Publicado em 7 de maio de 2023 por Tribuna da Internet
Roberto Nascimento
A vassalagem do tenente-coronel Mauro Cid, na função de ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, foi de uma imbecilidade sem tamanho. De que adianta ser filho do renomado general Mauro Cid e ter sido sempre primeiro colocado nos cursos superiores do Exército, se não é capaz de distinguir uma ordem acertada e uma ordem absurda?
Seu pai, o general Mauro Cesar Lorena Cid, era velho amigo de Jair Bolsonaro e entrou para reserva em 2019 para assumir um cargo de confiança como chefe do escritório em Miami da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), um dos mais bem pagos do órgão, recebendo em dólar.
UM MILITAR SERVIÇAL – Em 2018, seu filho, o tenente-coronel Mauro Cid, estava pronto para assumir uma função nos Estados Unidos quando foi designado para ser ajudante de ordens de Bolsonaro, que tomaria posse em janeiro de 2019.
No importante cargo, o primeiro da turma não teve o discernimento de evitar cumprir ordens absurdas. Pelo contrário, empenhou-se entusiasticamente para concretizá-las, sem jamais questionar sua legalidade.
Por diversas vezes, como no caso das joias e na fraude das vacinas, o oficial extrapolou nas funções, para agradar ao chefe, embora nenhum militar seja obrigado a cumprir ordens superiores que não estejam absolutamente dentro da lei.
DISSE O ADVOGADO – Assisti à entrevista concedida ao programa “Estúdio I” por Rodrigo Roca, advogado de Mauro Cid, que estava defendendo Anderson Torres e abandonou a causa, sem que ninguém saiba a razão.
Visivelmente constrangido, a advogado Rodrigo Roca foi apertado pelos jornalistas Andreia Sadi e Octavio Guedes sobre a participação de Bolsonaro na falsificação da carteira de vacinação, e respondeu que o ex-presidente nada tinha a ver com o caso, insinuando que a culpa única seria de seu cliente.
Ora, o tenente-coronel Mauro Cid deveria desconstituir imediatamente esse advogado, por falta de fidelidade ao cliente, já que afirmou que a iniciativa de fraudar os certificados de vacinação teria sido do militar. E se Mauro Cid não demitiu Rodrigo Roca, isso significa que a tentativa de blindar Bolsonaro estaria combinada entre o advogado e o cliente. Só isso explicaria tamanho absurdo. Afinal, o cliente do advogado é o tenente-coronel Mauro Cid ou o ex-presidente Bolsonaro?
DETALHES DO GOLPE – A entrevista foi um festival de dissimulação, com o advogado dizendo “não fui informado”, “não li o inquérito”, “não me debrucei sobre isso”, “não conversei com o cliente”.
Tudo isso faz parte da estratégia da defesa, porque existe sigilo entre advogado e cliente. Ou seja, Mauro Cid vai defender Bolsonaro até o fim.
Mais importante ainda são os detalhes que corroboram enfaticamente a tentativa de golpe contra a democracia, especialmente a troca de mensagens entre o tenente-coronel Mauro Cid e o major bolsonarista Ailton Barros.
UM MORTO-VIVO – Expulso e dado como “morto” pelo Exército, Barros está mais vivo do que nunca, continua pagando pensão de R$ 22 mil à sua suposta viúva e no diálogo com Mauro Cid afirma saber quem mandou matar a vereadora Marielle Franco.
Como se vê, ainda não pode ser considerada desfeita a trama macabra destinada a manter esse grupo de loucos indefinidamente no poder.
Esta novela parece interminável e tem efeito colateral de eternizar uma polarização que não interessa ao país.