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terça-feira, junho 08, 2021

Bolsonaro quer Crivella como embaixador, mas ele não pode sair do país e está com passaporte apreendido


Crivella e Bolsonaro

Marcelo Crivella procura seu passaporte, mas não acha

Lauro Jardim e João Paulo Saconi
O Globo

O Itamaraty quer fazer de Marcelo Crivella embaixador do Brasil na África do Sul. Beleza. Mas mesmo se o governo sul-africano der o o.k. e ainda que o Senado aprove o nome do ex-prefeito que não conseguiu passar o cargo ao sucessor por que estava preso, restará outro obstáculo a ser superado.

Talvez o Itamaraty tenha esquecido, mas na decisão que, em fevereiro, livrou Crivella da prisão domiciliar, Gilmar Mendes foi cirúrgico: o bispo estava proibido de deixar o país. Mais: foi obrigado a entregar o seu passaporte à Justiça.

LIVRO DE CRIVELLA – Após o convite de Jair Bolsonaro, o nome de Marcelo Crivella terá de ser aprovado no Senado e submetido às autoridades da África do Sul para se tornar o novo embaixador do Brasil em Pretória. Se tiverem acesso ao livro “Evangelizando a África”, que o bispo da Igreja Universal escreveu em 1999, o governo sul-africano pode acabar pensando duas vezes antes de aceitar a indicação.

Na obra, Crivella relata uma década de trabalho como missionário evangélico em países do continente. Sem comprovações, afirma que as religiões que encontrou por lá praticam o sacrifício de crianças e ainda sugere que “as tradições africanas permitem toda sorte de comportamento imoral, até mesmo com crianças de colo”.

Também há a afirmação de que os cultos que envolvem o sacrifício de animais em ofertas a entidades são um “ritual satânico que deve ser evitado”.

FEITICEIROS E BRUXOS – Ao mencionar os praticantes dessa fé, os editores do livro, na introdução, os classificam como “feiticeiros e bruxos, conhecidos no Brasil como pais, mães e filhos-de-santo”.

Quando essas e outras palavras vieram a público, na campanha de Crivella à Prefeitura do Rio, em 2016, o então candidato se desculpou, com foco sobretudo nas ofensas que também fez ao catolicismo. Na mensagem, reforçou o preconceito diante dos espíritas ao dizer que, na época em que escreveu o livro, vivia num “ambiente de guerras, superstição e feitiçaria”.

Crivella poderá ter uma nova oportunidade de se retratar. Caso o governo decida prosseguir com a indicação, ele será sabatinado pelo Senado, onde trabalhou por dois mandatos. A propósito, será que a Funag, a fundação de estudos do Itamaraty, que publica diversos livros, se animará em editar a obra máxima do pensamento de Crivella?


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