Pedro do Coutto
Os três principais jornais do país, O Globo, a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo, publicaram nesta terça-feira, com grande destaque, a atitude do governo Bolsonaro dispondo-se a aceitar a realização da Copa América no país apesar da pandemia que já matou mais de 460 mil brasileiros e que continua sob um ritmo diário assustador. O problema é gravíssimo, todos concordam, mas o governo parece que ignora.
Para o Censo não houve recursos financeiros, para a Copa América não houve problemas. O contexto revela em toda a sua plenitude a desorientação do governo no país. Os órgãos de comunicação, dirigentes esportivos, infectologistas e profissionais da área médica de forma geral temem que a realização de um torneio desta ordem poderia aumentar ainda mais a velocidade da contaminação, além das graves consequências que poderão ser geradas.
DELEGAÇÕES – É preciso considerar que mesmo sem público, teremos a presença de delegações estrangeiras em um momento em que todo o mundo continua a se acautelar em relação à propagação do vírus.
As cepas são um tormento em sequência na pandemia. A diversificação da virose é assustadora, mas o Planalto parece não concordar. O vice-presidente Hamilton Mourão acredita que se não houver espectadores não teremos maiores problemas. Mas isso, digo eu, não afasta a possibilidade de contaminação. No O Globo, a reportagem é de Athos Moura, Dimitrius Dantas e Jussara Soares e no Estado de São Paulo é de Lauriberto Pompeu. Na FSP a matéria saiu sem assinatura.
A questão que se coloca refere-se inclusive ao risco de nova onda da pandemia em um ambiente de alto risco para todos. Até o momento, o governo não conseguiu frear a contaminação e reduzir os casos fatais. O ritmo continua o mesmo. Tenho dito aqui que o ministro Marcelo Queiroga precisa controlar a contaminação, mas não é fácil, ainda mais pelo fato de o presidente Bolsonaro acelerar a incidência do problema. Vamos ver se o bom senso predomina porque as manifestações contrárias à Copa América estão se desencadeando com grande vigor.
CRISE HÍDRICA – Na Folha de São Paulo, Bernardo Caram e Washington Luís publicou reportagem sobre a crise hídrica que se reflete no esvaziamento dos reservatórios ameaçando a produção de energia elétrica que é vital para todos. O nível de reservatórios desceu muito pela falta de chuvas, mas é preciso ver como está o comportamento dos recursos hidrológicos das diversas regiões do país.
Não apenas para tentar resolver a emergência, mas para evitar que casos assim se repitam sem interrupção. O problema basicamente é o seguinte: falta ao Brasil uma rede de transmissão adequada que permitiria a produção de energia hidrelétrica nas áreas em que não houvesse desabastecimento e isso evitaria que fossem acionadas as termelétricas.
As linhas de transmissão são fundamentais para se enfrentar a queda do nível dos reservatórios do país. Faltando energia, falta tudo, inclusive falta previsão e imaginação para evitar a repetição de crises como essa atual.