Publicado em 27 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
A semana que se encerrou foi uma das piores na história do país e, pior ainda, para Jair Bolsonaro que se viu sufocado em um redemoinho de atos incríveis para um governo que surgiu nas urnas, mas despencou num princípio político que o próprio presidente construiu e nele se projetou por ações e omissões.
Os três maiores jornais do país, O Globo, Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo, tiveram como manchetes na edição de ontem o estapafúrdio caso da vacina indiana que seria comprada pelo governo com intermediação de duas empresas, uma das quais com apenas um escritório em Singapura.
DENÚNCIAS – O próprio presidente da República ao ouvir as denúncias que lhe foram levadas em 20 de março pelo servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, e pelo seu irmão, o deputado Luis Miranda, deixou escapar, segundo o relato de ambos na sessão de sexta-feira da CPI, uma frase dizendo que entre os protagonistas da tormenta estava o líder do governo na Câmara Federal, deputado Ricardo Barros.
A frase ficou no ar. Nenhuma providência foi tomada e o fato de não ter sido feito pagamento antecipado deveu-se à ação da imprensa. A mesma imprensa que é objeto permanente de fortes ataques do presidente da República e que confunde os jornais e emissoras de televisão como se fosse ele próprio. O causador da tempestade é marcado principalmente por suas posições contra as máscaras, contra o distanciamento e contra as vacinas, produzidas por laboratórios a preços várias vezes menores do que a Covaxin.
No O Globo, as reportagens são de André de Souza, Julia Lindner e Dimitrius Dantas, além de Natália Portinari, Leandro Prazeres e Paulo Ferreira. Quanto às agressões a jornalistas, sobretudo à repórter Vitória Abel, da rádio CBN, escreveram no O Globo, Bianca Gomes e Suzana Correia. No Estado de São Paulo, Vinícius Valfré e Lauriberto Pompeu.
PESQUISA – Além do desastre de sexta-feira, Bolsonaro na véspera fora atingido pelo resultado da pesquisa do Ipec que apontou 49% para Lula e 26% para ele, uma diferença de 23 pontos difícil de reverter com a tendência de se ampliar no decorrer do tempo, uma vez que o temperamento do presidente da República figura entre os principais atores do seu próprio desastre.
É importante também observar-se que o distanciamento entre Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão já havia sinalizado para um conflito entre pelo menos duas correntes de pensamento, uma delas a do vice-presidente nas restrições claras que fez ao ex-ministro Eduardo Pazuello e ao agora ex-ministro Ricardo Salles, além de restrições ao ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. ,
O general Hamilton Mourão já vinha se opondo de maneira frontal ao desmatamento da Amazônia e às queimadas da floresta verde patrocinadas por Salles que foi exatamente aquele que se deslocou de Brasília ao Pará na tentativa de liberar 200 mil metros cúbicos de troncos de árvores atingidos pela serra elétrica e que se destinavam a uma exportação ilegal a proprocionar lucros aos que incrivelmente vulneraram a própria lei brasiliera. Salles tornou-se um ministro contra o meio ambiente e adicionou para o governo Bolsonaro um ambiente ainda mais calamitoso.
IMPOSTO DE RENDA – No meio de toda tempestade, o ministro Paulo Guedes anunciou uma alteração na lei do Imposto de Renda, ampliando a faixa de isenção na declaração anual de ajuste. Entretanto, os jornalistas Douglas Gavras e Fábio Pupo, Folha de São Paulo, pesquisaram o texto e revelaram ontem que concretamente a mudança amplia a faixa de incidência, mas aumenta o imposto de renda para toda a classe média.
Como se não bastasse, propõe a incidência do tributo sobre os dividendos das empresas. Neste ponto está caracterizada a bitributação simplesmente porque as empresas já são taxadas no mesmo imposto de renda antes da distribuição dos dividendos.
Paulo Guedes não falha e confirma a cada dia o seu caminho. Faz com que a escala de queda de Jair Bolsonaro se amplie ainda mais na opinião pública, no eleitorado e na população brasileira.