Publicado em 5 de maio de 2023 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O ex-presidente Jair Bolsonaro, com a sua participação evidente na fraude praticada em seu atestado de vacinação, explodiu por três vezes o bolsonarismo, retirando de seus aliados qualquer argumento em seu favor e qualquer hipótese de investida contra o governo Lula da Silva, como estava planejado ao longo dos trabalhos da CPI do Congresso Nacional.
As ações do MST, por exemplo, que no fundo são prejudiciais ao presidente da República, se diluem no mar de ilegalidades e profundas contradições que marcam a atuação política e também pessoal de Bolsonaro. Afinal de contas, um presidente da República participar de um esforço fora do comum para obter um atestado falso de que foi vacinado, atitude na qual envolveu sua filha menor de idade, transforma-se em um episódio que se pertencesse à ficção seria considerado um absurdo completo.
EMPENHO – Mas, o absurdo completo aconteceu, na realidade, através de um assessor direto, o tenente-coronel Mauro Cid, empenhado para conseguir atestados falsos contra a Covid-19. O propósito de falsificar ficou nítido com a iniciativa de apagar a falsa vacinação no sistema do SUS na internet.
Apagou-se o fato criminoso, mas o ato foi praticado por alguém envolvido na operação criminosa. Tudo isso para iludir e desrespeitar não só a legislação brasileira, mas a lei dos Estados Unidos. Seria mais fácil, Jair Bolsonaro vacinar-se. É quase inexplicável à luz da Psicologia a sua reiterada obsessão contra uma vacina que salvou milhões de vidas humanas.
CLOROQUINA – O governo Bolsonaro queria adquirir cloroquina e chegou à hipótese de importar uma vacina da Índia que não existia por preço superior ao do mercado internacional. Este conjunto de fatos sombrios incorporam-se à história do país e torna incrível o fato de Bolsonaro ter sido eleito presidente da República. O bolsonarismo ficou sem argumento.
No O Globo, reportagem publicada na edição desta quinta-feira, é de Daniel Gullino, Dimitrius Dantas, Eduardo Gonçalves, Mariana Muniz, Paolla Serra, Patrick Camponêz e Reynaldo Turollo. Na Folha de S. Paulo, matéria de Marianna Holanda, Renato Machado e Ranier Bragon. No Estado de S. Paulo, de Pepita Ortega, Rayssa Motta, Júlia Affonso, Fausto Macedo, Lorena Rodrigues e Márcio Dolzan. Longa reportagem da GloboNews durante o dia e a noite focalizou o assunto também destacado no Jornal Nacional da TV Globo.
A Polícia Federal apreendeu na residência de Bolsonaro um aparelho celular. O tenente-coronel Mauro Cid teve a prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes junto com outros, homens e mulheres, acusados de participar da ação fraudulenta. O episódio estarrece a opinião pública.
JUROS DA SELIC – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, através do Conselho Monetário Nacional, que tem a participação do ministro Fernando Haddad e da ministra Simone Tebet, decidiu manter os juros da Selic em 13,75% ao ano, e acentuou não ter relação mecânica entre a regra fiscal do governo Lula e a queda da Selic. Com tal afirmação, Campos Neto atirou contra o Palácio do Planalto, já que o projeto de arcabouço fiscal é do governo federal.
Assim, ele se opôs, mais uma vez, ao Palácio do Planalto e sustentou que não irá hesitar, embora tal hipótese seja menos provável, em retomar o ciclo de ajuste (aumentar ainda mais os juros), caso a inflação não caia como o esperado, independentemente do êxito do arcabouço fiscal na votação pelo Congresso do país.
DESAFIO – O Copom assinalou que reforça o caminho de perseverar na política monetária até que se consolide o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas do governo sobre as suas metas. A conjuntura demanda paciência e serenidade. Portanto,verifica-se mais uma vez, um tom de superioridade e desafio do BC ao presidente da República e ao seu governo.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve também elevou os juros do mercado. Só que de 1,5% para 1,75% ao ano. Observa-se assim que os juros básicos nos Estados Unidos são oito vezes menores do que a taxa da Selic brasileira.
CRÉDITO – Acentuando um verdadeiro paradoxo, reportagem de Renan Monteiro, O Globo, revela-se com base em dados estatísticos que os brasileiros e brasileiras estão recorrendo a crédito mais caro para pagar as contas relativas à alimentação e às tarifas públicas. Citados os setores de cheque especial e cartões de crédito que são baseados em juros que atingem até 400% ao ano.
O Banco Central nada diz sobre esse assunto, e a culpa pela inadimplência cabe também aos bancos que investem em larga escala na publicidade, oferecendo principalmente cartões de crédito ao mercado pessoal sem analisar a capacidade de pagamento das dívidas. É mais do que evidente, chega a constituir um crime a sua essência cobrar juros anuais de 400%.