Publicado em 25 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O governo, principalmente através do ministro Onyx Lorenzoni, tentou durante o dia de ontem, quinta-feira, bloquear de todas as formas possíveis o depoimento que Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde e irmão do deputado federal Luis Miranda, apresentará no dia de hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia.
Não adianta qualquer novo esforço, pois a entrevista projetada por Natália Portinari, Julia Lindner e Thiago Bronzatto, no O Globo, baseada numa sequência de perguntas e respostas, já demonstra o que o funcionário irá dizer à CPI.
ANTECIPAÇÃO – Seu depoimento tornou-se público com antecipação de 24 horas, tempo suficiente para produzir efeitos políticos bastantes contundentes à administração de Jair Bolsonaro, recaindo com forte carga de críticas à atitude ou ao silêncio do ministro Eduardo Pazuello.
Luis Ricardo Miranda revela que levou pessoalmente ao presidente da República a denúncia referente aos preços da vacina produzida pela Índia, a Covaxin, muitos superiores a todos os demais preços apresentados, antes da iniciativa sombria do governo brasileiro.
Os preços, conforme a imprensa publicou, eram muito superiores ao valor de cada unidade. Mesmo assim, o Ministério da Saúde procedeu ao empenho financeiro. Na versão de Lorenzoni e do ministro Marcelo Queiroga não foi feito pagamento algum, embora o processo incluísse um pedido de antecipação, ou seja, pagamento antes da encomenda chegar.
QUESTIONAMENTO – “Não houve pagamento”, diz Queiroga e “nem haverá”, acrescentou. O que representa isso? A resposta só pode ser obtida por intermédio de nova indagação: por quais motivos a verba respectiva foi empenhada na contabilidade do governo brasileiro? Não há saída possível, inclusive porque transita na Esplanada de Brasília a versão de que pagamentos estavam pelo menos consignados à empresa indiana.
O fato causou uma explosão no governo Bolsonaro, conforme eu disse no artigo de ontem nesta Tribuna da Internet. Se não houve corrupção, houve tentativa. E se a tentativa não se realizou, e nem se realizará, o país deve à reação de Luis Ricardo Miranda e da imprensa brasileira ao fato que causa perplexidade e que não se limita a aceitar argumentos de que as compras não foram feitas, mas que engloba a possibilidade de terem sido feitas se não fossem as publicações dos fatos.
O sistema defensivo do Planalto foi ultrapassado largamente por aqueles que tentaram obter lucros enormes à custa de centenas de milhares de pessoas que precisam da vacinação apenas para terem o mais elementar dos direitos, o direito à vida, o direito à condição humana.
TEIA DE INTERESSES – O servidor Luis RicardoMiranda foi levado ao presidente Jair Bolsonaro por seu irmão, o deputado Luis Miranda, que chamou atenção devido às falhas em documentos voltados para a aquisição das vacinas procedentes da Índia. O assunto desenvolve-se numa teia dos interesses ilegítimos e de comprometimento de vários personagens tanto por ação quanto por omissão.
Luis Ricardo Miranda tornou-se uma testemunha chave na história da vacina que viria da Índia, vencendo obstáculos da distância e da preferência. Provavelmente o negócio não será mais concretizado, mas essa sombra pode abrigar outras tentativas que ainda não vieram à tona da imprensa, da política e da administração pública.
O dia de ontem nos meios de comunicação definitivamente foi péssimo para o governo que navega sem rumo nas águas revoltas da tempestade de erros.