O filho de Erenice, segundo ele, receberia remuneração se a operação tivesse sucesso.

"Durante o período em que atuei na defesa dos interesses comerciais da MTA, conheci Israel Guerra, como profissional que atuava na organização da documentação da empresa para participar de licitações, cuja remuneração previa percentual sobre eventual êxito, o qual repita-se, não era garantido", disse Baracat à Folha.

No início do, a MTA fechou contrato sem licitação de R$ 19,6 milhões com os Correios para transporte de carga.

Baracat disse ter conhecido Erenice, mas negou ter discutido negócios com ela. Segundo a "Veja", eles teriam se encontrado quatro vezes para negociar os interesses da MTA.


Editoria de Arte/Folhapress

Fonte: Folha.com

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