Pedro do Coutto
Filmes produzidos pela Segurança do Supremo Tribunal Federal, exibidos na noite de quarta-feira pela TV Globo e pela GloboNews, e objeto de reportagem ontem de Marianna Muniz, Daniel Gullino, Bela Megale e Jussara Soares, O Globo, comprovam de forma indiscutível a missão e até a conivência das forças da Polícia Militar que se encontravam na esplanada dos Ministérios com a invasão e depredações praticadas no edifício do próprio STF, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional.
Uma multidão caminhava pela esplanada, escoltada – vejam só – por forças da PM sob o pretexto de assegurar o direito às manifestações pacíficas. A realidade das imagens comprova que não foi nada disso. Tanto assim que quando a horda selvagem bolsonaristas chegou ao local dos ataques não foi reprimida e nem barrada pela Polícia.
REJEIÇÃO – Os acontecimentos gravíssimos voltados contra a democracia brasileira e o resultado das urnas, de outro lado, destacam a rejeição cada vez maior da opinião pública contra o vandalismo fanático que tomou conta da capital e onde está localizado também o Quartel General do Exército que tinha à sua frente quase um bairro acampado e repleto de bolsonaristas.
Nenhuma pessoa de bom senso e isenta de fanatismos pode aceitar ou de longe concordar com o que aconteceu. Pelo contrário. A sociedade brasileira continua a sentir-se ameaçada pelos que tramaram o golpe. Está evidente que por trás do palco ocupado pela violência encontram-se o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Anderson Torres.
Não pode ser considerada coincidência o fato de um ex-presidente ter se recusado a transmitir o cargo ao presidente Lula da Silva numa atitude em que foi acompanhado pelos integrantes de seu ministério no final do mandato. Não houve uma palavra de Bolsonaro desautorizando o ataque. O que ocorreu depois foi uma tentativa de se esquivar por parte de Anderson Torres.
VERSÃO – O seu telefone celular desapareceu após ter sido clonado, segundo versão de seu proprietário. Era, portanto, absolutamente necessário que Torres comprovasse a clonagem até para eximir a si próprio de qualquer troca de mensagens ou diálogo capaz de envolvê-lo como agente da conspiração. Não agiu nesse sentido, pelo contrário. Apresentou a versão da clonagem e depois da perda do aparelho.
Esses aspectos, apesar das violências fanáticas contra Brasília, na realidade impedem uma nova tentativa de golpe além daquele de 8 de janeiro que não se concretizou. Agora, os autores, os coniventes e os culpados de omissão encontram-se identificados, mas sobretudo mais identificada ainda é a localização do ovo da serpente na busca da implantação de um governo de extrema direita e absolutamente autoritário no Brasil.
A repercussão externa foi enorme, aliás, está sendo. A repercussão interna, maior ainda, ficará para sempre registrada na história brasileira, focalizando a repetição no tempo da tentativa de golpe contra a posse de Juscelino Kubitschek em 1955 e agora buscando derrubar o governo Lula da Silva.