Marcelo Brandão Redação CORREIO
O soteropolitano considera a polícia baiana ineficiente, segundo pesquisa de opinião pública realizada pelo Instituto Maurício de Nassau, pertencente à faculdade pernambucana de mesmo nome. No estudo, 68,5% dos 1.108 entrevistados acreditam que a polícia não pode protegê-los dos criminosos. O descrédito da população sobre a atuação policial é tão grande queumpercentual alto dos entrevistados que foram vítimas de crimes afirmaram que não registraram queixa em delegacias. Dos 29,4% que declararam já ter sofrido assalto em via pública de Salvador, 49,2% não procuraram a delegacia para fazer o boletim de ocorrência. Entre o universo de soteropolitanos que tiveram a casa roubada, 37% também não foram sequer à delegacia. A pesquisa detectou que nos casos de vítimas de agressão física, o índice de pessoas que não registram a queixa é ainda maior: 59,4%. Para o coordenador da pesquisa, o professor Adriano Oliveira, doutor em ciência política, as pessoas não procuram as delegacias após seremvítimas deumcrime porque não acreditam na eficiência do trabalho policial. “Forma- se um ciclo negativo: os policiais não conseguem prender os bandidos quando o cidadão procura a delegacia, então, as vítimas deixam de procurar a polícia porque não acreditam que vão obter resultados”, explicou o professor. Esse é o caso do proprietário de um mercadinho no bairro do Pau Miúdo, que já foi assaltado cerca de 40 vezes. O comerciante, que prefere não revelar o nome por medo de represália, conta que só registrou queixa na delegacia do bairro algumas vezes, mas, comoos policiais nunca prenderam os bandidos, acabou desistindo de informar o crime. “Eu já estou acostumado, geralmente tenho um prejuízo deR$1mil,entre o dinheiro do caixa e os equipamentos que eles roubam”, lamentou. Para a professora universitária Heloniza Costa, uma das coordenadoras do Fórum Comunitário de Combate à Violência (FCCV), o descrédito da população com a polícia está ligado à baixa qualidade do atendimento que as pessoas recebem. A deficiência na qualificação dos policiais, a corrupção entre agentes e policiais militares e a falta de estrutura estão entre os principais problemas citados pela especialista. Pouco eficienteEntre os entrevistadosqueregistraram queixa de crimes sofridos,um índice significativo de fontes garantiu que a polícia não prendeuosautores.Dentrodo universo que revelou ter sofrido assalto na residência, 55,7% afirmaram que os bandidos não foram presos, mesmodepois de prestaremqueixa na delegacia. Entre as vítimas de agressão física, 66,2% garantem que os agressores não foram capturados. O mesmo ocorre com pessoas assaltadas nas via públicas de Salvador. Delas, 63,7% disseram que seus algozes não foram detidos, apesar de terem denunciado o crime em delegacia. Entre os entrevistados que disseram conhecer alguém que foi assassinado em Salvador,55,8% falaram que a polícia não prendeu o homicida. A pesquisa foi realizada entre os dias 14 e 15 de abril, com 1.108 pessoas que residem em Salvador. O estudo tem nível de confiança de 95% e margem de erro de 3,5 pontos percentuais. A amostra foi definida com base nos dados doInstituto BrasileirodeGeografia e Estatística. Policiais culpam o governo Representantes sindicais dos policiais culpam o estado pelo descrédito da população com a polícia. Para o presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipoc), Carlos Lima, a responsabilidade pela avaliação negativa da polícia é a má gestão do governo. O sindicalista Marco Prisco, integrante da Associação Nacional de Praças da Polícia Militar (Anaspra), concorda que o problema está na gestão do estado. “O policial não temculpa, o responsável é o governo, que não sabe gerir a segurança pública”, analisou Lima. O representante dos policiais civis, categoria que está realizando paralisações para reivindicar aumento salarial, reclama da má remuneração dos agentes, motivo que gera falta de estímulo para trabalhar, segundo ele.“Os policiais estão desmotivados e a maioria faz ‘bico’ para complementar a renda”, explicou. Além de reclamar da questão salarial, Prisco criticou também a falta de estrutura de trabalho e capacitação deficiente dos PMs. “O resultado da pesquisa não me surpreende, a polícia está falida, falta efetivo, falta estímulo para os policiais trabalharem e a maioria dos PMs não faz sequer uma reciclagem durante toda vida”, atacou o militar. Pesquisa de opiniãoSem proteção - 68% dos 1.108 entrevistados não acreditam que a polícia possa defender-lhes dos bandidos. Apenas 26% achamque a polícia é capaz de proteger a população.Nunes contesta estudo Questionado sobre o descrédito da população em relaçãoà atuação da polícia, o secretário de Segurança Pública, César Nunes, respondeu por e-mail, que os índices de violênciavêmapresentandouma redução este ano, fato que demonstraria que o trabalho da polícia vem surtindo resultados. O secretário questionou também os números. “Como essas pessoas que sequer estiveram numa delegacia para registrar queixa podem saber se os criminosos que os assaltaram foram ou não presos? Esses números obtidos pela pesquisa são questionáveis”, argumentou Nunes. Segundo o secretário, de janeiro a abril deste ano, foram registrados em Salvador cerca de 800 casos de roubo a transeunte a menos do que no mesmo período do ano passado. A quantidade de assaltos a residências também caiu, segundoele, 22,4%. No entanto, os números desses crimes não foram informados pelo titular da pasta de Segurança Pública. Para rebater o dado da pesquisa de que 55,8% dos entrevistados afirmam que os autores de assassinatos não são presos, Nunes respondeu que nos primeiros meses do ano foi registrada uma diminuição no número de homicídios em todo o estado. Entretanto, o número de assassinatos ocorridos este ano também não foi informado pela Secretaria de Segurança. O representante do estado responsabilizou governos anteriores pela atual situação de segurança pública na Bahia e afirmou que os índices de criminalidade vêm caindonaatualgestão,porque o setor é tratado como prioritário pelo governador Jaques Wagner (PT). Nos primeiros dois anos da atual gestão, a quantidade de assassinatos cresceu exponencialmente: em 2007, primeiro ano da administração de Jaques Wagner, o número de homicídios cresceu 33,5% em relação a 2006. Já em 2008, a alta foi de 32,9%, em comparação a 2007.(Notícia publicada na edição impressa de 30/05/2009 do CORREIO)
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