Publicado em 20 de maio de 2023 por Tribuna da Internet
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“Que cada um siga sua vida”, disse Bolsonaro sobre Mauro Cid
Pedro do Coutto
O ex-presidente Jair Bolsonaro surpreendentemente foi ao Senado na tarde de quinta-feira e afirmou em relação ao tenente-coronel, Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, que “cada um siga a sua vida”, sinal de que confirmou a sua posição de se dizer absolutamente inocente no caso do atestado da vacina e do empenho em tentar retirar as joias da Arabia Saudita da Receita federal de Guarulhos.
Tenho a impressão de que o comparecimento ao Senado, feito inesperadamente, teve como objetivo ser indagado pelos jornalistas a respeito das investigações e dos depoimentos à Polícia Federal. Aproveitou o momento, revelam Camila Turtelli, Lauriberto Pompeo, Paola Serra e Patrik Camporez, O Globo desta sexta-feira, para dizer que veta a candidatura de seu filho Flávio Bolsonaro a prefeito do Rio nas eleições municipais do próximo ano.
FORA DO PÁREO – Bolsonaro deixou o Congresso sem outras declarações e no final da tarde, numa entrevista à Rádio Jovem Pan, revelou ter conversado com Flávio, convencendo-o a desistir de ser candidato a prefeito do Rio. Flávio Bolsonaro, por seu turno, confirmou ao Globo seu propósito de disputar a Prefeitura. Porém, condicionou a sua vontade ao apoio paterno. O que significa que não será candidato, pois o ex-presidente da República vetou a sua presença na disputa.
Como se observa, a confusão se tornou generalizada no bolsonarismo, ao ponto de Jair Bolsonaro vetar a candidatura de seu filho no Rio. Flávio Bolsonaro, pelo PL, a meu ver, tinha todas as condições de ser candidato. Foi o senador mais votado em 2018 e concorre sem a necessidade de perder o mandato. Mas, como se observa, isso não ocorrerá.
OMISSÃO – O que preocupa no momento o bolsonarismo, e deve preocupar o coronel Mauro Cid é a omissão de Bolsonaro ao dizer que não teve conhecimento de absolutamente nada, incluindo a falsificação do atestado de vacina e o empenho em liberar as joias sauditas. O ex-presidente da República transferiu tacitamente a culpa de tudo para o tenente-coronel.
Na quinta-feira, Cid ficou em silêncio durante o seu depoimento à PF e piorou a sua situação. Afinal de contas, se alguém é acusado de algo do qual não participou, natural seria a sua revolta diante da transferência de culpa. Logo, perdeu a oportunidade de se defender e deixou no ar uma confissão. Ontem, no momento em que escrevo esse artigo, a esposa do coronel Mauro Cid ainda iria prestar depoimento à Polícia Federal. Ela está citada no atestado de falsa vacinação que depois foi apagado no sistema.
MISTÉRIO – É uma sombra no noticiário político. O que terá acontecido que levou Jair Bolsonaro a vetar a candidatura de seu filho Flavio à Prefeitura do Rio nas urnas de 2024. Talvez, o desejo remoto do ex-presidente seja se candidatar ao cargo, já que ele foi bem votado nas eleições de 2022 na cidade.
É a única explicação lógica que ocorre no momento. Pode ser que existam outras justificativas, mas não tenho conhecimento ou indicativo do que possa ser.
CORRUPÇÃO – Reportagem de Breno Angrisani, Diogo Dantas, Laís Malek e Rafael Soares, O Globo de ontem, revela que o esquema de corrupção no futebol envolvendo as apostas das loterias esportivas é muito maior do que parecia ser à primeira vista. Cerca de 20 atletas encontram-se sob investigação e o Ministério Público recebeu numerosos pedidos de busca e apreensão, inclusive de celulares, cujo conteúdo em alguns casos foi divulgado, incluindo diálogos entre diversos jogadores.
O Globo transcreveu os diálogos, incluindo citações à transferências bancárias e de aliciamento. A Comissão Parlamentar de Inquérito que se instala na próxima terça-feira vai focalizar a possibilidade de proibir apostas em pênaltis, cartões amarelos e vermelhos, lances isolados comuns nas partidas. Na minha opinião, é um bom caminho, pois os lances isolados são, no fundo, um incentivo à corrupção, envolvendo agora o futebol que é uma paixão coletiva.