“Se a Polícia Federal tivesse melhor estrutura, do Amapá à Paraíba, de Minas ao Rio Grande, ia pegar tanta gente que seria necessário construir estádios para prender todo mundo”. A frase é do deputado estadual Adolfo Menezes (PTB) e demonstra a avaliação que ele faz do nível da corrupção no País, contra a qual defende “punições duras como forma de desencorajar o crime”.
Comentando a medida do Ministério Público, que denunciou à Justiça cerca de 30 implicados na “Operação Jaleco Branco”, Menezes disse não acreditar que eles sofrerão qualquer conseqüência, porque, com o atual Código Penal, “mesmo nos casos mais cabeludos bons advogados sempre dão um jeito, aproveitando os recursos possíveis e a própria lentidão da Justiça”.
O parlamentar ressaltou que não é especialista na matéria, e por isso citou recente opinião do advogado Saulo Ramos, ex-ministro da Justiça e ex-consultor-geral da República, segundo a qual os denunciados pelo mensalão não serão punidos. “Esse renomado jurista disse que as opções para adiar um julgamento são tantas que os crimes terminam prescrevendo”.
Para mudar o Código Penal, ajustando-o às reais necessidade do Brasil, Menezes entende que bastaria vontade política, destacando que “se Lula, ou qualquer presidente da República que o tenha antecedido, usasse a mesma força que vem usando para aprovar a CPMF, a reforma jurídica seria feita com rapidez”.
A notícia de que o governo do Estado contratou, com novas empresas, por R$ 700 mil, serviços que antes custavam R$ 3,8 milhões, mostra, para o deputado, que é possível mudar as práticas na administração pública. Mas adverte: “A desonestidade não está presente só na política. Está também na área empresarial, no sistema bancário, no dia-a-dia da sociedade. E educação não basta para resolver o problema. É preciso punição efetiva”. Menezes cita o exemplo da cidade de Nova York, que apresentou em 2007 o menor índice de criminalidade em 40 anos.
“Para isso, foi preciso ir além do que o simples endurecimento dos órgãos de repressão. Foi feita uma verdadeira depuração na estrutura policial para que o crime fosse combatido de verdade. É uma tarefa difícil no Brasil, não tenho ilusões. Mas acho indispensável começar a fazer alguma coisa contra os obstáculos à Justiça”. (Por Luis Augusto Gomes)
PDDU: reunião com João não muda nada e impasse continua
Não foi ainda desta vez que o impasse sobre a votação do projeto do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) teve um ponto final. O resultado da reunião dos líderes dos partidos da base aliada com o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), ontem à tarde, não alterou o drama da tramitação do projeto na Câmara Municipal de Salvador (CMS). Isso porque o prefeito afirmou não ter condições de definir naquele momento se retiraria ou não o pedido de votação da matéria em regime de urgência. A decisão do prefeito deve ser anunciada em uma nova reunião, agendada para as 16 horas de segunda-feira (10).
Apesar de visivelmente frustrados, os participantes da reunião declararam que a expectativa é de que o prefeito realmente retire o pedido, retomando a discussão dos pontos mais polêmicos do projeto. “Na verdade, não houve nenhuma resposta por parte do prefeito. Ele apenas afirmou que não poderia responder agora, porque o assunto precisa passar por uma discussão interna e agendou uma nova reunião. Agora nós vamos continuar esperando que o prefeito se sensibilize e tome a atitude certa, porque o que está em jogo são os interesses de mais de dois milhões de habitantes”, disse a vereadora Olívia Santana, pré-candidata a sucessão municipal de 2008.
“Se o projeto for votado do jeito que está, perde a legitimidade e pode gerar resultados irreversíveis. Nunca fomos contra o projeto, mas desde que o prefeito solicitou que o PDDU fosse votado sob urgência, a Casa se manifestou contrária por unanimidade”, salientou o vereador Virgílio Pacheco, representante do PPS.
“O prefeito está com a faca e o queijo na mão. Se ele tiver a sensibilidade de retirar o projeto da pauta, só vai fazer bem à sua gestão. Ele está correndo o risco de repetir erros graves de outras épocas, antes tanto criticados. Ele não pode perder a oportunidade de entrar para a história como o líder que promoveu a democracia e lutou pelos interesses de quase três milhões de habitantes”, reforçou o deputado estadual Javier Alfaya (PCdoB).
A líder do PT na CMS, vereadora Vânia Galvão, também falou sobre a expectativa sobre a decisão do prefeito. “Acreditamos na sensibilidade de João e continuamos na expectativa de que, para o bem de todos, ele retire o projeto da pauta”, disse. “O PCdoB, apesar de não estar mais na base aliada do prefeito, não está fazendo oposição e nem utilizando o plano para fins eleitorais. Nós apenas não achamos que o plano possa ser votado dessa forma”, completou a vereadora Aladilce, líder do PCdoB na Câmara.
A deputada federal Lídice da Mata (PSB), disse acreditar no poder de diálogo do prefeito, o que resultaria em uma decisão favorável para Salvador. “Se ele pudesse ter nos dado uma resposta hoje (sexta), ótimo. Mas, acredito no poder de diálogo de João Henrique e vejo que esse é o momento de tentar acertar e preservar a própria administração, já que o PDDU não atende aos interesses da cidade”, afirmou.
O secretário de Governo do Município, João Cavalcanti, declarou que o prefeito João Henrique “considerou a reunião proveitosa e não se posicionou de imediato por uma questão de respeito ao Poder Legislativo, já que, desde que o projeto foi enviado à Câmara, está sob responsabilidade dos seus representantes legais: os vereadores”. Cavalcanti disse ainda que, após conversa com o líder do governo na Casa, vereador Sandoval Guimarães, definirá a tramitação do PDDU. (Por Carolina Parada)
Fernandes: "Prefeito é o exterminador do futuro"
O vereador José Carlos Fernandes (PSDB) afirmou ontem que “desta vez caiu a máscara do prefeito que fala uma coisa para o povo e faz outra, enviando um PDDU para aprovação em regime de urgência, que não trata dos principais problemas de Salvador, não prioriza a inclusão social e abre a orla marítima à especulação imobiliária. João Henrique vai ser lembrado como o exterminador do futuro. Ele acusa que “o prefeito entregou 36 mil metros quadrados de áreas verdes, para a instalação de postos de gasolina, no polêmico projeto do Banho de Asfalto e deu no que deu”. O vereador e presidente da Comissão de Planejamento Urbano e Meio Ambiente considera que o prefeito “lava as mãos e diz que o aprovação do PDDU depende da Câmara.”. José Carlos diz que não se trata apenas de ampliar o prazo das discussões mas retirar os quatro artigos que liberam a verticalização e diminuem os recuos laterais e frontais das edificações.
O vereador observa que os artigos foram adicionados depois que o secretário Itamar Batista deixou o cargo, ou seja, “nem no plano previsto anteriormente se falava nesta perda de espaços públicos”.(Por Carolina Parada)
Bispo em greve de fome tem sinais de anemia
O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61 anos, em greve de fome há 11 dias contra a transposição das águas do Rio São Francisco, disse ontem, em Sobradinho (540 km de Salvador), que a “batalha” que trava contra o governo “será longa” e com final “imprevisível”.
O religioso, que já apresenta sinais de desidratação e anemia, afirmou que o apoio que está recebendo torna “irreversível” sua decisão de manter o jejum “até o fim”. Ele condiciona o fim do protesto à paralisação das obras e ao arquivamento do projeto. O governo diz que não recuará.
O bispo aparenta boa saúde. Desde quarta-feira, por recomendação médica, ele bebe soro caseiro ao invés de água e descansa três vezes ao dia. “Me sinto melhor agora do que na primeira greve de fome”, disse, referindo-se ao protesto de 11 dias realizado pelo mesmo motivo, dois anos atrás. “A pressão arterial está normal, e a cabeça funciona bem”, declarou. Ele acredita que pode prolongar o jejum por mais um mês. “Para a ciência, a vida de uma pessoa termina em quatro: quatro minutos sem respirar, quatro dias sem beber água e 40 dias sem comer.”
Em solidariedade ao religioso, várias pessoas que o procuram na igreja de São Francisco, em Sobradinho, realizam jejuns de 24 horas. O local tornou-se ponto de romaria. Todos os dias, fiéis desembarcam de ônibus em frente à igreja para pedir a bênção e tirar fotografias ao lado do bispo.
Cappio passa a maior parte do tempo sentado em uma cadeira de madeira, na sacristia, sob a mira de um ventilador. A porta só se fecha quando ele descansa em um colchão colocado diretamente sobre o piso de cimento vermelho.
Fonte: Tribuna da Bahia
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