Notícia publicada na edição de 04/11/2007 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A
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Toda vez que um petista rejeita a proposta do terceiro mandato em público, aí incluído o presidente, engata logo a defesa do fim da reeleição com aumento de quatro para cinco anos no período de poder
Enquanto na cena principal o PT expõe idéias para dar ao presidente Luiz Inácio da Silva a oportunidade de disputar o terceiro mandato consecutivo, nos bastidores petistas e tucanos conversam a respeito de uma proposta intermediária: fim da reeleição com instituição de cinco anos de mandato valendo já para Lula.
Significa prorrogação, tema espinhoso e de difícil aceitação. Lançado ao debate agora, por exemplo, o tema daria margem a que os atuais prefeitos reivindicassem a mesma regra.
Por isso, a idéia inicial seria manter as conversações em sigilo, deixando o lançamento da tese do fim da reeleição para depois da eleição municipal de 2008.
Oficialmente, não há nada além de um debate quase acadêmico. Na prática, porém, PT e PSDB já deram início, não aos entendimentos, mas às sondagens de parte a parte.
O governador de São Paulo, José Serra, chamou o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, para um almoço no Palácio dos Bandeirantes, para discutir, entre outras coisas, esses assuntos. Pimentel, que já havia conversado com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, a respeito, saiu do Bandeirantes com a nítida sensação de que Serra mandava um recado para o "chefe", o presidente Luiz Inácio da Silva, bem entendido.
Com essas conversações em marcha, não é de todo fora de propósito imaginar que quando o PT põe na mesa propostas que ensejam a possibilidade de um terceiro mandato para Lula esteja, na realidade, alimentando um "bode" para negociar o fim da reeleição com cinco anos de mandato para prefeitos, governadores e presidente, mas com um adendo: para Lula ou, no máximo, os governadores, haveria prorrogação de um ano, deixando a sucessão para 2011.
Faz toda lógica, se examinarmos o conteúdo das recentes propostas dos deputados Devanir Ribeiro e Carlos William. Nenhum dos dois donos de um grão de arroz de independência em relação ao Palácio do Planalto.
De um lado, Devanir propõe um plebiscito para que a população decida sobre o mandato consecutivo ao mandato em curso. De outro, Willian sugere emenda constitucional para prorrogar todos os períodos (vereadores, deputados, prefeitos, governadores, senadores e presidentes), unificando-os em cinco anos.
Uma proposta teria o condão de criar o "bode" e a outra de abrir o debate sobre prorrogações generalizadas. E, como é para todos, haveria disposição de negociar. Os senadores, por exemplo, não aceitariam ficar com cinco no lugar de oito e talvez não se fizesse a prorrogação unificada. Agora, para iniciar uma conversa e derrubar resistências, a proposição serviria perfeitamente.
Veja o leitor como faz sentido: toda vez que um petista rejeita a proposta do terceiro mandato em público, aí incluído o presidente, engata logo a defesa do fim da reeleição com aumento de quatro para cinco anos no período de poder.
Os tucanos também se manifestam de acordo. O que ninguém assume é a discussão sobre o acréscimo de um ano para Lula. Ninguém, não. O governador Aécio Neves, no meio de conversas sobre o tema, chega a admitir a hipótese. "Dependendo, podemos dar um ano a mais para ele", disse na semana passada assim "en passant" enquanto falava sobre as negociações em torno da CMPF.
Já o governador José Serra esconde mais o jogo. Fala sobre o fim da reeleição, empurra a discussão para depois da eleição de 2008 (a fim de não incluir os prefeitos, claro) e rejeita a hipótese de os cinco anos valerem logo para Lula. "Seria só a partir do sucessor."
Mas para Fernando Pimentel no almoço em São Paulo, admitiu com todas as letras que o PSDB pode negociar o fim da reeleição nesses termos. Até porque, na avaliação dos personagens envolvidos nas negociações, há a convicção de que cinco anos só para o próximo não passa pela maioria governista no Congresso.
Da parte de Lula, ainda não foi dado o sinal verde explícito para entendimentos oficiais. Seus correligionários aguardam apenas uma palavra do presidente para tocar adiante. E nem precisa ser uma ordem expressa, basta que ele diga algo como "é uma boa proposta".
E que vantagem levariam os tucanos? Primeiro, eles não estão a fim de briga com Lula. Acham que a popularidade dele se sustenta e que não vale a pena partir para o confronto nem como tema de campanha. Serra, aliás, já fez saber ao Planalto que, sendo candidato, não se posicionará como o anti-Lula.
Em segundo lugar, ajeitariam as coisas internamente. Sem reeleição, Serra poderia disputar a próxima e Aécio a seguinte.
Os petistas apresentam uma contraproposta: Serra na próxima, Lula na seguinte e Aécio aguardaria a vez na subseqüente.
Tudo muito bem arrumadinho, mas como se sabe, combinar com os russos é imprescindível. Quem garante que as bases tucanas e petistas concordariam em ceder a vez uns aos outros assim, de forma tão civilizada?
E o eleitor, posto diante do plano, concordaria em ser mero avalista em detrimento do papel de protagonista?
Por essas e mais outras, não se sabe se dará certo, mas é sobre o que se conversa atualmente.
Fonte: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=48&id=34456
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