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domingo, janeiro 29, 2023

Costa Neto desmentiu Anderson Torres e expôs Bolsonaro na onda do golpe contra Lula

Publicado em 29 de janeiro de 2023 por Tribuna da Internet

Entrevista de Valdemar objetivou lançar ponte com o governo Lula

Pedro do Coutto

Analisando bem a entrevista de Valdemar Costa Neto a Jussara Soares, O Globo, edição de sexta-feira, conclui-se essencialmente que o presidente do PL comprometeu o ex-ministro da Justiça e expôs o ex-presidente Bolsonaro como peças da trama que através da invasão selvagem de Brasília visava um golpe contra o presidente Lula, contra a democracia e contra o resultado das urnas de outubro. As palavras de Valdemar da Costa Neto,  traduzidas politicamente, acentuam que Anderson Torres mentiu ao dizer que o projeto de decreto encontrado em sua residência tinha sido separado por ele para ser triturado.

A afirmação do também ex-secretário de Segurança do DF é falsa de acordo com a versão de Valdemar, pois se circulavam em Brasília diversas cópias do projeto de decreto do qual muitos tinham pleno conhecimento, não é verdadeira a versão de Torres de que o texto encontrado em sua casa tinha sido entregue por alguém cujo nome não se recorda.

SEM BASE – Haviam várias outras cópias nas mãos de diversas outras pessoas. Logo, não tem base a versão de que o ex-presidente Bolsonaro não tinha conhecimento da investida que se destinava a dar sequência  à onda de violência que invadiu Brasília no dia 8 de janeiro e que praticou depredações em série no Palácio do Planalto, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal.

Paralelamente a isso, reportagem de Eduardo Gonçalves e Patrick Camponês, O Globo deste sábado, com base no levantamento de Ricardo Cappelli, interventor na Segurança de Brasília, o movimento fanatico e destruidor foi facilitado pela omissão da Polícia Militar, conivência do próprio Torres, omissão de Fernando Oliveira que o substituiu na Segurança, e do próprio QG do Exército que tinha à sua frente um acampamento de bolsonaristas, absurdo reduto que se transformou em cabeça de ponte, como se diz em linguagem militar, para a imunda ofensiva contra as instituições.

Na Folha de S.Paulo, o levantamento de Cappelli é focalizado na reportagem de César Feitosa e Lucas Marchesini, destacando principalmente a inércia e a culpabilidade de Anderson Torres. Verifica-se assim que o movimento destruidor seguia a orientação de um comando unificado com várias frentes de apoio e cujo objetivo era derrubar o governo legitimamente eleito. No meio da onda terrorista faltou aos bolsonaristas o que eles aguardavam, uma atuação do Exército contra o governo Lula da Silva. E, se Anderson Torres, como os fatos concretamente indicam, era um dos agentes da subversão, evidente torna-se também o conhecimento e a participação do próprio Jair Bolsonaro.

ENCONTRO – O ex-presidente encontrou-se com Torres na cidade de Orlando. Bolsonaro agora, conforme O Globo de sábado revelou, pediu ao governo de Washington a prorrogação por mais 30 dias de sua permanência no país. A intenção do pedido é a de que ele não seja aceito, o que servirá para que assuma uma posição de vítima no cenário internacional, abrindo caminho para que se possa supor que o presidente Joe Biden esteja intervindo indiretamente na política brasileira. Mas, certamente, a Casa Branca já levou em conta esse aspecto e deve prorrogar a permanência por mais 30 dias solicitados por Bolsonaro. Inclusive, nesse tempo, o presidente Lula da Silva será recebido por Joe Biden em Washington.

A trama tornou-se clara à luz de fatos concretos e das revelações de Valdemar Costa Neto. A entrevista a Jussara Soares foi debatida no Em Pauta de sexta-feira na GloboNews, programa magnificamente apresentado por Nilson Clava. Na minha opinião, faltou ser ressaltado apenas um aspecto, o que também, no fundo, a entrevista de Valdemar Costa Neto, bem arquitetada pelo próprio, teve também como objetivo lançar uma ponte entre ele e o governo Lula da Silva. Pois, afinal de contas, Valdemar desmente Torres e abre o caminho para que o inquérito pedido pelo Procurador Geral da República, Augusto Aras, e que se encontra no STF, tendo Alexandre de Moraes como relator, possa prosseguir confirmando as suspeitas inesperadas  que Aras levantou sobre Bolsonaro.

É mais do evidente que a tentativa de golpe não poderia ter sido desfechada sem a concordância do ex-presidente da República, maior interessado num golpe, com a sua permanência no poder através do sistema militar. A tentativa fracassou, mas isso não significa que não tenha sido articulada pelo governo que terminou em 31 de dezembro e que se recusou a passar a faixa ao presidente eleito, comportamento comprometedor seguido por todos os ministros do governo que acabou.

PRONUNCIAMENTO –  Wesley Galzo, Estado de S. Paulo de ontem, destaca o pronunciamento do general Tomás Miguel Paiva, comandante do Exército, afirmando que, seja militar ou civil, ninguém está acima da lei. E,por isso, os que participaram ou se omitiram do episódio de Brasília  serão punidos. A presença do general Tomás Miguel Paiva à frente do Exército lembra a posição legalista assumida pelos generais Teixeira Lott e Odylio Denys no episódio de 11 de novembro de 1955, que garantiu o resultado das urnas e a posse de Juscelino Kubitschek na Presidência da República.

Na edição de ontem da Folha de S.Paulo, o colunista Hélio Schwartsman refere-se a um vírus golpista que existe no país. É verdade. E esse vírus foi inoculado pelo deputado e governador da Guanabara, Carlos Lacerda, que a cada eleição perdida voltava-se para impedir a posse do eleito. Assim foi com JK, com João Goulart e com Negrão de Lima. O lacerdismo agravado pelo brilhantismo do seu criador, tornou-se um vírus detectado pela inteligência e capacidade múltipla de análise de Hélio Schwartsman.

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