Publicado em 26 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet
Duarte Bertolini
Quando entrei em grupos de WhatsApp para debater a necessidade de condenar a invasão da Croácia, o assunto predominante era o pronunciamento do vive Hamilton Mourão, que a meu ver tem menos moral do que Bolsonaro, pois continua a fazer parte ativa do governo. Prestes a sair do cargo para ser candidato a senador no Rio Grande do Sul, o general foi humilhado mais vez pelo presidente.
Por mim, não merece o menor crédito. Espero que venha logo para cá e receba uma miséria vergonhosa de votos, condizente com sua postura. Mourão para mim é uma decepção superior até a Bolsonaro, de quem já não se esperava tanto. O general/vice tem dado mostras de adorar as benesses do poder e de não se importar em ser extremamente flexível, vergando-se a cada humilhação, para não perder as tetas do poder.
VIROU UM DESERTO – Sobre o Rio Grande do Sul, infelizmente atingimos o que dizia Oswaldo Aranha e nos transformamos num deserto de homens e de ideias. O motivo não se sabe, mas acredito, com a junção de pequenas tragédias que ao final resulta em uma grande calamidade.
A ruína financeira desnudou uma situação vergonhosa para os gaúchos. Sempre nos orgulhamos de sermos diferentes do resto do Brasil dos políticos que viviam à sombra do Estado e percebemos, com grande pesar, que não éramos diferentes, pelo contrário – o assalto aos cofres públicos e a dependência da iniciativa do Estado eram tão grandes ou maiores do que em outras regiões.
HOUVE ESPERANÇA – O surgimento do PT e a sua força, conquistando prefeituras posições importantes na Assembleia e até o governo do Estado de forma repetida, seguramente reforçaram essa ideia de que o Estado deveria suprir a todos.
Com o PT, pensávamos estar avançando na política brasileira, devido à sua posição moralista, estruturada em sindicatos De trabalhadores, mas na prática percebemos hoje que o partido DE Lula estava rebaixando o nível da política. As lideranças que não se sentiram confortáveis em participar desta guerra suja, permanentemente sem grandes discussões em profundidade, aos poucos foram abandonando a política.
Ao mesmo tempo, a tomada de assalto no MDB por figuras como Orestes Quércia, Newton Cardoso e similares, enfraqueceu a projeção de Pedro Simon, o último grande líder emedebista, guardião da moral e dos bons costumes, que cuidava com mão de ferro do MDB do Rio Grande do Sul, buscava novas lideranças como Germano Rigotto e José Fogaça, entre outros.
ERRO DE BRIZOLA – Com todos os seus méritos de grande político brasileiro, sempre preocupado com o futuro da nação e de seus habitantes, Leonel Brizola cometeu um erro em sua postura de não deixar nenhum grande líder se criar à sua sombra, e o resultado foi que o PDT tem hoje poucas figuras de expressão e disputa eleições com um candidato que nunca foi ligado a Brizola, embora possa até vir a representar o trabalhismo gaúcho.
Sem Brizola, o declínio da qualidade do ensino, motivo anteriormente de orgulho para todos os gaúchos, resultou na formação de militantes políticos despreparados para a discussão das grandes questões nacionais ou estaduais.
O famoso CPEx (Sindicato dos Professores) transformou-se num instrumento de luta ideológica de lavagem cerebral, visando transformar toda criança em ativista do PT, esquecendo de ensinar o que é necessário para difundir a cultura e o conhecimento.
OUTRAS CAUSAS – Dizem que, em ambientes de trevas, qualquer pequena vela parece um holofote. Assim, provavelmente existem muitas outras causas para essa decadência política dos gaúchos, mas é muito difícil para mim escrever sobre isso.
É surpreendente como conseguimos cair a um patamar tão baixo. É só verificar absoluta ausência de políticos gaúchos no cenário nacional. Talvez seja essa situação que anima um despreparado aprendiz de política, como o vice-presidente Hamilton Mourão, a tentar se eleger senador pelo Rio Grande do Sul.
Certamente o general considera que os prováveis concorrentes são ainda piores do que ele.