BRASÍLIA - A pergunta mais ouvida na capital federal, ontem, era a respeito de quem será o novo ministro da Fazenda. Porque por maior coração de mãe que o presidente Lula possua diante de seus auxiliares, não dá para supor tudo continuando como antes, depois de Guido Mantega haver sido desautorizado explicitamente. Mesmo apressando-se em desdizer o que disse, através de nota oficial na tarde de domingo, o ministro perdeu todas as condições de continuar como chefe da política econômica.
Ameaçou com novos impostos, congelamento da nova política industrial, redução nas despesas de saúde pública e do repasse a estados e municípios. E não ficou nos quatro Cavaleiros do Apocalipse, senão que os transformou em quarenta.
Mesmo imbuído do espírito natalino, o presidente Lula não tem como manter Guido Mantega. O risco é dele mesmo ser atropelado pela negação completa de suas metas, programas e estratégia.
Quem poderá ser o novo ministro? Se tivesse condições, o presidente Lula reconvocaria Antônio Palocci, aquele que deu certo até o momento de mandar invadir o sigilo bancário de um caseiro, testemunha de sua presença em local suspeito. Seria uma prova de coragem do chefe do governo, pois o que interessa ao País é sair do sufoco gerado pela rejeição da CPMF e ver restabelecida a confiança no poder público.
O grupo neoliberal preferiria Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, mas até o PT se insurgiria com a passagem do comando econômico para o mais ortodoxo dos banqueiros, além de tudo, tucano de origem.
Há quem suponha Miguel Jorge sendo promovido, já que o presidente Lula enfatizou a importância de ser implantada sem recuos a nova política industrial. Correndo na raia partidária surge Aloísio Mercadante, ainda que certas pitonisas suponham o presidente dando outro chega para lá no PT e pensando em Francisco Dornelles.
É provável que o Ano Novo venha a romper com o atual ministro da Fazenda ainda no cargo, mas os estragos de sua continuidade parecem definitivos. Por que não Dilma Rousseff, para mais uma vez exercer o papel de salvadora da administração? Paulo Bernardo seria solução pouco imaginativa mas segura. Em suma, abre-se a temporada das especulações, havendo quem sonhe com Papai Noel...
A nudez do rei
Sem poder mais ocultar, é o próprio governo que revela: os recursos da CPMF não se destinavam apenas à saúde pública, ao bolsa-família e ao suposto rombo na previdência social. Pelo menos 38% dos 40 bilhões anuais iam para o pagamento dos juros da dívida pública.
Eis uma verdade que todo mundo desconfiava mas poucos animavam-se a proclamar ou denunciar. Mais do que um horror, a confirmação de que os neoliberais trabalhavam em silêncio, porque esses 14 bilhões iam diretamente para os cofres dos bancos e para o bolso dos especuladores nacionais e estrangeiros.
Quando o presidente Lula prometeu que todo o dinheiro seria encaminhado para a saúde pública, fez acender a luz amarela no semáforo dos privilegiados, mas eles preferiram aguardar.
Não reagiram de público. Agora, andam arrancando os cabelos, pelo menos aqueles que não são carecas, como Guido Mantega e Henrique Meirelles. São esses 38% desviados do imposto do cheque que levaram às ameaças do ministro da Fazenda. Haveria que compensar aqueles que lucram sem trabalhar, de acordo com as normas neoliberais. Como estourou tudo, é bom tomar cuidado. Por menos do que isso eles fazem revoluções...
Não vem que não tem
Acima e além dos investimentos que a Petrobras voltará a fazer na Bolívia, onde a viagem do presidente Lula a La Paz mais agradou Evo Morales foi no recado do governo brasileiro aos governadores das províncias quase rebeladas daquele país, um sonoro "não vem que não tem".
Traduzindo, como o presidente Lula enfatizou ao colega boliviano: não há hipótese de os candidatos a rebelados encontrarem apoio no Brasil, imaginando que poderíamos ver com simpatia a sua independência. Nem uma gota d'água, nem um sorriso, nem um centavo sequer atravessará a fronteira para estimular os inimigos de Evo Morales.
Mesmo submetido a desapropriações, nacionalizações e maus tratos por parte do governo da Bolívia, o Brasil jamais aceitará imiscuir-se em assuntos da política interna de nossos vizinhos, muito menos para favorecer a quebra do seu sistema institucional. O presidente boliviano continuará a receber todo o respaldo a que tem direito como governante eleito pela maioria de seu povo e livre para adotar as iniciativas que bem entender, mesmo aquelas que nos prejudicaram.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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