BRASÍLIA - Pressionado por quatro processos por quebra de decoro, o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou ontem ao Congresso, depois de dez dias de licença médica, com a missão não mais de voltar ao cargo principal da Casa, mas para tentar salvar seu mandato.
Fora do Congresso há 25 dias, desde que se licenciou da presidência da Casa por um período de um mês e meio, em 11 de outubro, Renan decidiu reassumir o mandato "com discrição", para se dedicar integralmente à sua defesa no Conselho de Ética.
Embora setores do governo torcessem para que ele renovasse a licença médica por mais dez dias, para evitar qualquer turbulência política, durante as negociações para prorrogar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), senadores de seu grupo concordam que ele deveria voltar o quanto antes.
"Estava passando da hora de Renan entrar no comando da operação resgate de seu próprio mandato", disse um amigo do presidente licenciado. "Renan volta calçando as sandálias da humildade", completa o senador do grupo Renan.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), foi o primeiro a visitá-lo no gabinete parlamentar da ala "Afonso Arinos", que passou a ocupar no início do ano, quando cedeu às instalações antigas da ala Teotônio Vilela ao colega José Maranhão (PMDB-PB).
"Vim dar um abraço e pedir o voto dele para a CPMF. Eu preciso de Renan no Senado", disse o líder no início da noite de ontem. Indagado sobre o voto do presidente licenciado, Romero Jucá contou que o próprio Renan fez questão de frisar que faz parte da base aliada.
Em conversas reservadas, o presidente licenciado da Casa tem deixado clara sua preocupação em não criar qualquer dificuldade ao governo neste momento. "Não posso ser acusado de criar problemas com a CPMF. Não posso pagar este preço", argumentou a um peemedebista.
A chegada de Renan ao gabinete de apoio surpreendeu até os assessores mais próximos, que o aguardavam apenas hoje. O senador, no entanto, fez questão de reassumir o mandato parlamentar para que pudesse "tomar o pulso" do plenário e se certificar dos votos com os quais poderá contar para se livrar da cassação.
Um senador de seu grupo afirma que nem mesmo a licença médica o imobilizou. Ao contrário, Renan aproveitou os dez dias de descanso forçado para intensificar os contatos telefônicos com senadores da base aliada e da oposição.
O relatório do primeiro dos três processos que tramitam contra ele no Conselho de Ética só será apresentado na próxima semana. O relator Jefferson Péres (PDT-AM), que investiga a denúncia de que Renan teria usado "laranjas" na compra de um jornal e de uma emissora de rádio em Alagoas, prometeu concluir seu trabalho no dia 14.
A primeira providência de Renan, na chegada ao gabinete, foi comunicar seu retorno ao presidente interino, Tião Viana (PT-AC), ao presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e ao líder Jucá. A quem o questionou sobre seu retorno ontem, Renan explicou apenas que havia concluído os últimos exames médicos na quinta-feira.
Contou que fez uma prova de esforço e se saiu muito bem, e que fez até exame de vista. Como os médicos não fizeram nenhuma restrição a que voltasse ao trabalho, não havia porque renovar a licença.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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