por Fernando Duarte
Aliados e adversários de alto coturno - perdoem-me o trocadilho - de Jair Bolsonaro na Bahia estão aguardando o desenrolar do episódio da Covaxin antes de ter um posicionamento mais incisivo na defesa ou no ataque ao presidente. Isso não significa que a arraia miúda, que assiste à CPI da Pandemia numa espécie de camarote VIP não esteja se regozinando. A compra da vacina indiana é um pedregulho e tanto no sapato do governo e a forma como Bolsonaro vai tirá-lo será decisivo para a continuidade do governo.
O principal calo é o líder do governo, Ricardo Barros, puxado para o olho do furacão pelo depoimento do deputado Luís Miranda na última sexta-feira. Como a lógica do quem anda com porcos come farelos não faz muita diferença em tempos de negação da política, o empecilho envolvendo Barros é a exposição do centrão em um escândalo que abalaria os alicerces da República em um passado não muito distante.
Ex-ministro da Saúde de Michel Temer, o atual líder do governo nunca perdeu a ascendência sobre a pasta, ainda quando se fingia de independente do governo. Quando assumiu o vínculo fisiologista do Progressistas (e olha que temos exemplos locais dessa posição), Barros só fez colocar as manguinhas de fora para continuar o modus operandi do sistema político brasileiro. Inclusive, bem brasileiro, tanto quanto a estratégia de Bolsonaro em fingir que é anti-stablishment quando é totalmente parte dele.
Uma das tábuas de salvação do governo - a mais simples - seria entregar o líder no Congresso aos leões. Sem uma relação direta com o governo (acredite quem quiser), Barros seria descartável como outros bolsonaristas de ocasião, como Gustavo Bebbiano, Luís Henrique Mandetta, Sérgio Moro ou até mesmo congressistas ex-amigos como Joice Hasselmman e Alexandre Frota. Porém o ex-ministro da Saúde de Temer tem uma musculatura que esses exemplos não têm. E o arcabouço de um centrão superpoderoso, criado a partir de um governo fragilizado, é que isso pode salvar politicamente uma gestão desastrosa como a atual.
As cartas para a manutenção ou não do governo começarão a ser jogadas ao longo dessa semana, não apenas pela CPI da Pandemia ou pelos movimentos de esquerda e direita (que fingem ser centro), que devem entregar um superpedido de impeachment. Mas principalmente pela base de apoio ao governo no Congresso Nacional, que teve uma figura proeminente tragada para o escândalo da possível compra fraudulenta de vacinas em meio a pandemia. Como esse centrão vai se comportar ao ter que escolher se corta na própria carne, aí veremos a capacidade de sobrevivência dessa aliança fisiológica, mas a única capaz de salvar Bolsonaro do seu próprio veneno.