Pedro do Coutto
Na sessão desta sexta-feira da CPI da Pandemia, os senadores da bancada do governo, sobretudo os parlamentares Marcos Rogério e Fernando Bezerra, tentaram tumultuar o depoimento do servidor Luis Ricardo Miranda e do seu irmão, o deputado federal Luis Miranda, sobre a proposta de venda de vacina Covaxin por preço muito maior do que os oferecidos por diversos laboratórios internacionais, incluindo pagamento antecipado.
O servidor Luis Ricardo Miranda confirmou a sua versão à Comissão de Inquérito já anteriormente apresentada, uma vez que foi objeto de sua entrevista ao jornal O Globo desta semana. O deputado Luis Miranda também confirmou integralmente o diálogo mantido com Bolsonaro sobre o assunto quando o próprio presidente disse que determinaria a investigação pela Polícia Federal, mas que não foi realizada.
TRANSAÇÃO SUSPENSA – Quando cito que a tentativa de tumultuar os depoimentos piorou a situação é porque coloco a seguinte pergunta, e que deve estar sendo posta por todos os leitores: se a proposta de contrato era legítima, por qual motivo o próprio governo, como ficou claro pelas declarações do ministro Marcelo Queiroga, suspendeu a transação?
Se fosse legítima, como Marcos Rogério e Fernando Bezerra buscaram fazer crer, não havia motivo nenhum para que a operação de compra de vacinas com a intermediação da empresa Precisa fosse interrompida.
BLINDAGEM – O presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, irritou-se com a imprensa, culpando os jornais e as emissoras de televisão. Na minha opinião, trata-se de uma pessoa que se investe de uma blindagem que não existe, como se ele estivesse fora de qualquer julgamento em quaisquer circunstâncias que lhe fossem desagradáveis. Em síntese, ele se esforça para criar uma realidade própria, acima da verdade que é colocada de modo geral no país.
Todos perceberam após o dia de ontem que o contrato era totalmente absurdo. O cenário da CPI do Senado mostrou que, ao contrário do que deveria ser, o governo Bolsonaro não se vacinou contra lances de dados financeiros próprios a relacionamentos entre empresas privadas e administrações públicas. Bolsonaro não utilizou a máscara de proteção para evitar que seu governo fosse contaminado pelo vírus eterno da corrupção.