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segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Qual é o plano de Putin na Ucrânia?




Líder russo tenciona tomar inteiramente o país vizinho ou dividi-lo? Ou sua intenção principal será desafiar a Otan? Como o Ocidente deve agir? À procura de respostas, a DW entrevistou especialista da Chatham House.

Por Roman Goncharenko

Desde 24 de fevereiro de 2022, os olhos do mundo, e em especial da Europa, estão voltados para a Ucrânia. Desde 2014, quando a Rússia anexou a Península da Crimeia, as tensões entre os dois países vêm crescendo. E explodiram com a invasão, após meses de acúmulo de tropas nas fronteiras ucranianas, de alegações russas de ameaça por parte da Otan e do reconhecimento pelo Kremlin das "repúblicas" separatistas de Donetsk e Lugansk.

A questão principal que ocupa a comunidade internacional é: aonde quer chegar a Rússia com essa guerra ao país vizinho? A intenção é fragmentá-lo ou anexá-lo inteiramente? Ou a questão é desafiar o Ocidente?

O presidente russo, Vladimir Putin, tem insistido, sem dúvida, que a Ucrânia nunca foi uma nação de pleno direito, apelando para argumentos históricos falhos ou falseados. Tudo parece apontar no sentido de uma ocupação. Mas o que o resto do mundo pode fazer?

A DW entrevistou Mathieu Boulegue, associado do Programa da Rússia e Eurásia, da organização britânica de pesquisas internacionais Chatham House, também conhecida como Royal Institute of International Affairs.

O pesquisador avalia as perspectivas bélicas da Ucrânia na guerra iniciada por Putin, não só do ponto de vista das motivações, como das assimetrias no jogo de forças militares e na disposição e moral entre as duas partes.

Diante de quadro complexo, Boulegue reconhece: "Neste estágio, tentar entender o que está acontecendo é como tentar tirar uma foto em foco num trem a alta velocidade." Mas há uma certeza: "Os ucranianos vão lutar até a morte, se necessário."

"Precisamos de ajuda em massa, para assegurar que sobre algo da Ucrânia, econômica e financeiramente"

DW: A situação das Forças Armadas ucranianas é tão desesperadora quanto parece?

Mathieu Boulegue: Na realidade, a situação não é tão desesperadora assim. As forças russas foram obrigadas pelo exército ucraniano a reduzir o passo em diversos pontos. Está sendo duro para os russos vencer a defesa aérea da Ucrânia, e as tropas ucranianas estão lutando por cada centímetro quadrado da batalha. Isso está ralentando a primeira fase, o primeiro assalto.

Neste estágio, se trata muito de mitigar as consequências e deixar espaço suficiente para a Ucrânia preparar uma contraofensiva, uma vez que as forças russas comecem a realmente avançar. Basicamente, este é apenas o começo da fase um. A fase dois provavelmente será uma invasão terrestre em grande escala, nos próximos dias.

As tropas ucranianas são capazes de defender sua capital?

Kiev é uma situação bem complicada, porque o exército russo provavelmente cercaria a cidade de diversas direções estratégicas. De Belarus, no norte, vimos tropas russas penetrando através de Chernobyl, e a Rússia provavelmente está tentando um movimento de pinça, vindo do leste para cercar Kiev.

A questão é se os russos estão com pressa e decidem avançar bem rápido sobre Kiev, ou se podem se permitir uma lógica de sítio, enquanto prosseguem com as operações. Portanto a batalha poderá ser ou extremamente rápida, ou extremamente sangrenta, dependendo de qual seja a ambição.

Qual seria o plano da Rússia para a Ucrânia? Tomá-la toda ou dividi-la?

Honestamente, sua estimativa vale tanto quanto a minha, a esta altura. No entanto, é um plano maximalista, sejamos realistas. Mas ele será atenuado pela capacidade ucraniana de se defender e por nossa própria reação, do Ocidente. O terceiro fator atenuante é a pouca disposição de lutar das forças russas. Se começarmos a ver erros táticos da Rússia, por uma ausência de moral e disciplina, isso também poderá precipitar os cálculos.

Neste estágio, tentar entender o que está acontecendo é como tentar tirar uma foto em foco num trem a alta velocidade: as coisas estão acontecendo rápido demais para termos uma imagem clara do estágio final, ou do estado final desejado.

O plano da Rússia é ocupar inteiramente a Ucrânia, substituir o governo e permanecer?

O plano não é necessariamente ocupar por completo o país. Os custos de uma ocupação total provavelmente seriam demasiados. Mas acho que os russos de certa forma aceleraram a decisão de avançar sobre Kiev, o que foi sempre uma das ambições para fins de mudança de regime.

Se você tomar a capital, decapitar a liderança política e colocar os seus fantoches, isso altera completamente o mapa dos planos da Rússia. Acho que, por causa da capacidade das forças ucranianas de inicialmente deter o assalto dos russos, o Kremlin talvez tenha acelerado o cálculo de que precisa tomar Kiev o mais rápido possível. Portanto, deve vencer aquela batalha o mais depressa possível.

É possível fazer um prognóstico para os próximos dias e semanas?

Acho que nos próximos dias vamos presenciar a batalha por Kiev, enquanto as tropas russas avançam. E com a fase dois, uma vez que o sistema de defesa aérea da Ucrânia esteja derrotado, nos próximos quatro a cinco dias, haverá a subsequente invasão. Dentro de uma semana, portanto, é provável que vamos ter uma geografia militar da Ucrânia completamente diferente.

O que mais o Ocidente pode fazer?

Se fornecermos armas, o problema é que os russos podem usar isso contra nós. Eles diriam: "Bem, vocês estão enviando sistemas armamentistas, então agora são combatentes, agora também estão em guerra contra nós." Seria uma escalada perigosa. Em sua retórica pessoal, Putin vinha meio que jogando com uma ameaça nuclear. Este é um momento extremamente perigoso, portanto é algo que definitivamente precisamos considerar, no Ocidente.

Isso não significa que sejamos inúteis. Podemos e devemos fornecer assistência militar intensificada, quando se trata especificamente de cibersegurança ou de combater a desinformação – que é uma forma de guerra. Há muito a fazer em termos de assistência financeira. Precisamos de um plano Marshall para a Ucrânia, precisamos de ajuda em massa, para assegurar que sobre algo da Ucrânia, do ponto de vista econômico e financeiro.

Há muito a ser feito no nível humanitário ou militar-humanitário, assistência médica e logística, e assim por diante. É crucial ajudar as vítimas de guerra, os refugiados, os deslocados internos.

A Ucrânia estava mal preparada para o ataque da Rússia?

Não há como se preparar para um assalto destes. Acho que as forças ucranianas estavam tão bem preparadas como podiam. Elas têm tudo a perder, por isso vão lutar até a morte, caso necessário – o que não é o caso dos russos. E temos indicações de que o moral e a disposição de lutar são baixos no exército russo. O país está, por exemplo, forçando os alistados a assinarem contratos para combater, em vez de ficarem nas atividades não bélicas

Então, de certa maneira, estamos vendo uma Rússia desesperada contra um exército menos superior, porém extremamente motivado e disposto. Escutamos o ministro da Defesa da Ucrânia pedir aos civis de Kiev que preparem coquetéis molotov para repelir os agressores. É esse o nível de prontidão e de mentalidade deles. Eles vão lutar até a morte, caso necessário.

Deutsche Welle

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