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quarta-feira, novembro 28, 2007

Só cresce quem gasta

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Vamos dar razão ao presidente Lula, hoje: ele declarou que "não se consegue governar o País sem aumentar os gastos públicos". No caso, governar bem. Porque, para governar bem, torna-se necessário criar novas universidades e novos hospitais, recuperar rodovias, implantar ferrovias e melhorar os portos, para começar.
Como promover essas realizações sem gastar? Sem professores as universidades não funcionam, como os hospitais de nada valerão, sem médicos. Deixar as rodovias destroçadas como forma de diminuir gastos públicos é bobagem, da mesma forma como não investir no transporte ferroviário será contribuir para o estrangulamento da economia. Coisa igual para os portos e tudo o mais.
Alguns ingênuos e um número bem maior de malandros fingem espanto diante do aumento dos gastos públicos, certamente porque pretendem reduzir o Estado à sua expressão mais débil, em favor da iniciativa privada. Mas essa, quando se expande, não gasta? Para atender seu crescimento, a iniciativa privada não precisa vender mais? Ou até aumentar os preços de seus produtos? Por que seria diferente com o poder público e seus investimentos?
Aconteceria o quê, se permanecesse o País na mesquinha estratégia de não gastar e até de cortar gastos públicos? Governo, para certas camadas elitistas, serve apenas para financiar empreendimentos privados. Nesse particular, não pregam a diminuição de despesas.
Previsão inevitável
Para o presidente interino do Senado, Tião Viana, é grande o risco de prosperar a tese do terceiro mandato, tendo em vista o enfraquecimento das instituições nacionais, a começar pelo Legislativo. Apenas com um Congresso fortalecido seria possível evitar o casuísmo.
Se for assim, melhor o País conformar-se em ter o Lula por mais um período de governo, mesmo em se tratando de mudança nas regras do jogo depois dele começado. Porque as instituições continuam em marcha batida para a desmoralização, com o Legislativo à frente. Basta atentar para pesquisas recentes para se aferir a imagem do Congresso junto à opinião pública.
A gente não sabe se Tião Viana falou como adversário ou como adepto do terceiro mandato, mas a conclusão de seu diagnóstico é uma só: parece inevitável...
Do Alasca a Bangladesh
Na nova direção do PSDB está sendo criado um grupo de trabalho destinado a levantar quantos seminários sobre o futuro do planeta se realizarão no ano que vem. Se possível, até, ainda este ano. Pesquisa-se o mundo inteiro, do Alasca a Bangladesh, para saber quantas universidades, ONGs, centros de altos estudos, escolas de educação superior e até governos encontram-se realizando ou planejando realizar debates, até mesmo sobre o sexo dos anjos.
O objetivo é um só: inscrever o sociólogo em todos esses eventos, de forma a que até 2010 ele passe o tempo todo expondo seu brilho invulgar em palestras e conferências lá fora. Apenas assim os tucanos imaginam poder dispor de tranqüilidade para traçar suas metas político-eleitorais sem a explosiva participação de Fernando Henrique Cardoso, que parece haver pirado de vez.
Na semana que passou ultrapassaram todos os limites as agressões do ex-presidente ao sucessor, ao governo e à população sem diploma universitário e monoglota. Não demora muito, se continuar em território nacional, estará pregando o "tiro ao tucano" e, quem sabe, a revogação da Lei Áurea. Melhor que se dedique a funções acadêmicas pelo mundo, com despesas pagas pelo partido.
Colete à prova de balas
Anuncia-se para sexta-feira a ida do presidente Lula às favelas do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Deverá inaugurar obras do PAC naquela área conflagrada e entregue ao tiroteio entre policiais e traficantes. Ignora-se qual o conselho dado ao chefe do governo por sua assessoria de segurança, certamente contrária, mas, se Lula insistir em estar presente, que no mínimo compareça usando um colete à prova de balas.
O policiamento ficará a cargo do Exército, claro que sem dispensar as polícias civil e militar do Rio de Janeiro. A pergunta que se faz é se um presidente da República tem o direito de se expor dessa forma. Seria o mesmo, ou pior, do que o presidente George W. Bush comparecer para a inauguração do Monumento ao Soldado Assassinado no centro de Bagdá.
Os líderes dos traficantes não são bobos, estarão desde já recomendando às respectivas quadrilhas que tomem férias, vão veranear em outras favelas e até distribuirão bandeirinhas brasileiras para as crianças das comunidades. O problema é que tanto lá como cá existem os aloprados. Doidos varridos que poderão muito bem imaginar que a tropa subirá o morro não para proteger o presidente da República, mas para prendê-los. Nesse caso, será tiroteio na certa, mas com o Lula no meio?
Fonte: Tribuna da Imprensa

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