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quarta-feira, junho 30, 2021

Ao elogiar o Partido Comunista da China, Lula deu uma excelente ajuda a Jair Bolsonaro

Publicado em 30 de junho de 2021 por Tribuna da Internet

Luiz Inácio Lula da Silva

Lula disse invejar o ditatorial Partido Comunista da China

Merval Pereira
O Globo

A base da estratégia político-eleitoral do presidente Jair Bolsonaro é colocar-se como único capaz de derrotar Lula e o PT nas urnas, para o bem do país, que, caso contrário, cairá nas mãos dos “comunistas”. Parte dos eleitores foi para Bolsonaro em 2018 devido a esse temor, e as Forças Armadas acreditam que o comunismo é uma ameaça real, não um fantasma alimentado por Bolsonaro.

O desastre do governo já fez com que, segundo recente pesquisa do Ipec, mais de 50% dos seus eleitores tenham desistido de mantê-lo no poder, muitos dispostos a votar no PT desta vez.

O ENIGMA DA CHINA – Sabemos que a China hoje é mais capitalista do que comunista, por isso é um erro estratégico fatal tratarmos a segunda maior economia do mundo como uma inimiga, deixando de lado a oportunidade de compartilhar os avanços tecnológicos e de nos beneficiarmos dos avanços da economia do nosso maior parceiro comercial.

Mas apostar que a China quer se integrar efetivamente ao sistema econômico ocidental, aceitando as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou submetendo-se, embora relutantemente, às normas da Organização Mundial da Saúde (OMS) durante esta pandemia da Covid-19, não significa esquecer que a China é uma ditadura que precisa ser pressionada para que os princípios da democracia avancem, impedindo, ou tornando mais constrangedor, o cerceamento da liberdade de expressão, como fizeram agora com o Apple Daily em Hong Kong.

DISSE LULA – Contrapondo-se à posição esdrúxula do governo brasileiro em relação à China, o ex-presidente Lula deu uma entrevista ao jornal chinês Guancha, em que afirma que aquele país “estabeleceu um modelo de desenvolvimento para o mundo inteiro” e disse esperar que os países aprendam com o exemplo chinês.

Vá lá, mas nunca é demais lembrar que o desenvolvimento econômico chinês, embora louvável, tem aspectos inaceitáveis, como o uso de trabalho escravo, de trabalho infantil, o desrespeito pela propriedade intelectual, para citar pontos cruciais. Além de níveis de pobreza e desigualdade interna dos piores no mundo, mesmo que seja admirável o resgate de milhões de chineses da pobreza extrema nos últimos anos.

Mas foi no aspecto político que Lula errou feio. Ele afirmou que a China “é capaz de lutar contra o coronavírus tão rapidamente porque tem um partido político forte e um governo forte, porque o governo tem controle e poder de comando. O Brasil não tem isso, nem outros países”. Ora, é justamente “controle e poder” de comando que caracterizam uma ditadura.

IMPOSIÇÃO DE IDÉIAS – Partido único com governo forte é a receita perfeita para a imposição de ideias e decisões do Partido Comunista da China, que comemorará seu centenário nesta sexta-feira, 1º de julho. É verdade que, não apenas no Brasil, a relação entre democracia e capitalismo já não é mais tão absoluta quanto foi nos últimos anos do século passado.

Buscam-se modelos para aperfeiçoar a democracia representativa, que tem como um dos pilares a ideia de “uma pessoa, um voto”, criticada na China, pois não levaria às escolhas mais corretas, muito sujeitas a pressões financeiras. Os estudiosos ocidentais do modelo chinês acreditam que eles caminham para a implantação de um sistema político baseado na meritocracia, que resultaria num Parlamento que mais legitimamente representaria o conjunto da população, em contraposição aos formados pelos que se elegem pela força do dinheiro, ou por um dom natural de oratória, ou por ser famosos em seu ofício.

SELEÇÃO NATURAL – Há quem, na China, defenda que essa meritocracia já vem sendo adotada pelo sistema de “seleção natural” de dirigentes dentro do Partido Comunista. O afunilamento na escolha levaria os melhores a galgar degraus na hierarquia.

Não me parece uma solução aceitável, pelo menos no mundo ocidental. O que temos de fazer é buscar a legitimação da democracia representativa por reformas estruturais na educação e na distribuição de renda e das regras eleitorais, para que o cidadão tenha capacidade de escolher melhor candidatos melhores. E não alcançaremos isso com partido único e governo forte.

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