Publicado em 25 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Guilherme Caetano
O Globo
Costurada para fortalecer a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, a reaproximação entre PT e PSB deve encontrar dificuldade em ao menos quatro estados. O movimento de realinhamento foi formalizado pelo PSB com a filiação do governador do Maranhão, Flávio Dino, antes no PCdoB, e do deputado federal Marcelo Freixo, vindo do PSOL. Aliados de Lula, Dino e Freixo dizem querer trabalhar por uma unidade da esquerda na eleição presidencial.
No partido, a avaliação é de que a candidatura do ex-presidente é a mais forte para representar o campo. O PSB, no entanto, vinha caminhando para formar uma terceira via. Desde 2019, o partido integra bloco com PDT, Rede e PV, que já conta com a pré-candidatura de Ciro Gomes.
EM PERNAMBUCO – Um dos estados que deve oferecer resistência ao alinhamento com petistas é Pernambuco. O estado foi palco da principal rixa entre PT e PSB nas eleições municipais, quando os primos Marília Arraes (PT) e João Campos (PSB), atual prefeito do Recife, trocaram duros ataques. Ela o chamou de “frouxo”, e João, pelo voto evangélico, recorreu até ao pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro.
Com Marília enfraquecida no PT após conquistar uma cadeira na Mesa Diretora da Câmara sem apoio da sigla, o governador Paulo Câmara (PSB) e o senador Humberto Costa (PT) têm trabalhado para tentar fechar as feridas no estado. Campos, no entanto, resiste à aliança.
O prefeito é namorado da deputada Tabata Amaral, que procura nova legenda após conseguir a desfiliação do PDT e reluta em embarcar numa sigla que orbite em torno do PT. Campos tem dito que é cedo para definir o rumo do PSB.
CONVERGÊNCIAS — “Nessa questão sobre PSB e PT, o que podemos dizer é que temos muito mais convergências do que divergências. Estivemos juntos em 2018 e sabemos que as duas siglas terão um papel importante no campo progressista em 2022, contra a reeleição de Bolsonaro” — diz Câmara.
No Rio Grande do Sul, estado em que o PSB mais se distanciou das “raízes de esquerda”, a legenda integra o governo de Eduardo Leite (PSDB). O ex-presidente estadual do PSB, José Stédile, é secretário estadual de Obras e Habitação. Leite trabalha para se viabilizar como candidato tucano a presidente no próximo ano.
Outro estado em que as articulações devem se prolongar é o Espírito Santo. O governador Renato Casagrande (PSB) afirmou ao jornal “O Estado de S. Paulo”, ontem, que “gosta da ideia de achar um caminho de uma outra candidatura, em que o PSB possa ser protagonista desse processo”.
MAIS PROBLEMAS – O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) é um nome que pode interferir nessa aliança local. Ele recebeu convite para se filiar tanto ao PT quanto ao PSB, e sua eventual candidatura ao governo do estado pode prejudicar os planos de reeleição de Casagrande. Avalia-se que o governador, por essa razão, evite se posicionar pró ou contra Lula por enquanto.
Em São Paulo, o PSB está nas mãos do grupo de Márcio França, cuja candidatura a prefeito de São Paulo em 2020 foi lançada com apoio de Ciro. França, que foi vice de Geraldo Alckmin (PSDB) entre 2014 e 2018, tem planos para repetir a chapa em 2022.
Em outras regiões, o apoio é natural. Além de Maranhão e Rio, que agora terão a influência de Dino e Freixo, PSB é alinhado ao PT no Amapá, Acre, Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraná e Ceará.
VOLTA À ESQUERDA – Em Santa Catarina, o ex-petista Cláudio Vignatti vem trazendo o PSB no estado de volta à esquerda após passagem do ex-deputado Paulo Bornhausen, considerado um nome da direita, pelo comando estadual. A legenda até comemorou sua desfiliação em 2019, numa nota pública segundo a qual “causava estranheza ao partido sua permanência”.
Recém-filiado, o governador maranhense Dino minimiza as resistências internas no PSB e diz que a reabilitação política de Lula inviabiliza outra candidatura de esquerda, o que não restaria alternativa senão a unidade em torno do ex-presidente. Ele nega, no entanto, que tenha havido garantia de apoio do PSB ao PT para sua filiação.
“Tanto eu como o Freixo defendemos alianças mais amplas do que com o PT. Não seria democrático se a gente condicionasse nossa filiação a uma aliança do partido” — afirma.