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domingo, fevereiro 27, 2022

Troca na Polícia Federal amplia o poder do ministro da Justiça no governo Bolsonaro


Imagem analisada visualmente

Delegado Márcio Nunes vai ampliar a blindagem presidencial

Malu Gaspar
O Globo

Se pudesse ter escolhido ele mesmo o diretor-geral da Polícia Federal quando se tornou ministro da Justiça, Anderson Torres nunca teria optado por Paulo Maiurino. Os dois assumiram seus cargos em abril passado no mesmo dia, em abril de 2021, logo após a tumultuada saída de Sérgio Moro do cargo.

Seu preferido sempre foi o ex-superintendente do Distrito Federal, Marcio Nunes, amigo pessoal, que ele nomeou secretário-executivo e agora, diretor-geral (ou DG, como se diz em Brasília).

PODER CONSOLIDADO – Com a troca, Torres consolida seu poder sobre uma área vital para a sua pasta. Espera-se agora que sejam remanejados também alguns superintendentes da corporação em estados considerados chave para o governo neste ano eleitoral.

No final de janeiro, o ministro da Justiça indicou também o novo corregedor-geral da Receita Federal, substituindo o anterior, que contrariou Flávio Bolsonaro ao comandar uma investigação mostrando que não houve nenhuma ilegalidade nas apurações do órgão sobre o caso das rachadinhas.

O avanço de Torres representa uma vitória da ala mais próxima à família Bolsonaro, que nomeou Maiurino em um dos mais tensos momentos de sua difícil relação com o Supremo Tribunal Federal.

REDE DE INTRIGAS – Maiurino, que tinha sido assessor de José Dias Toffoli na presidência do Supremo Tribunal Federal e do ministro Humberto Martins no Superior Tribunal de Justiça, era visto como uma opção “política”, de acomodação entre os poderes.

Com esse status, Maiurino nem sempre consultava Torres e por vezes despachava sozinho com o Bolsonaro, o que deixava o ministro bastante irritado.

Torres, muito mais bolsonarista do que Maiurino, também aproveitava as operações que ocorriam à revelia do DG  – como as que miravam o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles ou os inquéritos contra o próprio Bolsonaro –– para lembrar ao presidente da República que ele não tinha controle total da PF.

MAIS DESGASTE – Nesse contexto, as ações de Maiurino para atender aos interesses do governo –– como a varredura em busca de informações de investigações que apontassem para fraudes em urnas eletrônicas, ou o desmonte do setor de inquéritos contra autoridades com foro privilegiado no Supremo, ou ainda a nota oficial contra o ex-juiz da Lava Jato e agora presidenciável Sérgio Moro –– só geraram mais desgaste com os delegados.

As razões para a troca ser feita neste momento ainda não estão claras, mas três delegados com cargos na hierarquia da PF a quem consultei dizem que uma delas seria a decisão do ministro da Justiça de não concorrer a deputado pelo Distrito Federal em 2022, como ele vinha cogitando.

Ao decidir ficar até o final do governo, apostando na vitória de Bolsonaro, Torres teria ganhado o direito de escolher seu próprio DG. Outra razão teria sido o fato de que as atenções da opinião pública estão voltadas para a guerra da Ucrânia, em pleno Carnaval, e a troca chamaria menos atenção do que em circunstâncias normais. Tais fatores certamente contaram, mas quem conhece bem a PF aposta que há mais por vir à tona. E não vai demorar.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
 Malu Gaspar, sempre bem-informada, diz que a troca na Polícia Federal amplia o poder do ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Em tradução simultânea, isso significa que a troca na PF amplia também a blindagem da família Bolsonaro e de seus amigos, conforme o presidente da República deixou bem claro naquela reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando Moro deixou o governo. Aliás, na época o Planalto declarou que a reunião não havia sido gravada, mas a mentira era tão primária que a gravação apareceu alguns dias depois, lembram? (C.N.)

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