Publicado em 30 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O presidente Jair Bolsonaro recorreu ao escapismo banal no caso do contrato projetado através do Ministério da Saúde com a vacina indiana Covaxin e afirmou absurdamente não ter como saber o que acontece nos bastidores dos ministérios. Não tem a menor veracidade a sua versão, o que o deixa muito mal, mais uma vez, diante da opinião pública, da população em geral e do eleitorado brasileiro.
Ele pode não saber o que acontece em matéria de pequenos movimentos administrativos, mas quando os movimentos nos ministérios ganham a dimensão que alcançou a denúncia do servidor Luis Ricardo Miranda e do seu irmão, o deputado Luis Miranda, ele não pode agir como se não tivesse ouvido nada. Seria impossível. A obrigação da qual se encontra revestido pelo seu mandato é a de apurar imediatamente as denúncias.
VIDAS EM JOGO – Era se basear, inclusive, numa escala de preços facilmente identificável comparativamente. O preço unitário da vacina indiana era de US$ 15, várias vezes maior do que o preço das vacinas dos laboratórios que chegaram até a oferecer a aquisição de imunizantes antes da pandemia se alastrar. Uma transação orçada em R$ 1,6 bilhão não pode ser considerada pelo Planalto como um fato menor ou um acontecimento de simples rotina administrativa. Além de tudo, estavam e ainda estão em jogo milhares de vidas humanas.
O preço extorsivo, é claro, viria a reduzir parcelas enormes do povo da contaminação que ameaça a saúde e a vida. No O Globo a reportagem é de Melissa Duarte, edição de ontem. Na Folha de São Paulo, de Daniel Carvalho e Fábio Pupo. No Estado de São Paulo, do repórter Vinícius Valfré. Em síntese, foi mais um desastre do governo que até hoje, concretamente, não conseguiu elaborar sequer um projeto de grande porte, e não chegou a consolidar um planejamento global de efeito econômico e social para o país.
CONTRADIÇÕES – Pelo contrário, os episódios se sucedem, expondo uma sequência de contradições entre os compromissos da campanha eleitoral de 2018 e as ações do presidente da República. Se Bolsonaro não pode saber o que acontece nos ministérios, quem poderá ?
Os irmãos Miranda, vale acentuar, levaram a sombra da suspeita ao presidente no dia 20 de março. Passaram mais de três meses. Nesse meio tempo a bomba explodiu na Esplanada de Brasília e deixou o governo numa posição terrível, não conseguindo explicar de forma convincente o que aconteceu no Palácio do Planalto.
Bolsonaro não tem justificativa para alegar o desconhecimento que diz tê-lo separado da realidade. Verifiquem os leitores que ele não nega o conteúdo da denúncia, mas diz que não sabia do conteúdo que lhe foi levado. Portanto, ele não nega a forte sombra de suspeita. Não é por aí. Incrível a sucessão de fatos que abalam esse governo e que está prestes a desmoronar.