Ruy Castro
Folha
Aos 74 anos, Charles III será coroado dentro de alguns dias rei da Inglaterra. Para quem custou tanto a chegar ao trono, ele parece em grande forma. E um dos motivos é que, por ter levado uma eternidade como príncipe herdeiro, era como se fosse condenado a uma eterna infância. Só isso pode explicar uma notícia desta semana, extraída do livro “The King; The Life of Charles III”, de Christopher Anderson, recém-lançado em Londres.
Segundo Anderson, Charles dorme até hoje abraçado ao ursinho de pelúcia que ganhou em criança. Sim, e qual é o problema? Não há nada errado em passar a vida abraçado a um objeto ou lembrança do passado.
PRIVILÉGIOS REAIS – Claro que Charles, por ser quem é, tem seus privilégios. Seu ursinho dispõe de guardião responsável, carro com motorista e um cirurgião para controlar seus enchimentos e cerzir-lhe as costuras.
Além disso, há sempre um “manservant” para levar o ursinho aonde quer que Charles esteja, dentro ou fora do Reino Unido, e depositá-lo à noite no travesseiro real. Como, pela tradição, reis e rainhas dormem separados, a rainha Camilla não se sente escanteada.
Charles não é o único a trazer o passado consigo para sempre. Frank Sinatra, em sua mansão em Palm Springs, tinha um galpão tomado do chão ao teto por miniaturas de locomotivas e vagões deslizando por trilhos, cruzando cidades, atravessando túneis e apitando, operados pelo controle remoto por um Sinatra fantasiado de maquinista e feliz da vida. Na porta do galpão, a frase: “Aquele que morre com mais brinquedos ganha.”
LEITOR DE TICO-TICO – Ruy Barbosa, o maior coco da República, era leitor da revista “Tico-Tico”. Vinicius de Moraes sempre tomou banho de banheira brincando com patinhos de plástico. E Ronaldo Fenômeno, dizem, fez xixi na cama até tarde.
A infância não é eterna?
Eu próprio coleciono lápis e fósforos de propaganda e não me conformo por ter me desfeito da minha coleção de tampinhas.