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terça-feira, dezembro 18, 2007

"Parar as obras, nem pensar"

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto retomou ontem as negociações com o bispo de Barra, d. Luiz Flávio Cappio, há 22 dias em greve, num protesto contra a transposição do rio São Francisco. Pela manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que o fim das obras não está em jogo, mas autorizou auxiliares a discutirem propostas que facilitem o diálogo, como a revitalização do rio e a construção de um milhão de cisternas no Semi-Árido. "Mas parar as obras, nem pensar", ressaltou o presidente.
Assessores do governo avaliam que a folga, até o dia 7 de janeiro, do Exército, responsável pela execução dos trabalhos, cria um clima de "distensão" e "negociação". As obras estão paralisadas no momento por uma decisão judicial.
A combinação do recesso das tropas do Exército com a liminar do Tribunal Regional Federal (TRF) de Brasília abriu uma oportunidade para o governo, que aproveitou a situação para formular ao bispo uma saída honrosa da greve de fome. A paralisação forçadas das obras seria o pretexto.
Cisternas
Em uma conversa por telefone no sábado, um padre ligado a d. Cappio propôs a Gilberto Carvalho, assessor direto do presidente, que o governo retomasse o projeto de construção de cisternas, que estava engavetado desde 2003. Isso facilitaria a negociação.
Ainda no sábado, Carvalho teve um telefonema de dez minutos com o próprio d. Cappio, que reclamou da "insensibilidade" do governo. Dom Cappio, no entanto, disse que iria conversar com pessoas próximas sobre o projeto de construção de cisternas.
Mais tarde, um assessor do bispo telefonou para dizer que só haveria conversa se as obras fossem mesmo interrompidas. Ontem, no final da manhã, Gilberto Carvalho esteve na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a convite do secretário-geral da entidade, d. Dimas Barbosa, acompanhado de técnicos do governo.
Lula orientou o assessor a discutir com d. Cappio apenas projetos de revitalização e construção de cisternas. A suspensão temporária das obras é uma saída honrosa para ambos os lados, disse uma fonte da Igreja.
Do lado de fora do Planalto, na Praça dos Três Poderes, simpatizantes de Cappio fazem jejum em solidariedade ao bispo. À tarde, um grupo de 11 pessoas ligadas a movimentos como Via Campesina e Centro de Estudos Bíblico cobrava do governo uma postura de negociação.
Apoio ao bispo
Em diversos estados houve vigílias e jejuns de apoio a d. Cappio. A Frente Cearense contra a Transposição do Rio São Francisco realizou no estado um dia de vigília e jejum. A manifestação começou ao meio-dia de ontem e termina hoje ao meio-dia.
Em Fortaleza, o protesto acontece na Praça da Igreja de Nossa Senhora das Dores, em Otávio Bonfim. Cinco pessoas entraram em jejum em solidariedade à greve de fome que o bispo de Barra. "Esta semana será decisiva para a vida do d. Luiz e ainda temos o julgamento da ação do Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília, que suspendeu as obras da transposição", disse uma das organizadoras da Frente Cearense, Francisca Sena.
Sobre a orientação do Vaticano de que d. Cappio encerre a greve, Francisca Sena afirmou que se trata de uma estratégia de parte de lideranças religiosas que "não representa o todo dos católicos". No Ceará, a vigília é realizada também em Crateús, Crato, Sobral, Limoeiro do Norte, Tianguá, Iguatu e Itapipoca.
Em Fortaleza fazem jejum o padre Lino Alegri, a irmã de caridade Clarisse, a professora universitária Adelaide Gonçalves, a índia Maria Amélia e a religiosa Senhorinha Soares. Em Florianópolis (SC) Em Florianópolis, 20 pessoas se reuniram na Catedral Metropolitana da cidade, no Centro, para jejuar das 8 às 18 horas em solidariedade à greve de fome de d. Cappio.
Entidades como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), MST e Grupo de Ação Social Arquidiocesana de Florianópolis apoiaram a manifestação e se organizaram para divulgar, através de panfletos, algumas saídas para a não transposição do rio São Francisco.
"Existem outras propostas, mas o governo insiste em não ouvir", declarou ontem Clóvis Driguetti, membro do CIMI catarinense e um dos que jejuavam na Catedral. "Estamos cumprindo a orientação nacional da CNBB e jejuando por um dia. Gostaríamos de ver reaberto o canal de diálogo entre o governo e a sociedade, representada neste caso por d. Cappio, no sentido de discutirmos a revitalização do rio, em atendimento à população de todo Nordeste brasileiro", informou Driguetti.
Para a Cordenadora Estadual da Comissão Pastoral da Terra, Ivonete Morais, que também jejuou e ajudou a organizar a manifestação em Florianópolis, a missão foi cumprida. "É muito importante ver nossas idéias sendo discutidas e esperamos que as pessoas do nosso governo se sensibilizem e voltem a discutir a situação do São Chico". Às 18h15 foi celebrada missa, na Catedral, que marcou o término do jejum e homenageou d. Cappio e sua luta.
Ambientalistas
Sete ambientalistas do Rio Grande do Sul iniciaram ontem um jejum de 48 horas em solidariedade ao bispo. O grupo reúne representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Caritas, Comissão Pastoral da Terra (CPT), estudantes e ecologistas.
Durante a manifestação, no saguão do Tribunal de Justiça, na Praça Marechal Deodoro, eles pedirão mensagens de apoio ao religioso às pessoas que passarem pelo local e se limitarão a ingerir água. A mobilização deve terminar ao meio-dia de amanhã, dia em que a Justiça vai julgar uma ação que pede a suspensão das obras.
O jejum - como em outras partes do País - é acompanhado de atos de solidariedade ao bispo, dos quais participam simpatizantes da causa. Ontem, cerca de 50 pessoas se reuniram aos manifestantes para uma celebração na capela da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
O biólogo Paulo Brack, coordenador da Assembléia Permanente da Entidades em Defesa do Meio Ambiente, destacou que o que está em jogo não é apenas uma obra, mas um modelo de desenvolvimento. "No Sul também temos projetos, resgatados dos anos 70, que destinam dinheiro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) a usinas hidrelétricas que vão desalojar milhares de pessoas no rio Uruguai", compara, sugerindo que o governo opte por barragens de menor impacto social e ambiental e por fontes alternativas como a energia eólica.
Em Manaus, 18 pessoas fizeram jejum durante o dia ontem na igreja São Sebastião, no Centro da cidade, em apoio à greve de fome de d. Cappio contra o projeto de transposição do rio São Francisco. Das 7h30 da manhã até as 20 horas, freis, freiras, padres franciscanos e da Cáritas e jovens da Renovação Carismática da Igreja Católica ficaram em oração dentro da igreja.
Abaixo-assinado
Na entrada do templo, um abaixo-assinado com 183 nomes assinados até as 16 horas de ontem (horário local) mostra o número de pessoas que passou pelo local, principalmente durante a missa diária do meio-dia, que costuma atrair cerca de 200 pessoas.
"As pessoas têm parado para perguntar, vendo as faixas na frente da igreja e acabam se solidarizando com o protesto de d. Cappio", afirmou a coordenadora da Caritas no Amazonas, irmã Iriete Lorenzzetti. "Primeiro o governo baiano deveria construir cisternas e depois o rio São Francisco precisa ser revitalizado para canalizar para a população mais carente e não ser transposto para servir exclusivamente ao agronegócio".
De acordo com a freira, o protesto no Amazonas é também pelo "desrespeito à água dos igarapés com o projeto do governo do Estado, o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim)". O projeto constrói novas casas aos moradores de palafitas, mas soterra os igarapés, sem tratá-los e revitalizá-los.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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