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terça-feira, maio 05, 2009

O pênis e o tênis

Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil
A alemã Sarah Gromert está eufórica. Teve ganho de causa. Qual o caso da causa? Sarah Gromert nasceu possuidora e possuidor de dois sexos. O masculino e o feminino. Claro. Aquilo que as pessoas cultas chamam de hermafrodita.
Há 3 anos, quando Sarah Gromert tinha 19 anos, ela, juntamente com o ele que dele, ou dela, faziam parte, compareceu, ou compareceram, diante dos instrumentos cirúrgicos que lhes deixaram, como todos nós, com um sexo só. No caso, como o nome indica, o feminino. Há pouquíssimas Sarahs do sexo masculino. Que eu me lembre, no momento, só conheci um Sarah. Prefiro, no entanto, não falar disso.
Recapitulando. Agora, com 22 aninhos, Sarah passou pelo teste conhecido como "verificação do gênero para determinação do status sexual", instituído pela Associação Feminina de Tênis. Passou com nota 10. Não deu outra coisa: é mulher mesmo. Ninguém mais Sarah do que Sarah Gromert.
Oficialmente, ela pode competir em qualquer torneio profissional como mulher. No ranking mundial, Sarah não é propriamente uma estrela de primeira grandeza. Está no 555º lugar. Lá embaixo. Mas com muita honra, sim, senhor. Ou senhora, conforme é mais apropriado.
Há, no entanto, uma controvérsia em torno de Sarah Gromert e seu gênero agora oficial. Diversos players (não há jogadores ou tenistas; são todos, por tradição, players) e treinadores reclamam do fato de que a 555ª. colocada na lista mundial leva uma vantagem injusta.
O tênis, também um esporte de reis, e rainhas, claro, é exigente em suas regras, modos e maneiras. Dizem, pois, esses descontentes, que Sarah Gromert, com seus 19 anos de sexo duplo (não, antes não podia concorrer nas duplas mistas), apurou mais do que devidamente seus músculos até então bissexuais. Tornando, assim, seus saques talvez até mais poderosos do que os da campeoníssima Venus Williams, que passou a vida toda brincando, estudando e treinando nos esportes com um sexo só, conforme é fato sabido.
Schlomo Tzoref, técnico da player Julia Glushko, não fez por menos: "Quando soube de sua história, fiquei em estado de choque." Ninguém reportou em que estado ficou Julia. Divulgado foi o fato de que Sarah Gromert derrotou Julia Glushko, que, é de se supor, deve ficar abaixo do 555º lugar no ranking mundial.
Vida difícil a das tenistas. E dos técnicos também. Tzoref ponderou ainda: "Não sei se é justo ou não ela competir. Porém, se foi essa a decisão da Associação Feminina de Tênis, quero crer que essa é a melhor decisão." Schlomo Tzoref, com essa ressalva, manteve altos os padrões éticos que regem o belo esporte.
Para os que acompanham tênis, mudança de sexo não chega a ser novidade. É quase como aquela hora em que os players pedem - arram! - bolas novas. Faz parte do game. Nos anos 70, Renee Richards, ex-Richard Raskin, foi o primeiro, ou a primeira, transsexual a competir profissionalmente tendo chegado à 22ª. colocação no ranking mundial. Renee Richards teve de recorrer em 1977 ao Supremo Tribunal de Nova York para obter seu ganho de causa. No mesmo ano venceu um torneio tido como importante.
Mais perto de nós (falar nisso: que fim levou o Guga?), logo ali, no Chile, na última semana de abril, outra/o transsexual, Andrea Paredes von Roth, née Ernesto Paredes, foi eliminada do Torneio de Futuros, em Buenos Aires, pela britânica Nicola Slater, que dominou a partida e, desde nascença, só conheceu, no sentido de só ter, um único sexo, o feminino. E, até onde se sabe, pretende continuar pertencendo a ele.
Fonte: BBC Brasil

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