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domingo, fevereiro 27, 2022

Qual é o impacto das sanções ocidentais sobre a Rússia




Medidas punitivas por EUA e aliados contra regime de Putin, por invasão da Ucrânia, alvejam operações em dólar de principais bancos russos, assim como alguns setores vitais. Porém Ocidente poderá sofrer consequências.

Por Arthur Sullivan

Assim que a Rússia desencadeou seu pesado ataque à Ucrânia na manhã de quinta-feira (24/02), as especulações aumentaram sobre como os Estados Unidos, a União Europeia e a aliança ocidental responderiam em termos de sanções. Uma onda de sanções já havia sido anunciada na quarta-feira, depois que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o envio de tropas às regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia.

Essas medidas foram amplamente descartadas por vários analistas como sendo brandas demais para ter qualquer impacto significativo na Rússia, levando a sugestões de que as sanções mais duras viriam no caso de uma invasão em grande escala.

À medida que a escala da guerra de Putin se tornava aparente na quinta-feira, aliados ocidentais anunciaram várias novas sanções, descritas como "maciças" e "devastadoras".

Atingindo os maiores bancos

Em pronunciamento ao vivo pela TV, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou um conjunto de medidas que, segundo ele, "imporão custos severos à economia russa, tanto imediatamente quanto ao longo do tempo".

Enquanto a primeira onda de sanções dos EUA atingiu instituições financeiras menores, esta rodada atingiu os dois maiores bancos da Rússia: o Sberbank e o VTB Bank, ambos estatais.

O Sberbank detém cerca de um terço do total de ativos bancários russos, mas as novas sanções bloquearão suas transações em dólares daqui para frente. O VTB Bank detém cerca de 16% dos ativos russos e foi integralmente congelado pelas sanções americanas através de "sanções de bloqueio total".

As medidas bancárias dos EUA também visaram três outras grandes instituições financeiras russas, Otkritie, Novikom e Sovcom, bem como pouco menos de 90 subsidiárias de instituições financeiras em todo o mundo conectadas aos bancos sancionados.

De acordo com o governo americano, das transações cambiais diárias das instituições financeiras russas, totalizando US$ 46 bilhões (R$ 237 bilhões), 80% são realizadas em dólares. "Ao cortar os dois maiores bancos da Rússia – que juntos representam mais da metade do sistema bancário total da Rússia em valor de ativos – do processamento de pagamentos através do sistema financeiro dos EUA, as instituições financeiras russas sujeitas à ação de hoje não podem mais se beneficiar da notável alcance, eficiência e segurança do sistema financeiro dos EUA", comunicou o Departamento do Tesouro americano, acrescentando que as ações "terão um efeito profundo e duradouro na economia e no sistema financeiro russos".

Elina Ribakova, vice-economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), disse ao jornal Financial Times, antes do anúncio das sanções, que atingir os maiores bancos "poderia ter efeitos sistêmicos muito importantes na Rússia".

Enquanto isso, após reunião em Bruxelas na noite de quinta-feira, os líderes da UE confirmaram em comunicado  que os 27 países-membros concordam com medidas dirigidas ao setor financeiro. As sanções da UE excluirão do financiamento pela UE o maior banco privado do país, o Alfa-Bank, além de uma segunda instituição. Cinco bancos estatais já estão bloqueados do financiamento russo.

O Reino Unido tomou medidas semelhantes, impondo congelamento de ativos e excluindo bancos russos do sistema financeiro britânico.

Controles de exportação e outras medidas

Biden também anunciou bloqueios de exportação de tecnologia crítica, enquanto a nova lista de medidas da UE deve bloquear a venda à Rússia de aeronaves e peças associadas. Bloqueios de exportação adicionais terão como alvo a tecnologia necessária para equipar refinarias de petróleo.

Outros controles de exportação dos EUA e da UE terão como alvo vários equipamentos usados pelos militares, incluindo sensores, lasers e várias aplicações de telecomunicações. As sanções também visam atingir o fornecimento de semicondutores da Rússia. A TSMC de Taiwan, maior fabricante de chips do mundo, divulgou um comunicado na sexta-feira confirmando que cumpriria as sanções.

As punições não chegam a atingir significativamente o crucial setor de energia da Rússia. O Gazprombank, o terceiro maior banco credor da Rússia e o principal canal para pagamentos estrangeiros de petróleo e gás, escapou de duras restrições. Cortá-lo do sistema financeiro dos EUA pode afetar substancialmente o abastecimento de energia da Europa.

A nova onda de sanções dos EUA também tem como alvo vários outros membros das elites russas, assim como alguns do aliado russo Belarus.

O Tesouro dos EUA "também está sancionando mais elites russas e seus familiares e impondo novas proibições adicionais relacionadas a novas dívidas e ações de grandes empresas estatais russas e grandes instituições financeiras privadas". "Isso colocará fundamentalmente em risco a capacidade da Rússia de levantar capital para seus atos de agressão."

E o sistema de pagamentos Swift?

Houve especulações consideráveis de que a Rússia poderia ser cortada do Swift, o sistema internacional de pagamentos – uma opção que é amplamente considerada uma das mais punitivas disponíveis.

No entanto, parece que os aliados hesitaram em usar essa opção, devido à oposição de vários países europeus, incluindo a Alemanha. "É sempre uma opção, mas no momento essa não é a posição que o resto da Europa deseje tomar", justificou Biden.

A relutância dos países europeus em banir a Rússia do Swift provocou uma reação irada do ministro do Exterior da Ucrânia, Dmytro Kuleba. "Não serei diplomático sobre isso", tuitou. "Todo mundo que agora duvida se a Rússia deve ser banida do Swift tem que entender que o sangue de homens, mulheres e crianças ucranianos inocentes também estará em suas mãos. Cortem a Rússia do Swift."

Ação punitiva, mas impotente para dissuadir

Alexandra Vacroux, diretora executiva do Davis Center for Russian and Eurasian Studies da Universidade de Harvard, disse à DW que a opção Swift teria um "impacto muito sério" na Rússia.

Ela também apontou que limitar a capacidade da Rússia de usar dólares teria um efeitos semelhantes. No entanto, advertiu que os movimentos mais severos contra a Rússia também prejudicariam o Ocidente.

"É claro que isso também será muito ruim para a Europa, porque se eles não puderem pagar pelo gás russo usando bancos correspondentes que usam dólares na transação de compra de petróleo e gás da Rússia, isso causará estragos nos mercados de gás e possivelmente resultará no corte do fornecimento de gás no inverno."

Vacroux considera vital os aliados ocidentais imporem sanções severas à Rússia, mas alerta que elas só terão efeito punitivo nesta fase. "Como impedimento, elas são completamente ineficazes. utin não se importa com o impacto econômico dessa invasão. Isso não vai impedi-lo de fazer o que planeja fazer."

"Ao mesmo tempo, é preciso puni-lo de alguma forma, e se não for combatê-lo com tropas, terá que combatê-lo de outras maneiras. Instrumentos econômicos são tudo o que temos. Não estou dizendo que não se deve usá-los, mas que eles não vão impedi-lo de continuar a invadir a Ucrânia."

Deutsche Welle

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