Fonte Nova terá na demolição o seu epílogo
Jony Torres
A morte de sete torcedores provocada pela falta de manutenção adequada em suas estruturas foi o último capítulo da outrora imponente Fonte Nova. A decisão de demolir o estádio e construir uma nova praça esportiva no mesmo local foi anunciada ontem pelo governador Jaques Wagner. O custo da obra, orçada inicialmente entre R$300 milhões e R$350 milhões, será bancada através de uma parceria público-privada (PPP) ou com recursos do próprio estado.
O novo empreendimento não deve se limitar à prática de esportes como atletismo e futebol, possibilitando também a utilização da infra-estrutura para o funcionamento de um shopping center e um estacionamento. Através da assessoria de comunicação do governo do estado (Agecom), Wagner informou que já tem um projeto em análise. “Todos sabem da minha inclinação em implodir a Fonte Nova. Isso já foi dito diversas vezes antes da tragédia do domingo”, declarou.
Indefinição - A determinação de construir um novo estádio foi anunciada pelo governador na Suíça, após a confirmação pela Fifa, no mês passado, do Brasil como sede da Copa do Mundo em 2014. Segundo Wagner, algumas empresas já manifestaram o interesse em financiar o novo estádio.
Com a interdição da Fonte Nova, ainda não se sabe onde será realizado o jogo da Seleção Brasileira pelas eliminatórias para a Copa de 2010. Também não há data para o início ou o término das obras. Segundo especialistas, somente o processo de planejamento, implosão e retirada do material deve durar seis meses.
Depois de fazer uma vistoria na Fonte Nova, o presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da Bahia (Crea-BA), Jonas Dantas, achou que seria muito elevado o preço para colocar o equipamento novamente em condições de uso. “É uma avaliação preliminar, mas, no mínimo, seriam gastos uns R$200 milhões para requalificar este estádio. São necessários muitos reparos estruturais”, afirmou.
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Duelo de tricolores
Apesar das cinco decisões nacionais realizadas no estádio, as arquibancadas da Fonte Nova abrigaram o maior público oficial de sua história em um duelo de tricolores. Em 1989, o Bahia venceu o Fluminense por 2x1, diante de 110 mil pessoas. Não havia lugar para mais ninguém e os torcedores ficaram espremidos. Poucos pisavam o chão, mas a maioria vibrou de alegria com a classificação para a final. Duas semanas depois, com Bobô no campo, veio o posterior título de campeão brasileiro, o único do tricolor desde o início da disputa do certame em 1971. No mesmo gramado, quatro anos depois, o Vitória perdeu para o Palmeiras e ficou sem o mesmo título que o rival.
O campo ainda foi invadido por centenas de torcedores do Bahia no final de 2006, quando o time não conseguiu superar o Ipatinga e permaneceu na terceira divisão. Na ocasião, 40 pessoas saíram feridas, parte das arquibancadas foi depredada como prenúncio de uma tragédia.
O estádio passou quase todo o ano de 2007, total ou parcialmente interditado, mas foi reaberto pela Sudesb. O resto é história. No último domingo, o Bahia subiu para a segunda divisão, sete torcedores morreram e a Fonte Nova sofreu seu derradeiro golpe.
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Vitórias, derrotas e tragédias
Inaugurada no dia 28 de janeiro de 1951, diante de 25 mil torcedores, a Fonte Nova foi palco de vitórias, derrotas e tragédias. O primeiro triunfo foi do Botafogo, por 1x0 sobre o Guarani, na época dois tradicionais clubes do futebol baiano, corroídos pelo tempo como o próprio estádio. O então governador, Otávio Mangabeira, deu o pontapé inicial para a viabilização do equipamento, ao qual emprestou o nome e de onde se despediu do governo.
O apelido Fonte Nova vingou pela força do uso popular. Dizem os historiadores que, mesmo antes da inauguração, o termo comum já vencia o nome de batismo, graças a três fontes de água que existiam na região. Durante muitos anos, principalmente na década de 60, foi palco para conquistas inesquecíveis de Bahia, Vitória, Ypiranga, Galícia, Leônico e Fluminense de Feira de Santana.
Em 1971, ganhou seu anel superior e a forma com a qual hoje se despede do cenário esportivo nacional. Mais de 6.500 m³ de concreto, 1,2 milhão de toneladas de ferro e 44.989 sacos de cimento foram usados na realização do projeto do arquiteto Diógenes Rebouças. A grandiosidade da obra e o clima de tensão durante a ditadura militar, além da aceleração do ritmo dos trabalhos, provocaram dúvidas sobre a sua segurança.
A população estava receosa. Mesmo assim, 90 mil ingressos foram vendidos e, diante do presidente Emílio Garrastazu Médici, ocorreu o que ninguém esperava, mas muitos temiam. No dia 4 de março, um boato ou o sobrevôo de um avião ou ainda problemas na estrutura dos holofotes provocaram uma correria e um tumulto nas arquibancadas, o que deixou pelo menos dois mortos e dois mil feridos. No entanto, acredita-se que um número bem maior de pessoas tenha perdido a vida naquele dia.
Fonte: Correio da Bahia