Publicado em 30 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Paula Ferreira
O Globo
O Ministério da Saúde exonerou Roberto Dias do cargo de diretor do Departamento de Logística da pasta. De acordo com o ministério, a decisão foi tomada na manhã desta terça para ser publicada na edição de quarta-feira do Diário Oficial da União. A medida ocorre após virem à tona denúncias de suspeita de irregularidade no contrato para a compra da vacina indiana Covaxin e depois a declaração de um empresário ao jornal “Folha de S. Paulo” de que Dias teria pedido propina para facilitar contratos de vacina com o Ministério da Saúde.
Em entrevista ao GLOBO, o servidor Luis Ricardo Miranda afirmou que Dias foi uma das autoridades que o pressionou para acelerar a compra da vacina Covaxin. Segundo ele, Dias teria insistido pelo envio de documentação incompleta à Anvisa. Segundo ele, o mesmo não aconteceu em processo de outra vacinas negociadas pela pasta.
INDICAÇÃO DO LÍDER – Dias foi indicado para o cargo de diretor do Departamento de Logística ainda em 2019 pelo atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). Barros também é alvo de denúncias na CPI da Covid-19 no Senado por envolvimento nas supostas irregularidades do contrato da Covaxin.
Nesta terça-feira, o Ministério da Saúde decidiu suspender o contrato para aquisição de 20 milhões de doses da vacina celebrado com a farmacêutica Precisa. A decisão teria sido uma orientação da Controladoria-Geral da União.
Nesta terça-feira, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com o empresário Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresentou como representante da Davati Medical Supply, para negociar a venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca com o Ministério da Saúde.
OFERTA DE PROPINA – Em entrevista à Folha, Pereira afirma ter recebido o pedido de Roberto Dias de “acrescentar” US$ 1 por dose por fora para o ministério como condição para o negócio. A CPI quer ouvi-lo na próxima sexta-feira, dia 2, segundo o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).
O material denunciando um suposto pedido de propina foi entregue na segunda-feira à CPI da Covid. Ainda de acordo com o relatado à Folha, o denunciante teria oferecido 400 milhões de doses ao governo brasileiro em 25 de fevereiro.
À época, a Fiocruz já havia fechado acordo para produzir 12 milhões de doses de AstraZeneca. O governo brasileiro também já havia comprado 46 milhões de doses de Coronavac do Instituto Butantan. Em 18 de março, iria fechar a compra de 100 milhões de doses da Pfizer e 38 milhões da Janssen.
CONVERSAS DE WHATSAPP – Segundo o senador Alessandro Vieira (Rede-SE), a denúncia chegou à CPI da Covid nesta segunda-feira. A comissão recebeu conversas de WhatsApp sobre a negociação em torno da vacina. Vieira apresentou um requerimento para convocar Dominguetti à CPI, que deve ser votado nesta quarta-feira, segundo ele.
— Já apresentei o pedido de convocação urgente (do denunciante).
Segundo Vieira, porém, o material enviado à CPI não comprova que houve um pedido de propina. São conversas via WhatsApp mostrando que houve a oferta de vacinas que não foi adiante.
LÍDER NEGA INDICAÇÃO – Barros disse, em nota, que não indicou Dias. “Em relação à matéria da Folha de São Paulo, reitero que a nomeação de Roberto Ferreira Dias no Ministério da Saúde ocorreu no início da atual gestão presidencial, em 2019, quando eu não estava alinhado ao governo. Repito a informação que já disse à imprensa: não é minha indicação. Desconheço totalmente a denúncia da Davati.”
Procurado, Roberto Ferreira Dias não respondeu ao contato da reportagem. E O Globo reafirmou que Ferreira Dias é indicado do Centrão, com a atuação do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).