Publicado em 14 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Wellington Hanna, Elisa Clavery e Filipe Matoso
TV Globo e G1 — Brasília
Documentos de posse da CPI da Covid e obtidos pela TV Globo mostram que a Pfizer informou à embaixada do Brasil nos Estados Unidos que ressarciria o país se atrasasse a entrega de doses da vacina contra a Covid.
A informação consta de um ofício da própria embaixada, enviado ao Ministério das Relações Exteriores em 27 de agosto do ano passado.
DISSE PAZUELLO – Em depoimento à CPI da Covid, no mês passado, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse que um dos motivos para o contrato com a empresa não ter sido assinado antes foi a falta de previsão de multa à Pfizer caso a farmacêutica atrasasse a entrega.
Representantes da Pfizer se reuniram em 27 de agosto com diplomatas brasileiros. Nesse encontro, a empresa ofereceu a reserva de 30 milhões de imunizantes ao Brasil, mas expressou receio de que poderia não garantir essa quantidade no futuro, caso o governo brasileiro não sinalizasse interesse.
“Os dirigentes da Pfizer frisaram a ausência de risco, uma vez que, segundo constaria da proposta de venda, a Pfizer se comprometeria a devolver ao governo brasileiro todo e qualquer pagamento antecipado, na hipótese em que a empresa não consiga honrar a obrigação de entregar a quantidade acordada da vacina”, afirma o documento da embaixada em Washington.
INVESTIGAÇÃO DA CPI – As recusas do governo federal em responder à Pfizer são objeto de investigação da CPI da Covid. A cúpula da comissão entende que o Brasil já teria vacinado uma parcela maior da população se tivesse fechado o contrato com a empresa ainda em 2020.
Outros documentos da CPI da Covid e obtidos pela TV Globo também mostram que, em julho do ano passado, o governo brasileiro foi informado pela Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi) que seria ressarcido caso desistisse de comprar vacinas do Covax, consórcio internacional de vacinas. Mas o Brasil se recusou a comprar mais vacinas do Covax, mesmo com reembolso se desistisse, mostra documento
REDUZIU À METADE – Na ocasião, ainda não havia vacinas contra a Covid disponíveis no mundo. Mesmo assim, segundo os documentos, o Brasil optou por encomendar a quantidade mínima prevista pelo consórcio (para 10% da população). Primeiro, o país chegou a cogitar adquirir 20%, mas, depois, reduziu à metade, isto é, para 10%.
A informação do Itamaraty, enviada à CPI, consta de uma correspondência trocada entre o ministério e a embaixada do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU).