Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

sábado, junho 05, 2021

Sobre o caso Pazuello, diz Rodrigo Maia que “Brasil está virando uma Venezuela de direita”

Publicado em 4 de junho de 2021 por Tribuna da Internet

Rodrigo Maia

Maia diz que há uma tentativa clara de enfraquecer as instituições

Anne Warth
Estadão

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foi presidente da Câmara por quase cinco anos, afirma que o País vive o risco do autoritarismo, numa situação semelhante à da Venezuela nos anos de Hugo Chávez. Ele avalia que a subserviência demonstrada pelo Exército ao presidente Jair Bolsonaro no episódio envolvendo o general Eduardo Pazuello enfraquecerá ainda mais a democracia brasileira. E acrescenta que o mercado não pode aceitar migalhas na aprovação de projetos econômicos e fechar os olhos para a escalada do autoritarismo.

“Muitos dos que defendem a democracia liberal precisam olhar essa tentativa permanente do governo de impor uma agenda autoritária ao Legislativo e ao Judiciário, de intervenção permanente nas Forças Armadas, de apoio a atos antidemocráticos. Precisamos parar de acreditar que há composição com alguém que não quer composição com as instituições democráticas”, disse, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Em que sentido o Brasil se aproxima da Venezuela chavista?
Lá, há uma tentativa de intervenção clara no processo eleitoral, no Judiciário, nas Forças Armadas, com participação maior depois da tentativa de golpe em 2002, intervenção nas empresas de petróleo. Tudo isso acontece aqui também. Há uma organização de milícias, desconectando as polícias militares dos comandos estaduais e dos governadores. Um ataque permanente à imprensa. Tivemos uma tentativa de interferência nas pautas do Congresso em 2019 e 2020, que de forma nenhuma aceitamos. Com a eleição de candidatos apoiados pelo governo na Câmara e no Senado, vemos uma tentativa de avanço de uma agenda atrasada de flexibilizar o licenciamento ambiental, mineração em terras indígenas, homeschooling (ensino doméstico). Ataques permanentes a mim, aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), à imprensa, de testar limites. Se não tivermos uma atitude de liderança como a que teve Winston Churchill (primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial), se deixarmos as coisas acontecerem como deixou a sociedade venezuelana, vamos para o mesmo caminho. Chávez fez uma mudança constitucional que abriu caminho para interferência no Judiciário e na imprensa. O Brasil está virando uma Venezuela.

De que forma o Congresso pode reagir a essa intervenção nas Forças Armadas?
É preciso dar uma resposta clara ao que aconteceu ontem com a falta de punição a Pazuello. A aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que impede militares da ativa de ocupar cargos políticos no governo, seria uma demonstração clara da sociedade de que não aceita mais intervenção do presidente nas Forças Armadas e de que quem está na administração pública precisa ir para a reserva. Partidos que hoje integram a base do governo, como PSDB, DEM, MBD, PSL, precisam compreender que não se pode misturar a base governista e a base democrática.

Quem no Brasil pode fazer esse papel de liderança que Churchill teve?
Muitos no Brasil têm esse olhar, essa resistência e perseverança. Temos que cobrar dos democratas uma economia de mercado, movida pela força do setor privado, com instituições democráticas e um olhar social, como o da chanceler Angela Merkel na Alemanha. Pequenos ganhos não serão ganhos se a nossa democracia estiver em jogo, se não houver defesa das instituições democráticas e do meio ambiente. Churchill ficou isolado, quase caiu, todo o entorno de seu governo defendia um acordo com o nazismo, como se o nazismo não fosse avançar sobre o Reino Unido em seguida. Churchill fez um discurso histórico, ganhou o apoio da monarquia, recuperou o do partido e a história mudou dali para frente. Líderes autoritários podem ser vencidos e eu acho que é nisso que precisamos focar.

Não poderia haver um composição política?
Muitos dos que defendem a democracia liberal precisam olhar essa tentativa permanente do governo de impor uma agenda autoritária ao Legislativo e ao Judiciário, de intervenção permanente nas Forças Armadas, de apoio a atos antidemocráticos. Precisamos parar de acreditar que há composição com alguém que não quer composição com as instituições democráticas. É preciso ter coragem para falar, e eu tenho falado, sofrido ameaças, assim como a minha família, e em nenhum momento recuei como brasileiro e deputado. Se não houver imposição de um limite, Bolsonaro vai avançar, e isso tira a força da nossa democracia. Há uma grande diferença entre Bolsonaro e os políticos forjados no enfrentamento da ditadura, e infelizmente não há como compatibilizar o pensamento do governo e o dos que defendem a democracia.

Qual o papel dos partidos de centro nesse cenário?
Está na hora de o centro democrático parar de defender candidaturas individuais e construir um processo democrático, por meio do se conquiste o apoio do eleitor para conseguir, de forma democrática, tirar o presidente do segundo turno. Essa seria uma enorme vitória para a democracia brasileira em 2022. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem muitos defeitos, mas nunca avançou sobre a democracia. Se temos quatro ou cinco candidatos no centro, eles precisam se unir e criar uma agenda, um fato novo, reafirmar seus valores democráticos e a defesa de uma economia liberal, de redução das desigualdades. É preciso parar de olhar projetos individuais e focar em um projeto coletivo. Temos hoje duas candidaturas, Bolsonaro e Lula, e o nosso campo não vai conseguir criar uma candidatura com chance de vitória se todos não se unirem num único campo, formado por políticos experientes e jovens, por um projeto de Brasil em que as pessoas voltem a ter esperança.

Como conquistar o eleitor bolsonarista e atraí-lo para o centro?
O grande erro das eleições de 2016 nos Estados Unidos e da candidatura de Hillary Clinton foi desqualificar os eleitores de seu adversário. Nós temos responsabilidade sobre isso também. Temos que dialogar e mostrar os erros do governo. Há muitos que votaram em Bolsonaro por exclusão, em busca de uma alternativa a Lula. Precisamos agora de uma alternativa que não seja votar em Lula para tirar o Bolsonaro. Para isso, precisamos de um projeto de redução de desigualdades, de recuperação da esperança, para aqueles que não conseguiram educação de qualidade e a ascensão econômica e social que esperavam e que por isso votaram em Bolsonaro, e que no passado votaram em Lula.

Em destaque

"Entre a Propaganda e a Realidade: O Desafio da Saúde Materna em Jeremoabo"

Esse é um exemplo gritante da desconexão entre o discurso propagandístico e a realidade vivida pelos cidadãos. O caso evidencia uma série de...

Mais visitadas