Elio Gaspari
Folha/O Globo
O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM), assumiu o comando da tropa de choque que defende o governo no estrambótico caso da Covaxin com uma afirmação temerária. “Quero lembrar aqui que este governo está no trigésmio mês sem nenhum caso de corrupção. Vou repetir: Trinta meses sem nenhum caso de corrupção e assim ele continuará. Porque gostem ou não, nós somos diferentes.”
Diferenças, sempre as há. Ao contrário de outros candidatos que embolsam dinheiro dos caixas dois de empresas, negam e se protegem com a lentidão da Justiça, Lorenzoni admitiu ter recebido R$ 300 mil da generosa JBS e pagou uma multa de R$ 189 mil. O problema está nas semelhanças.
MARACUTAIA– O caso da Covaxin tomou o devido tamanho porque um servidor e seu irmão deputado (governista) denunciaram a maracutaia. Lorenzoni anunciou que o governo vai processá-los.
O ministro torturou os fatos quando disse “este governo está no 30º mês sem nenhum caso de corrupção”.
Bolsonaro e o doutor Lorenzoni estavam no Planalto havia 12 meses quando o repórter Aguirre Talento revelou que a Controladoria-Geral da União achou um gato na tuba de um edital do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Tratava-se de uma compra de equipamentos eletrônicos para a rede pública de ensino. Coisa de R$ 3 bilhões, valor cerca de duas vezes superior ao total do
30 MIL LAPTOPS – A CGU verificou que uma só escola de Minas Gerais receberia 30.030 laptops, 117 para cada um de seus 256 alunos. Essa desproporção se repetiria em 355 colégios. Além disso, foram encontrados indícios de que o edital estava viciado, beneficiando afortunados fornecedores.
Ao contrário do que está acontecendo com a Covaxin, a girafa foi capturada pelo aparelho de fiscalização do próprio governo. O edital foi suspenso e, mais tarde, cancelado. Se, no caso da Covaxin, a CPI e a torcida do Flamengo querem saber o que aconteceu, no do edital de R$ 3 bilhões o governo premiou-se com um manto de silêncio. Mudaram ministros, trocaram-se presidentes do FNDE e, até hoje, ninguém foi capaz de explicar como o jabuti subiu na árvore. Os autores do edital continuam na sombra.
Se o negócio desse certo, com um pixuleco de 5%, alguém poderia ganhar R$ 150 milhões, dinheiro suficiente para comprar 1,8 milhão de vacinas indianas.