Por Hieros Vascncelos
As mordomias do traficante Genilson Lino da Silva, o Perna, acabaram de uma hora para a outra, e a mudança de “moradia” foi radical. De geladeira duplex às marmitas de alumínio, de uma televisão de plasma à escuridão da custódia, de uma bicicleta ergométrica a um minúsculo espaço em metros quadrados. O traficante Perna sente na pele as mudanças em sua rotina. Além dessas mordomias, ele também perdeu aquilo que rodeia o imaginário de muitos homens: ter as mulheres para favores sexuais a qualquer hora. A operação Big Bang, desencadeada na última segunda-feira pela Secretaria de Segurança Pública e Ministério Público, desmontou todo o esquema de tráfico do condenado, além de descobrir que ele guardava R$280 mil debaixo do colchão. Agora Perna dorme sozinho, algemado às grades da cela da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE), no Complexo Policial dos Barris, e sob seu corpo encontra o chão duro, sujo e frio. Retirado do paraíso e colocado no inferno, Perna está sofrendo na pele tudo aquilo que outros detentos já passaram, muitos deles com acusações de crimes de menor proporção do que os cometidos por ele. Sente na pele a dor que ele mesmo impõe a colegas de prisão que não têm dinheiro para pagar por um colchão, um dos produtos vendidos por ele na Penitenciária Lemos Brito. No xadrez da DTE ele não encontra mordomias. Dorme e faz as necessidades fisiológicas no chão, e até ontem, sem papel higiênico. Ele sequer tem o direito de tomar banho de sol, além de ter passado os últimos três dias sem escovar os dentes. A advogada do traficante, Raidalva Simões de Freitas, esteve ontem na custódia da DTE para entregar ao cliente materiais de limpeza pessoal. Papel higiênico, sabonete, escova de dente, toalhas limpas e um desodorante foram levados pela criminalista até a cela de Perna, depois de passar por minuciosa e cuidadosa revista. O desodorante, entretanto, não entrou na custódia. O delegado titular José Carlos Habib explicou a proibição. “Existem presos que utilizam o desodorante rollon para fazer uma espécie de arma. Assim como a escova de dente. Essas são medidas que tomamos em relação a todos os presos”, informou Habib. As celas da DTE estão vazias, exceto a que Perna ocupa, desde a última tentativa de resgate de presos comandada por Perna, quando ele ainda estava na penitenciária. Só existem presos na custódia da Delegacia de Homicídios, também no Complexo. Habib acrescentou ainda que as visitas de familiares não acontecerão até que ocorra a transferência do traficante, considerado de alta periculosidade. A criminalista Raidalva Simões de Freitas, advogada de Perna, considerou absurda a medida do Ministério Público de transferir o traficante para uma penitenciária de outro Estado. Segundo ela, essa medida serve para evidenciar a deficiência do sistema prisional da Bahia. “O Estado tem que melhorar o sistema, ao invés de divulgar a deficiência pelo qual passa para o Brasil inteiro”, reclamou. Ela questiona a transferência e pergunta para que serve a Unidade de Regime Disciplinar (UED), onde presos de alta periculosidade cumprem pena. A advogada informou ainda que vai intervir no pedido de transferência feito pelo MP e pelo Gaeco. “Não fui comunicada dessa transferência. Vou tentar impedir a transferência na Justiça”, alegou. Em entrevistas ao programa de rádio semanal “Conversa com o governador”, Jaques Wagner fez uma avaliação positiva da Operação Big Bang, que cumpriu mandados de prisão e apreensão e em seguida comentou sobre a transferência do preso baiano para uma unidade de outro Estado. “E tudo isso feito dentro da lei, com acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário. É claro que é um passo no sentido de nós desbaratarmos o tráfico de drogas aqui em Salvador” declarou o governador. Sobre a transferência, Wagner afirmou esperar a decisão da Justiça.
Presidiários ameaçam greve de fome
; A informação chegou às redações de uma maneira aparentemente normal. Por telefone. Do outro lado do fio, a voz do homem que se identificou como “Caveirinha”, dizia que os internos de todos os pavilhões da Penitenciária Lemos Brito e dos presídios de Feira de Santana, Lauro de Freitas, Ilhéus, Itabuna e Simões Filho iriam entrar em greve de fome em solidariedade a Genilson Lino da Silva, o Perna. O detalhe é que o informante estava ligando de dentro do presídio, através de um celular. Para confirmar a notícia, mais tarde enviou um fax, de um telefone fixo da PLB. No fax, repleto de erros, “Caveirinha” afirma que “a comunidade carcerária do Estado da Bahia encontra-se inconformada com a invasão da polícia no corpo 4 da PLB, armação constituída em provas montadas contra o companheiro Perna e entramos em greve de fome”. Ele diz que o movimento “é pacífico e ordeiro”, e tem o objetivo de ouvir a juíza da Vara de Execução Penal e um representante do Ministério Público, quando pretendem apresentar reivindicações. Em entrevista concedida ontem a uma emissora de TV, o secretário da Segurança Pública, César Nunes, delegado federal de carreira, deixou claro que o sucesso da Operação Big Bang foi o segredo, confirmando que a Secretaria da Justiça não foi informada, ao comentar a declaração de que teria havido falta de diplomacia. “Sou policial de carreira e sei que uma ação como esta precisa de segredo total”, disse. O temor do secretário era de que se divulgada antes, a operação fracassasse por causa de vazamento de informações. Segundo ele disse, todos os policiais que participaram da ação ficaram sabendo da missão que iam executar minutos antes. Questionado sobre as mordomias dadas ao presidiário Genilson Lino da Silva, o Perna, o secretário afirmou que “isso é problema da Secretaria da Justiça. Nunes afirmou que não há estremecimento entre as duas pastas de governo, mas enfatizou que “peço desculpas se machuquei a secretária Marília Muricy”. E terminou dizendo que a SSP fez o que devia fazer..(Por Josalto Alves)
Transferência é questão de horas
; É iminente a transferência do traficante Genilson Lino da Silva, “Perna”, para uma penitenciária de segurança máxima de outro Estado. Ontem durante toda a tarde, a movimentação foi intensa na Secretaria de Segurança Pública e Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, no Centro Administrativo da Bahia. Apenas a autorização da Justiça Federal emperra a viagem do traficante. A Corregedoria do Tribunal de Justiça e da Vara de Execuções Penais deram o aval. No Complexo Policial dos Barris até o final da noite de ontem, era grande a movimentação de policiais, imprensa e curiosos, mas nenhuma saída foi confirmada. Com faixas de isolamento o ambiente era tenso , principalmente após o anúncio de uma prisão de falso policial que tentava contato com o traficante. Os indícios são fortes de que a transferência se dará para o presídio de segurança pública de Catanduvas, no interior do Paraná, aproximadamente 450 km de Curitiba. Numa concepção praticamente inexistente no Brasil, com presos trancafiados em celas individuais, vigilância eletrônica 24 horas e toda a tecnologia para controlar a entrada e o uso de celulares, armas e drogas, a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Sudoeste do Paraná, recebe os bandidos mais perigosos do País. Eles são isolados, em regime diferenciado e não têm contato com a massa carcerária, exceto no banho de sol diário, em grupos de no máximo dez pessoas. O projeto arrojado da unidade, com capacidade para 200 detentos, lembra o panóptico (uma espécie de observatório central que alcança a todos) da obra clássica moderna “Vigiar e punir”, do filósofo Michel Foucault, que mostra como funciona uma sociedade que vive na base da disciplina. A concepção da Penitenciária Federal de Catanduvas foge do modelo tradicional do sistema penitenciário brasileiro, sendo considerada uma réplica das unidades norte-americanas de segurança máxima, conhecidas como Supermax. E tem semelhanças com a penitenciária de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo, onde os cubículos são individuais, há vigilância eletrônica e isolamento de presos. Traficantes como Juan Carlos Abadía, Luiz Fernando da Costa (Fernandinho Beira-Mar), Márcio dos Santos Nepomuceno (Marcinho VP) e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco (condenado pela morte do jornalista Tim Lopes) estão internos naquele presídio, inaugurado em junho de 2006. (Por Maria Celia Vieira)
Fonte: Tribuna da Bahia
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