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quarta-feira, dezembro 26, 2007

A consulta sobre o terceiro mandato

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Ignora-se o que Papai Noel trouxe ontem para os candidatos à presidência da República, porque, se receberam pacotes de esperança, também poderão ter recebido embrulhos de desilusão. De qualquer forma, vale registrar uma pesquisa que passou meio encoberta neste final de ano, feita pela Sensus e divulgada apenas pelo colunista Cláudio Humberto. Parece ter sido realizada como rescaldo ou sobra de recursos de outras pesquisas, promovida apenas para efeito de fechamento de contas entre a empresa e seus clientes.
O que importa é que, significativamente, pela primeira vez, mesmo com divulgação restrita, foi feita a pergunta que não quer calar, omitida pelos demais institutos de pesquisa ao longo dos últimos meses. Qual a preferência dos consultados se o presidente Lula disputasse a eleição de 2010?
Surpresas, propriamente, não se registraram nas respostas. Lula bateu José Serra e Aécio Neves por larga margem. Ciro Gomes e Heloísa Helena, mais ainda. Por questão de profilaxia, não foram cotejados os percentuais de um hipotético presidente-candidato ao terceiro mandato com possíveis pretendentes do PT.
Alguém duvidava desses resultados? É aqui que mora o perigo: ninguém. Não significa, este registro, estarmos defendendo o continuísmo. Muito pelo contrário, seria abominável caso o presidente Lula adquirisse o direito de pleitear nova eleição. Estaria o País ingressando no portal da ditadura.
Devemos fechar os laboratórios de meteorologia só porque eles são capazes de prever a tempestade? Necessário se torna esmiuçar a hipótese do terceiro mandato, no mínimo para alertar e, quem sabe, contribuir para que não se concretize. Mas ele acaba de marcar presença, em especial pela resposta dos consultados...
Café-com-leite
Coincidência ou não, cresceu de uns dias para cá no ninho dos tucanos a perspectiva de se unirem os dois pré-candidatos mais fortes, José Serra e Aécio Neves. O governador de Minas, mesmo sem reconhecer de público, estaria propenso a aceitar a vice-presidência na chapa encabeçada pelo governador de São Paulo. Com determinadas condições, é claro, a começar pela proibição da reeleição, de forma a permitir ao vice tornar-se candidato a presidente no período de governo subseqüente.
É cedo para maiores incursões, até no reino das especulações, porque sendo 2008 ano de eleições municipais, quem garante que Aécio Neves não elegerá a maioria dos prefeitos mais expressivos de Minas, enquanto José Serra, no reverso da medalha, sairá derrotado na capital e em outras cidades importantes de São Paulo? Nesse caso, entraria em campo a inversão da chapa?
Um efeito despertará de imediato essa tentativa de fusão de interesses entre os dois governadores: afasta-se a sombra da candidatura do sociólogo, que continua não pensando em outra coisa.
Parecem o Joãozinho
Todo mundo lembra da piada do Joãozinho, aquele menino que só pensava "naquilo". Com todo o respeito e guardadas as proporções, o Joãozinho deste final de ano é o Conselho de Ética, formado à sombra do Palácio do Planalto. Não se passa uma semana sem que os doutores deontólogos (porque ética, para os sofisticados, chama-se deontologia) insistam na ridícula recomendação para o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, optar entre o ministério e a presidência do PDT.
Alhos nada têm a ver com bugalhos, inexiste na lei qualquer impedimento para o acúmulo de funções partidárias com funções administrativas, mas o Conselho de Ética dá a impressão de andar sem pauta nem agenda, porque só pensa naquilo.
É preciso descer um pouco mais ao fundo do poço. Existe um espírito-santo-de-orelha estimulando essa blitz contra Lupi. E só pode ser alguém muito bem posicionado no Palácio do Planalto. Exclua-se liminarmente o presidente Lula, mas, abaixo dele, os demais são suspeitos. Por que pretendem Carlos Lupi fora do ministério ou afastado da presidência do PDT?
As opiniões se dividem. Entendem uns estar em desenvolvimento uma trama para, ano que vem, o governo enfiar goela adentro do Congresso a reforma trabalhista, porque Lupi é o único ministro a se insurgir de público contra a supressão dos últimos direitos sociais que sobraram para os assalariados. Mantém-se firme na defesa dos ideais de Leonel Brizola.
Outra razão dessa animosidade contra o ministro do Trabalho poderia situar-se na tentativa de enfraquecimento do PDT, para que funcionasse como linha auxiliar do PT, nas eleições municipais do ano que vem e, em especial, na sucessão de 2010.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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